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O mapa da mina: com África, China começa a controlar minério de ferro

A trajetória de Simandou, desde sua descoberta há 27 anos, é marcada por reviravoltas geopolíticas e empresariais. A Vale chegou a controlar a jazida, conforme conta André Guilherme Vieira, autor do livro "O Mapa da Mina" (Kotter, 2021). Na época, o ex-presidente Lula, convidado pela mineradora, viajou à Guiné para fortalecer o acordo. Após a desistência da Vale, um sócio israelense que havia atraído a brasileira iniciou ações judiciais e contratou um parecer do ex-juiz Sergio Moro contra a empresa.

O livro pode ser lido como um thriller geopolítico que aborda, entre outros fatos-chave, dois golpes de Estado na Guiné que alteraram os rumos do projeto. A obra chegou a despertar o interesse da Netflix para uma adaptação, mas essa ideia ficou para trás junto com a ascensão dos chineses —à medida que Pequim transformou Simandou de projeto paralisado em realidade operacional.

A reviravolta tomou cinco anos, com sua integração à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI). Simandou contou com financiamento chinês, além da construção de infraestrutura ferroviária e portuária —elementos essenciais para viabilizar a produção e a exportação. Hoje, empresas chinesas respondem por 75% do empreendimento e "estão com a faca e o queijo na mão", afirma Vieira, em alusão ao controle operacional e comercial do projeto.

O "controle da situação" já havia dado sinais antecipados. A CMRG (China Mineral Resources Group), empresa estatal criada em 2022 para concentrar e reequilibrar as negociações de minério chinesas, suspendeu em setembro as compras de minério à BHP feitas em dólar. Segundo veículos especializados do setor, como o SteelOrbis, a australiana teria cedido à pressão e aceito pagamentos em yuan.

Uma seção dos blocos três e quatro da mina de Simandou, um dos maiores depósitos de minério de ferro do planeta, operada pela joint venture SimFer, da Rio Tinto e seus parceiros, na região de Nzerekore, na Guiné
Uma seção dos blocos três e quatro da mina de Simandou, um dos maiores depósitos de minério de ferro do planeta, operada pela joint venture SimFer, da Rio Tinto e seus parceiros, na região de Nzerekore, na Guiné Imagem: Luc Gnago/Reuters

A Vale, por sua vez, também teria adotado a moeda chinesa em parte de suas transações, conforme cobertura da mídia local chinesa. O Bloomberg, serviço financeiro internacional, não confirmou oficialmente a mudança, mas verificou que a mineradora brasileira ampliou sua relação com a CMRG. Passou a usar a estatal como intermediária para vender minério de ferro, o que fortalece o poder de Pequim no mercado global.

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