Vladimir Putin durante coletiva de imprensa na China

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Putin respondia perguntas de jornalistas em uma coletiva de imprensa durante sua viagem à China quando foi questionado sobre uma possível imposição de novas sanções pela Europa contra parceiros comerciais da Rússia. "Como podemos reagir a isso e quem, na sua opinião, sofrerá mais com isso?", perguntou o repórter.

Em resposta, o líder russo disse que praticamente não discutiu o tópico com seus contrapartes chineses durante sua passagem por Pequim porque "francamente falando, isso realmente não nos diz respeito".

"Este evento na Ucrânia é apenas um pretexto, sim, uma solução, para questões de natureza econômica em relação a vários países… laços econômicos com os quais alguém não está feliz", disse Putin, se referindo à guerra em território ucraniano.

O presidente russo então começa a falar das tarifas impostas pelos Estados Unidos a diversos países e afirma que, diferentemente da Índia, também alvo de uma sobretaxa de 50% de Washington, as sanções sobre o Brasil têm relação com "problemas na situação política doméstica".

"Por exemplo, sim, há um desequilíbrio na balança comercial entre os EUA e a Índia. Mas não há um desequilíbrio nas relações comerciais entre Brasil e EUA", disse.

"Em segundo lugar, a data [para o início das taxações] era 8 de agosto, e taxas adicionais foram impostas ao Brasil no dia 6 de agosto. O que a Ucrânia tem a ver com isso? Embora houvesse referências à Ucrânia, o que uma coisa tem a ver com a outra? Nada."

Segundo Putin, a taxação às importações brasileiras pelos EUA tem relação com problemas de alinhamentos políticos internos, "inclusive relacionados à relação entre as autoridades americanas e o ex-presidente Bolsonaro".

O presidente da China, Xi Jinping (C), o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un (D) e o presidente da Rússia, Vladimir Putin (E) chegam para uma recepção no Grande Salão do Povo, após um desfile militar que marca o 80º aniversário da vitória sobre o Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial.

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Legenda da foto, O presidente da China, Xi Jinping (C), o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un (D) e o presidente da Rússia, Vladimir Putin (E) em Pequim

No início de julho, Trump anunciou a imposição de tarifas de 50% sobre produtos importados pelos EUA do Brasil e pediu o fim do julgamento de Jair Bolsonaro.

A medida americana foi comunicada ao governo brasileiro por meio de uma carta assinada por Trump e endereçada ao presidente Lula. Na mensagem, o republicano afirma que o "julgamento não deveria estar ocorrendo" e que é uma "caça às bruxas" contra Bolsonaro.

Trump também citou como motivos para a imposição da tarifa elevada uma relação comercial "injusta" causada pelo protecionismo brasileiro e as decisões do STF que obrigaram plataformas de mídias sociais a bloquear usuários investigados ou acusados por cometer crimes como ameaça e apologia a golpe de Estado — segundo o líder americano, tais decisões seriam "ordens de censura secretas e ilegais".

O governo brasileiro refuta a ideia de que as barreiras comerciais adotadas pelo Brasil contra os EUA estariam desequilibrando o comércio entre os dois países, já que a balança comercial tem sido favorável aos Estados Unidos. O lado americano acumulou saldo positivo de US$ 43 bilhões nos últimos dez anos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

O presidente Lula também classificou as tarifa dos EUA como uma tentativa de interferência no Judiciário brasileiro. "O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém", disse.

Praticamente todos os parceiros comerciais americanos foram atingidos pelo tarifaço de Donald Trump. Mas Brasil e Índia são os únicos países que enfrentam uma sobretaxa de 50%.

No caso indiano, os EUA justificaram a imposição de uma taxa maior com a compra petróleo pelo país da Rússia. O governo americano também chegou a ameaçar com "possível imposição de tarifas semelhantes a outros países que importam, direta ou indiretamente, petróleo da Federação Russa".

A ameaça de Trump em relação à compra de combustível de Moscou, porém, foi feita após a entrada em vigor da tarifa de 50% contra o Brasil. O presidente americano também nunca relacionou diretamente a sobretaxação às importações brasileiras com os laços com a Rússia.

Putin na China

Vladimir Putin foi à China nesta semana para participar de um desfile militar realizado em Pequim para marcar o 80º aniversário da vitória chinesa contra o Japão na Segunda Guerra Mundial.

Em sua passagem pela China, Putin também participou da reunião de cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês) e teve conversas com Xi Jinping.

Havia grande expectativa entre a comunidade internacional de que o encontro entre Moscou e Pequim pudesse ser usado para discutir posições sobre a guerra na Ucrânia — o que explica os questionamentos feitos pela imprensa à Putin sobre negociações e discussões em torno de possíveis sanções contra parceiros comerciais russos.