O que era o 'terceiro mundo', termo antigo usado por Trump para dizer que vai barrar imigrantes?

Os primeiros sinais são de que ele quis indicar um grupo mais restrito. Questionado pela agência de notícias Reuters sobre a quais países Trump se referiu como de "terceiro mundo", o Departamento de Segurança Interna apontou os 19 países que já são alvo de pedido de revisão de Green Cards. A lista não inclui o Brasil - veja mais abaixo.

O termo não é mais utilizado oficialmente, pois o mundo mudou após a Guerra Fria, mas ainda aparece em falas informais, como a de Trump.

O Brasil era incluído nesta antiga divisão como parte do "terceiro mundo", assim como todo o resto da América Latina. Os países africanos, a maior parte dos países árabes, a Índia e parte do sudeste asiático também eram classificados neste grupo.

Trump é conhecido por declarações fortes, mas pouco claras, e o fato de ter usado este termo que não é mais válido na geopolítica deixa a fala ainda mais vaga.Também não há detalhes sobre como funcionaria essa eventual restrição de imigração.

O termo foi estabelecido em 1952 por Alfred Sauvy (1898-1990). O demógrafo francês usou o termo em um ensaio escrito no contexto de Guerra Fria. No artigo, Sauvy deixa claro que o que chama de "Terceiro Mundo" não é sinônimo de "país pobre" no sentido simplista. Para ele, o conceito é:

Segundo ele, esse bloco, que seria o mais numeroso do planeta, era ignorado, explorado e tratado como secundário, assim como o Terceiro Estado na França pré-revolucionária.

Para Sauvy, esses países formavam um bloco próprio, distinto do capitalismo ocidental e do comunismo oriental. Eram na prática o bloco mais numeroso e mais antigo, mas tratados como irrelevantes e deixados de lado pelas disputas dos “dois mundos” dominantes.

Muitos deles, países que tinham acabado de ser descolonizados ou processos internos de guerras de independência na Ásia, África e América.

A ideia de Sauvy era de esses países existiam, sofriam, produziam, mas não tinham voz. O resultado, afirma o autor, era um “ciclo de miséria” ampliado pela falta de atenção das potências, ocupadas com a Guerra Fria.

"Esses países, 'ignorados e desprezados', também querem ser alguma coisa — ou seja, querem reconhecimento, desenvolvimento e autonomia", diz o autor.

Ainda na publicação, o republicano disse que vai acabar com os benefícios e subsídios de todos os não-cidadãos americanos que estão nos EUA. Trump disse, ainda, que pretende "desnaturalizar imigrantes que minam a tranquilidade doméstica e deportar qualquer estrangeiro que seja um encargo público, risco à segurança ou incompatível com a Civilização Ocidental".

Trump escolheu a madrugada após o dia de Ação de Graças para culpar os imigrantes pelo que chamou de "disfunção social" do país.

Ele afirmou que milhões de imigrantes teriam sido admitidos ilegalmente durante o governo Biden e promete revogar essas admissões.