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O celular pode ser uma ferramenta pedagógica? Educadores debatem proibição

Um ano após a proibição dos celulares em salas de aula de capitais do Brasil, já é possível observar consequências e desafios. De um lado, profissionais discutem sobre o papel da família no controle do uso de tecnologia, perspectivas sobre a proibição e consequências positivas na diminuição da distração dos alunos. Ao mesmo tempo, entendem haver a necessidade de uma educação crítica sobre mídia e tecnologia. Nesse sentido, o TechTudo reuniu, na última quarta-feira (10), especialistas na área de educação para debater sobre o tema no Voices 2025*, encontro sobre comportamento digital e inovação organizado pela primeira vez pela Editora Globo.

Para o papo, foram convidados Antoine Lousão, Débora Garofalo e Thiago Gomide, que conversaram sobre o uso de celular e o ensino sobre tecnologia nas escolas após a proibição do uso do aparelho em âmbito federal. A mesa, chamada "Celular na sala de aula: experiências e desafios após a proibição", foi conduzida por Daniela Tófoli, diretora das marcas de lifestyle da Editora Globo (Quem, Marie Claire, Crescer, TechTudo, Galileu, Monet, Casa e Jardim e Conteúdo Digital da Editora Globo). Confira os destaques do debate, a seguir.

 Victor Bastos/TechTudo Voices 2025 — Foto: Victor Bastos/TechTudo

Celular na sala de aula: experiências e desafios após a proibição

Segundo o Subsecretário Executivo da Secretaria Municipal de Educação no Município do Rio de Janeiro, Antoine Lousão, a proibição vem como resposta a uma "epidemia de distração", e indica que o ideal é que o uso do celular seja compreendido, direcionado e orientado. A Prefeitura do Rio foi uma das pioneiras na proibição, que começou em parte da rede municipal ainda em agosto de 2023. "Há apoio para a escola exercer a autoridade dela em relação a isso", afirmou ele, "e a regra pegou muito rápido".

Segundo pesquisa realizada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, "está demonstrado que onde, de fato, está sendo aplicada [a proibição], tem mais 25% de aprendizagem em matemática e mais de 14% em Língua Portuguesa".

Para o professor de História, colunista d'O GLOBO e criador de conteúdo no perfil "Tá na História", Thiago Gomide, as questões com tecnologia em sala de aula precisam ser abordadas por diferentes perspectivas. O educador afirma que é preciso preparar os professores, que são constantemente pressionados para sair da zona de conforto. "O desafio do professor é entender a hora de usar o celular como ferramenta pedagógica e a hora em que ele deve ser deixado de lado, porque é comprovado que os alunos se perdem, de fato". Ele defende que "o celular precisa ser utilizado como uma plataforma, como um objeto, mas não como um fim".

Para a finalista do Global Teacher Prize, referência em educação e criadora do Robótica com Sucata, professora Débora Garofalo, o assunto ainda tem muitos pontos de melhoria e houve uma mudança notável no cenário das tecnologias em sala de aula entre antes e depois da pandemia de COVID-19. Ela afirma que a maioria das escolas ainda não tem infraestrutura para lidar com tecnologia digital.

"Quando criei o Robótica com Sucata, o celular era a única fonte para ensinar programação para as crianças. Não tinha conectividade na escola, nem computador para todo mundo. E meus alunos tinham muita maturidade, existia uma intencionalidade pedagógica", ela conta. Na opinião dela, a regulamentação deve garantir o direito de aprendizagem das crianças: “a revolução tecnológica é mais rápida que qualquer outra questão, e estamos sentindo isso na pele”

"É um trabalho que não é só da esfera da educação, mas da sociedade como um todo"

Débora e Tiago defendem a educação sobre mídia como caminho vital para criar uma sociedade mais consciente sobre o uso de tecnologia. Para a professora, "mesmo existindo proibição, não adianta a escola proibir e a criança poder passar horas em casa, vendo tudo. É preciso realizar um trabalho de educação digital com a família." Ela indica que "sem dúvidas, trazer o pilar da educação digital é um grande gancho para trazer isso para escola. O aluno precisa ser crítico para levar a educação para dentro de casa".

Segundo Tiago, pais entregam o celular para crianças por diversos motivos, que variam, inclusive, conforme a realidade socioeconômica. "O professor precisa estar preparado para entender que essa barreira vai atravessar a sala de aula", afirma. "Esse aluno não pode ficar distante de uma análise critica". Ao mesmo tempo, acredita que famílias precisam acompanhar a vida digital de menores, até mesmo para afastar possíveis perigos envolvidos com o uso de redes sociais.

"A inteligência dos estudantes não pode ser deixada de lado. Eles são atores de suas proprias narrativas para que sejam críticos aos espaços. É preciso uma grande cadeia de conhecimento para o uso da mídia, algo que hoje está expandido para outros olhares", disse Tiago Gomide.

Débora Garofalo propõe aulas adaptadas às novas gerações: "a gente ainda predomina na aula expositiva, e esses meninos não nasceram nessa era". Para ela, resolver a questão da falta de educação midiática para professores é essencial para aulas mais inovadoras. Ela defende alunos educados para a experimentação, seguindo ideias da cultura maker "dá para ensinar sem moralizar, a partir do momento que a gente ensina esses meninos a experimentarem".

Ainda na esteira da cultura maker, Tiago Gomide lembra que muitos alunos desejam virar produtores de conteúdo, visando, principalmente, a fama. A educação crítica sobre mídia é, para ele, importante para o aluno conseguir lidar com as frustrações relacionadas ao convívio com redes sociais: "reforço a importância da gente ter um trabalho seríssimo de mídia e comunicação, para entenderem que a vida não está resumida em ser uma curtida, um compartilhamento, um salvar".

Antoine Lousão conclui que existem inúmeras barreiras para a educação digital ter sucesso, incluindo capacitação de profissionais e desafios físicos, como falta de conectividade nas escolas. Ele entende que os Ginásios Educacionais Tecnológicos, realização da prefeitura do Rio, conseguem oferecer infraestrutura adequada com menor custo, além de serem uma solução em escala e contarem com professores capacitados para aplicar projetos pedagógicos integrados.

"Você precisa de escolas que já tenham uma infra de conectividade, um espaço para trabalhar, e capacitar os profissionais em cima disso”. Para ele, a educação digital e o uso de tecnologia em sala de aula "são desafios em grande escala, e o desafio maior está na capacitação".

*O Voices é uma iniciativa da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio, com patrocínio da Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Educação, apoio da Zapt, patrocínio das trilhas por Claro Empresas e Insper e parceria da Play9.

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