
Crédito, DIVULGAÇÃO/VITRINE FILMES
- Author, Nicholas Barber
- Role, BBC Cultura
Há 22 minutos
Protagonizado por Wagner Moura, o thriller político estreia em grande estilo: já levou dois prêmios no Festival de Cannes: o de Melhor Direção e do Melhor Ator — este último, uma conquista inédita na categoria por uma obra brasileira.
No festival francês, o longa dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho foi aplaudido por mais de dez minutos ininterruptos após a sessão e aclamado pela crítica.
"Uma obra-prima imponente, imersa em história e com uma adoração palpável pelo cinema", publicou o site Playlist.
Ambientado em 1977, durante a ditadura militar brasileira, O Agente Secreto aborda questões como o abuso de poder e ameaças à democracia.
Marcelo, personagem interpretado por Wagner Moura, é um professor de tecnologia que retorna a Recife para escapar de um passado violento. Mas ele descobre que sua cidade natal esconde perigos e segredos inquietantes.
Em entrevista à BBC News Brasil em setembro, Mendonça Filho disse que o filme tem como objetivo lembrar as pessoas dos crimes e atos violentos cometidos durante o regime militar.
"O Brasil, em 1979, passou pela Lei da Anistia, proposta pelo regime na época, em que tudo foi perdoado. E isso eu acho que teve um efeito traumático na sociedade brasileira, que é esquecer para não lembrar", afirmou.
"Acho que a gente tem o dever cidadão de manter a memória, de lutar pela manutenção da memória, seja ela política, cultural, mas esse é um país onde muita gente é esquecida. É muito doloroso o que acontece com esse personagem. Porque essa é a realidade de um país que, lá atrás, preferiu não lembrar."

Crédito, Reuters
O longa também marca o retorno de Wagner Moura ao cinema brasileiro após 11 anos envolvido com produções internacionais.
"Não tinha momento melhor para voltar a filmar em português", disse à BBC News Brasil durante exibição do filme em Recife.
Além de Moura, fazem parte do elenco Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Alice Carvalho e Tania Maria.
Visual exagerado e estética de 'filme B'
O filme se passa na cidade do Recife, durante a semana efervescente do Carnaval, e transborda sexo, tiroteios, matadores de aluguel e carros antigos — e mostra uma perna humana decepada encontrada na barriga de um tubarão.
Mesmo com todo o visual exagerado, com cores vibrantes e uma estética de filme B— de baixo orçamento —, O Agente Secreto está enraizado nas angústias e tragédias reais de cidadãos comuns.
Na verdade, seu herói não é um agente secreto, apesar de Wagner Moura ser tão charmoso quanto qualquer outro superespião do cinema.
O ator interpreta Marcelo, um sujeito pacato que aparece na primeira cena dirigindo seu fusca amarelo com destino ao Recife. Leva cerca de uma hora até que sua identidade e seu passado sejam revelados — o filme não tem pressa —, mas, aos poucos, descobrimos que ele é um professor viúvo que se opôs às tentativas de um funcionário do governo de roubar sua pesquisa patenteada. Um grande erro.
Marcelo agora planeja se reencontrar com o filho pequeno, que mora com os avós, e conseguir os documentos necessários para deixar o país.
Enquanto isso, ele trabalha disfarçado em um cartório, onde espera encontrar ao menos uma prova oficial da existência da sua falecida mãe, e mora em uma casa de dissidentes supervisionada por uma senhora muito comunicativa e protetora (interpretada por Tania Maria).

Crédito, Divulgação
Antes mesmo de chegar ao Recife, Marcelo encontra um cadáver no pátio de um posto de gasolina — um corpo que ninguém se deu ao trabalho de remover —, o que mostra que ele não é ingênuo sobre o quanto a vida está difícil naquele momento, que o filme chama, com um tom de ironia, de "período de grande confusão".
Mas Marcelo fica chocado ao descobrir que um dos seus inimigos antigos contratou dois assassinos para segui-lo, e fica horrorizado com a falta de moral do chefe da polícia local (interpretado por Robério Diógenes).
Kléber Mendonça Filho e seu elenco têm o dom de criar personagens que são ou profundamente honrados ou grotescamente cruéis. O chefe da polícia local se encaixa na última categoria. Quando ele lê na manchete do jornal que 91 pessoas tinham morrido durante o carnaval, ele aposta, sorrindo, que o número logo vai triplicar.
Apesar de todo o perigo e corrupção no ar, Marcelo observa os acontecimentos excêntricos do Recife com um olhar de turista maravilhado.
Ele ri incrédulo de um gato de duas caras, da obsessão de seu filho em assistir Tubarão no cinema, da quantidade de pessoas fazendo sexo em locais públicos, e de uma lenda urbana surreal sobre uma perna decepada que volta à vida e chuta homens em um local de paquera.
Comédia em trama de espionagem
Para alguns espectadores, O Agente Secreto pode exagerar um pouco nesses momentos de humor. Com mais de duas horas e meia de duração, o filme divaga aqui e ali, acompanhando vários personagens que sonham em fugir do Brasil, como os frequentadores do Rick's Café Casablanca.
Mas um dos temas centrais do filme é a questão do que é lembrado e do que é esquecido, e Kléber Mendonça Filho, que cresceu em Recife, parece determinado em registrar, na película, todos esses detalhes peculiares antes que eles sejam apagados para sempre.
Além de trazer mais riqueza e comédia para a trama de espionagem, esses detalhes da época, recriados com tanto carinho, reforçam a melancolia silenciosa que Wagner Moura transmite tão bem em cena: de um jeito ou de outro, Marcelo não vai ficar no Brasil por muito tempo para aproveitar tudo isso.
De toda forma, quando O Agente Secreto parece se desvia demais da trama principal, ele retoma o foco, seja com matadores de aluguel jogando um corpo pela ponte, seja com um contato misterioso que promete falsificar o passaporte de Marcelo.
O thriller político, estiloso e vibrante de Kleber Mendonça Filho entrega tanta ação que compensa a falta de sutileza.
Uma perseguição pelas ruas da cidade, coreografada com maestria, leva a um clímax sangrento e espetacular, mas, assim como em Ainda Estou Aqui, ainda há perguntas perturbadoras a serem respondidas e mistérios a serem resolvidos.
'Estamos orgulhosos do Brasil'
A estreia de O Agente Secreto coroa o encontro artístico entre Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho, que "primeiro se aproximaram por razões políticas", segundo o ator baiano.
De acordo com Moura, o filme foi gerado "num momento difícil pelo qual artistas, universidades e a imprensa brasileiras passaram entre 2018 e 2022", durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
O ex-presidente enxergava setores da imprensa, das artes e das universidades como inimigos ideológicos e promoveu cortes de verbas federais a essas áreas.
Hoje, porém, afirma que o momento político é outro.
"Uma coisa que eu tenho certeza é que, tanto eu quanto o Kleber, estamos muito orgulhosos do momento pelo qual passa o Brasil, as instituições brasileiras, a democracia no Brasil", diz.
"Nos festivais norte-americanos pelos quais o filme passou, a gente sentia uma certa tristeza dos americanos, quase uma inveja", disse em entrevista à BBC News Brasil.
Moura se referia ao julgamento de Bolsonaro, condenado por golpe de Estado e outros crimes. Nos EUA, Donald Trump também foi acusado de liderar uma rebelião contra o resultado eleitoral, mas não só foi absolvido como se reelegeu presidente, em 2024. O presidente americano nega ter cometido qualquer ilegalidade.

Crédito, TIAGO CALAZANS/BB
Vivendo em Los Angeles há sete anos com a esposa e os três filhos, Wagner Moura critica outro aspecto do governo Trump: sua postura com imigrantes sem documentos.
"É um horror, eu conheço muitos imigrantes ilegais. Eu moro em Los Angeles, é uma cidade onde vivem muitos latinos, muitos mexicanos, sobretudo, e as pessoas estão com medo", diz.
"Porque eles atacam a pessoa na rua por uma identificação visual e racial. Se o cara não tiver o documento, o cara não volta para casa nunca mais", diz Moura.
"O que está acontecendo nos Estados Unidos hoje é grave. É um país que deixou de ser mesmo uma democracia e começou a ser um país com tendências autoritárias evidentes", avalia.
Campanha para o Oscar 2026
Em setembro, a Academia Brasileira de Cinema escolheu O Agente Secreto para representar o Brasil na disputa pelo Oscar 2026, desbancando Manas, filme de Marianna Brennand.
Segundo Kléber Mendonça Filho, a campanha pelo Oscar começou em maio, quando o longa venceu as premiações no Cannes e foi adquirido pela distribuidora Neon — a mesma que comprou os direitos dos premiados Parasita (2019) e Anora (2024).
A Neon, inclusive, já promoveu uma sessão exclusiva do filme para membros da Academia do Oscar, em Los Angeles.
Nascido em Recife, em 1968, o Mendonça Filho é formado em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ele já dirigiu 13 filmes, entre curtas e longas-metragens.
O lançamento do filme nos cinemas era algo muito esperado pelo diretor, como contou entrevista à BBC em setembro.
"Eu fui criado num ambiente onde o filme passa em primeiro lugar na sala de cinema. Eu acredito na sala de cinema, na experiência popular do cinema e eu acho também que o streaming deve chegar para fazer parte da vida de um filme que eu faço", destacou.
"Mas eu não quero nesse momento que o meu filme seja em primeiro lugar visto em streaming", acrescentou Mendonça Filho, que disse estar preparando "a melhor versão técnica possível" para quando o filme chegar ao streaming.

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3 horas atrás
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