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- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Há 12 minutos
"Não conseguimos contê-lo quando ele está com raiva, e com a mão no botão nuclear".
Esta foi a mensagem que o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, quis passar ao Vietnã do Norte para fazer seu inimigo acreditar que ele era completamente louco, e seria capaz de fazer qualquer coisa se eles não se rendessem.
O atual presidente americano, Donald Trump, tem uma estratégia semelhante.
Mas, em vez do botão nuclear, uma das principais táticas do segundo governo do republicano é o botão de tarifas.
Em uma reunião com o conselho editorial do Wall Street Journal antes da eleição, o magnata já havia mostrado suas cartas ao responder sobre o que aconteceria se o presidente chinês, Xi Jinping, fizesse algo contra Taiwan, e se ele usaria força militar.
"Não precisaria fazer isso porque ele me respeita, e sabe que sou completamente louco", ele respondeu.
"Eu diria a ele: se vocês forem para Taiwan, sinto muito, mas vou cobrar um imposto (tarifa) de 150% a 200% de vocês", acrescentou.
Ao usar a taxação das importações de produtos estrangeiros como arma, Trump está buscando outros objetivos, como conter os imigrantes indocumentados e o tráfico de fentanil, um analgésico 50 vezes mais potente que a heroína, que provocou uma crise de saúde no país.
Mas, diferentemente dos resultados que pode proporcionar na política externa, na economia é uma jogada muito mais arriscada.
"O que Trump está fazendo é gerar muita incerteza, e isso afeta o crescimento", explica à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, Javier Díaz Giménez, doutor em economia e professor da Escola de Negócios IESE da Universidade de Navarra, na Espanha.
"Conflitos e tensões são sempre contra os negócios, não a favor deles", acrescenta.
As novas tarifas
Díaz Giménez ressaltou que, até o momento, as únicas tarifas implementadas pelos EUA são as tarifas de 10% sobre as importações da China, e que as demais até agora foram apenas anúncios ou ameaças.
Após assumir o cargo em 20 de janeiro, Trump assinou ordens executivas para impor uma tarifa de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses, mas rapidamente as suspendeu por um mês após negociações com os governos de Claudia Sheinbaum e Justin Trudeau, respectivamente.
No início da semana passada, o presidente assinou uma ordem executiva para impor uma tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio a partir de 12 de março.
Inicialmente, ele disse que isso se aplicaria a todos os países, mas depois afirmou que consideraria a possibilidade de isentar a Austrália porque tem um superávit comercial com o país.
E, na última quinta-feira (13/2), anunciou tarifas recíprocas para qualquer país que cobre taxas de importação dos EUA.
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"É justo para todos, nenhum outro país pode reclamar. Tudo o que eles precisam fazer é reduzir suas tarifas ou não cobrá-las", disse ele a jornalistas na Casa Branca.
E na rede social Truth Social ele acrescentou que países com sistema de IVA (imposto sobre valor agregado) também vão pagar tarifas nos EUA, porque o sistema é "muito mais punitivo do que uma tarifa".
Quase todos os países do mundo possuem IVA em seu sistema tributário, com exceção dos EUA e de alguns paraísos fiscais.
Essas tarifas recíprocas podem ser implementadas depois de 1º de abril, segundo o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick.
"Há muita incerteza, portanto, se estou no conselho de qualquer empresa do planeta, eu penso: como isso nos afeta?", diz Díaz Giménez.
"Agora, você precisa administrar um mundo volátil e muito barulhento, no qual você não sabe o que esperar, e isso te distrai do seu negócio", acrescenta o economista.
A 'teoria do louco' em seu primeiro governo
Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre as importações de aço e de 10% sobre as importações de alumínio do Canadá, México e União Europeia.
Porém, mais tarde, os EUA chegaram a um acordo com o Canadá e o México para acabar com essas tarifas, embora os impostos sobre as importações do bloco europeu tenham permanecido em vigor até 2021.
E, também durante seu primeiro governo, ele isentou a Argentina e o Brasil, países com os quais foram acordadas cotas, de tarifas sobre aço e alumínio.
Além disso, ele usou a "teoria do louco" com a Coreia do Norte, quando avisou que responderia com "fogo e fúria" se o país liderado por Kim Jong-un ameaçasse os EUA.
Em um artigo que analisa as diferentes — e, às vezes, contraditórias — mensagens de vários altos funcionários do governo Trump sobre questões como a guerra entre Rússia e Ucrânia ou sua proposta para o futuro de Gaza, o jornalista Tom Bateman, correspondente da BBC no Departamento de Estado dos EUA, diz que a incerteza da política externa pode ser algo deliberado por parte de Trump, e estar alinhada com a "teoria do louco".
"Isso sugere que ser poderoso, mas imprevisível, é uma forma de manter os aliados próximos e, ao mesmo tempo, coagir os adversários. Isso também explicaria a sensação de que seus próprios funcionários estão saindo da linha, mas dentro dos parâmetros das posições amplamente conhecidas de Trump", avalia Bateman.
"Mas, como o nome desta teoria sugere, ela também traz riscos consideráveis de erros de cálculo em um mundo já violento e incerto", ele acrescenta.
Díaz Giménez acredita, por sua vez, que "nos próximos quatro anos, os EUA vão ser um parceiro em que não se pode confiar, porque qualquer coisa pode acontecer a qualquer momento".
"Há um ditado (em espanhol) que diz: Entre bomberos no nos pisamos la manguera (algo como "Bombeiros não pisam nas mangueiras uns dos outros"). Trump está pisando nas mangueiras de todo mundo, e isso é muito arriscado. Pode significar o fim do comércio com os EUA, e que negociem entre si."
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