Por que os preços subiram? O comunicado oficial do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) menciona uma "menor disponibilidade do produto".
Uma fonte do setor exportador foi mais direta: os preços explodiram não só por causa do tarifaço, mas como reflexo específico mesmo das cotações mais elevadas do mercado nas últimas quatro safras.
Em português claro: o café ficou mais escasso e desejado. A velha lei da oferta e procura operando como sempre.
Agora, o tempero da política comercial. Os EUA impuseram uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro entre agosto e novembro. Resultado: as exportações para os EUA despencaram 54,9% nesses quatro meses.
A tarifa foi suspensa para a maioria dos tipos de café, e o setor espera uma recuperação.
Aqui reside uma ironia. O ex-presidente Trump, ao impor tarifas, teorizava que elas fariam o país exportador "pagar". Podia até ser verdade com relação a produtos que os americanos conseguem produzir ou substituir pelo similar de outros países. Em se tratando de café, deu errado.
Com preços altos no mundo todo, o setor brasileiro teve receita total maior apesar da tarifa. A tarifa de Trump, no fim das contas, parece ter funcionado mais como um imposto inflacionário sobre o próprio consumidor americano.
Incerteza, uma commodity mal precificada
É preciso fazer uma ressalva, porém, à tentadora narrativa de que tudo terminou em lucro. Os dados consolidados não precificam a angústia vivida mês a mês pelos exportadores.
Entre agosto e novembro, enquanto a tarifa de 50% vigorava, cada contrato negociado com os EUA era um exercício de adivinhação: o preço cobriria a mordida tarifária? O cliente cancelaria? O tempo do tarifaço reduziria o mercado americano para o Brasil?
Para muitos produtores, os números se refletiram de uma forma menos glamourosa: entrou mais dinheiro por saca, mas menos sacas foram vendidas. Na conta do banco, foram elas por elas, embora haja sacas nos armazéns à espera de comprador.
A incerteza era uma commodity em si. O anúncio da suspensão trouxe alívio, mas foi um alívio condicional e tardio para quem já havia vivido meses com uma bomba-relógio de dúvida no colo.
Há ainda uma exceção amarga que persiste: o café solúvel. Enquanto os grãos foram liberados, o produto que representa 10% das vendas aos EUA segue tarifado em 50%.
Isso cria uma situação peculiar. O setor comemora a retomada, mas continua uma batalha específica por aquele pó que não precisa ser coado. Uma guerra comercial em miniatura dentro da xícara.
Imposto da ineficiência
Não são apenas as tarifas que atrapalham. A logística brasileira faz sua parte. Em outubro, atrasos em 52% dos navios nos portos causaram prejuízos milionários em armazenagem extra.
No porto de Santos, o principal do país, 73% dos navios atrasaram, segundo o Cecafé. Custo Brasil é a expressão que os economistas gostam de usar para designar o tributo de ineficiência pago pelo setor.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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