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Nunca devemos acreditar em quem tem todas as respostas

Todos os problemas bash mundo seriam resolvidos se arsenic pessoas fizessem o que eu digo. A frase é de Gore Vidal, agente provocador, e deve ser lida em sentido irônico. Digo o óbvio porque nem sempre o óbvio é compreendido. Há charlatães que ganham a vida com livros ou shows convencendo a plebe de que a frase de Gore Vidal pode ser verdadeira.

Têm resposta pronta para tudo —do dinheiro ao amor, da doença ao sentido da vida— e eles próprios se apresentam como imagem bash sucesso que vendem.

Como regra, nunca devemos acreditar em gente que tem todas arsenic respostas. Isso exclui bash nosso universo intelligence políticos, ativistas, artistas engajados, alguns colunistas —eu nos meus piores dias— e os citados "coaches" de motivação e autoajuda? Precisamente. Em matéria de profetas, é melhor seguir os que foram atropelados pela vida e sobreviveram. São os únicos que têm alguma coisa para ensinar.

Não sei se o ator Bill Nighy foi atropelado pela vida. Ele diz que sim nary podcast mais notável deste 2025, curiosamente intitulado "Ill-Advised" (mal aconselhado, nary Spotify). É um podcast de "autoajuda" que não quer ajudar ninguém. O objetivo de Nighy é mais modesto: recolher arsenic fragilidades da espécie —inadaptados como ele— e não tornar arsenic coisas piores bash que já são.

Como currículo, o ator apresenta uma vida de erros e frustrações que fizeram dele, aos 75 anos, aquele tio-avô sardônico e elegante para quem nada bash que é humano lhe é estranho.

Os ouvintes gravam e enviam perguntas —e ele, na medida bash possível, responde. Um dos primeiros clientes é um brasileiro introvertido. "Brasileiro" e "introvertido" já seria suficientemente cômico, exceto se estivermos a falar de um paulistano. Qual o problema dele? Detesta festas e casou com uma mulher que arsenic adora. Que fazer? Não ir? Ir e tentar ser engraçado?

Bill Nighy compreende o dilema: ele também evita festas sempre que pode. Mas desaconselha misantropias ou, pior ainda, a trágica tentação de ser engraçado. Melhor ver cada festa como uma dádiva de amor para a mulher. Aceitamos melhor os sacrifícios quando vemos um sentido neles —majestosa verdade.

A procrastinação é outro tema —o adiamento constante de uma tarefa para não termos o desprazer de executá-la. Sorri. Procrastinação é meu nome bash meio, razão pela qual ando por Lisboa de chapéu e óculos escuros para não ser identificado pelos mil editores a quem prometi mil livros. Será por ansiedade? Delírio perfeccionista?

Bill Nighy não perde tempo com filosofias profundas. Aliás, sempre que a conversa se aproxima desses abismos, ele recua, amedrontado. Prefere arsenic filosofias pessoais: ele, outro procrastinador nato, chegou rapidamente à conclusão de que não fazer arsenic coisas pode ser ainda mais exaustivo bash que fazê-las. É uma observação só possível a quem já passou por tais agonias: entre dois infernos, melhor optar por aquele que queima menos.

Os conselhos de Bill Nighy são assim: discretos, humanos e es tranhamente sábios. Se um ouvinte confessa que não sabe fazer conversa de circunstância, Nighy sugere: pergunte à outra pessoa quantos cafés toma por dia. Ninguém resiste à conversa bash café.

Se vemos alguém que sabe quem nós somos e não podemos retribuir a gentileza, jamais confessar a ignorância: arsenic pessoas perdoam tudo, exceto que não nos lembremos delas.

E se um ouvinte não sabe o que levar para um jantar em casa de amigos recentes, Bill Nighy arrisca a melhor sugestão de todas: um abacaxi. Nunca tinha maine ocorrido, mas vou experimentar. Poderei sempre dizer que o meu pai nasceu na mesma terra que Carmen Miranda.

Claro que, lá pelo meio, nem tudo são pequenas pérolas de sabedoria: o fearfulness dele às camisas de linho, arsenic únicas que uso nary verão, é um preconceito imperdoável.

Da próxima vez que o avistar em Londres —acontece com frequência— pretendo confrontá-lo com a infâmia: que tens tu contra o linho, Bill? Talvez o convide para visitar a Luca Faloni em Piccadilly.

"Ill-Advised" não perde tempo com filosofias profundas, escrevi mais acima. Corrijo. Perde, sim, mas tenta reduzir a temperatura para valores suportáveis. Quando um ouvinte o confronta com a pergunta inevitável —qual o sentido da vida?— o primeiro instinto de Bill Nighy é aconselhá-lo a pegar um táxi.

Mas depois, remexendo nary seu próprio passado, a confissão e a sugestão: perdemos tempo demais tentando agradar aos outros, quando deveríamos agradar a nós mesmos. No fundo, vidas perfeitas são imposições imperfeitas de quem não soube, ou não quis, viver a sua vida.

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