Vale observarmos alguns dados da economia americana. Em termos anualizados, os EUA apresentam um ritmo de crescimento real em torno de 3% e inflação em 2,9%, este já no dado de encerramento do ano. A autoridade monetária, o Fed (Federal Reserve), tem promovido um ciclo de redução dos juros, hoje na faixa de 4,25% a 4,5% ao ano.
O movimento iniciou-se, no ano passado, tendo em vista o bom comportamento dos preços, não só pelo chamado CPI (índice de preços ao consumidor), como também pela dinâmica do PCE (que congrega itens mais relacionados ao consumo pessoal). Este último, referência para as decisões do Fed, estava pouco acima da meta estipulada por lá (2%), em 2,4%.
A tônica dos discursos de Trump tem sido a de ampliação do protecionismo, com nova política tarifária para brecar importações, além de outras ações contra imigrantes e, possivelmente, uma postura mais ativa nas duas guerras em curso no mundo. Para a economia, incertezas representam riscos e, portanto, podem conduzir a inflação, os juros e os principais indicadores para uma dinâmica oposta à que se observou no período recente.
Os juros americanos mais baixos representam um vetor importante para o resto do mundo. Países como o Brasil, que têm uma conta capital e financeira, no balanço de pagamentos, bastante aberta, sofrem a influência do diferencial de juros (internos e externos), com efeitos diretos sobre a dinâmica da taxa de câmbio, isto é, do preço do dólar medido em reais.
Neste momento, o Banco Central pratica uma elevação da Selic, que deve perdurar ainda por boa parte do ano corrente. Isso ocorre enquanto o Fed reduz os juros americanos, movimento que pode ser interrompido ainda em janeiro, na próxima reunião do Fomc (comitê correlato ao nosso Comitê de Política Monetária, o Copom). Se, com a redução dos juros por lá, nossa vida não estava fácil, a interrupção das quedas dos juros americanos colocará ainda mais pressões por aqui.
A taxa de câmbio tem sido influenciada pelas perspectivas para a evolução da política fiscal, mas também pelo cenário turvo que se desenha com a eleição de Donald Trump. O movimento do real não é, propriamente, dele, mas, antes de tudo, um movimento do dólar.
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