O que ainda me surpreende no caso da DM9 em Cannes

Só para relembrar rápido do caso, a DM9 ganhou o maior prêmio da publicidade mundial com uma campanha feita para a Consul em que o consumidor comprava um eletrodoméstico e pagava as parcelas com o mesmo valor que economizava na conta de luz com o aparelho novo.

Para vender seu caso aos jurados de Cannes Lions, a DM9 manipulou as imagens e as vozes de uma jornalista da CNN Brasil e de uma senadora americana. Ícaro Dória, que era co-presidente da agência e cuidava da criação, assumiu o BO, foi mandado embora e assim se resolveu a vida. (Mais ou menos, porque a senadora americana está processando a Whirlpool, dona da Consul, e o grupo Omnicom, rede dona da DM9).

Quando Ícaro foi mandado embora, o mercado inteiro ficou comentando que o CEO da agência, no caso, o Pipo, também deveria ter assumido sua parcela.

Mas Pipo está confortável em dizer que não sabia da manipulação, não tinha ideia do que estava acontecendo e que foi pego de surpresa. Mas, ao mesmo tempo, confessa: "eu sabia que tinha exageros". Claro que ele sabia, o mercado todo exagera nas premiações de Cannes.

Desde o episódio, muito bem assessorado por gestores de crise, Pipo tem tomado boas decisões. Devolveu os leões, não só do caso da Consul, como também de outras duas campanhas manipuladas. Contratou uma mulher, a Yuri Mussoly, como chefe de criação. Lançou um código de ética para uso de IA e diz que a DM9 vai ser padrão ouro no uso do código.

Mas o que ainda me surpreende nesta história da Consul e DM9 em Cannes é que sigo sem a resposta básica que tenho feito desde que o case virou caso: afinal, a campanha da Consul foi ou não foi para a rua? Até agora ninguém conseguiu admitir (nem a agência, nem a empresa) o que todo mundo já sabe.