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- Author, Anthony Zurcher
- Role, Correspondente da BBC News na América do Norte
Há 15 minutos
Zohran Mamdani, o recém-eleito prefeito da cidade de Nova York, é notável por muitos motivos. Ele se tornará o prefeito mais jovem da cidade desde 1892, o primeiro prefeito muçulmano e o primeiro prefeito nascido na África.
Ele entrou na disputa no ano passado praticamente como uma figura desconhecida do público, com pouco dinheiro e sem apoio institucional do Partido Democrata.
Só isso já torna sua vitória sobre o ex-governador Andrew Cuomo e o candidato republicano Curtis Sliwa notável.
Mas, além disso, ele representa o tipo de político que muitos na esquerda do Partido Democrata vêm buscando há anos.
Ele é jovem e carismático, com a familiaridade natural de sua geração com as mídias sociais.
Sua etnia reflete a diversidade da base do partido. Ele não se esquivou de uma luta política e defendeu com orgulho causas de esquerda, como creches gratuitas, expansão do transporte público e intervenção governamental em sistemas de livre mercado.
Mamdani também demonstrou uma capacidade excepcional de se concentrar nos tipos de questões econômicas essenciais que têm sido prioridade para os eleitores da classe trabalhadora que se afastaram do Partido Democrata recentemente, ao mesmo tempo em que não renegou os princípios culturais da esquerda.
Mas os críticos já alertaram que um candidato como ele seria inelegível em grandes áreas dos Estados Unidos — e os republicanos o apresentaram com entusiasmo como o rosto da extrema-esquerda do Partido Democrata. Ainda assim, na noite de terça-feira (5/11), na cidade de Nova York, ele saiu vitorioso.
Ao concorrer contra e derrotar Cuomo, um ex-governador de Nova York que é filho também de um ex-governador, ele venceu o establishment democrata entrincheirado, visto por muitos na esquerda como lamentavelmente desconectado de seu partido e de sua nação.
Por causa disso, a campanha de Mamdani para prefeito gerou uma enorme atenção da mídia, talvez mais do que qualquer outra eleição municipal, mesmo na maior cidade dos EUA.
Isso significa também que, como prefeito, seus sucessos — e fracassos — serão minuciosamente analisados.

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Há doze anos, o democrata Bill de Blasio venceu a eleição para prefeito com uma plataforma que visava combater as desigualdades econômicas e sociais da cidade de Nova York. Assim como Mamdani, os americanos de esquerda tinham grandes esperanças de que sua administração fosse um exemplo nacional de governança liberal eficaz.
De Blasio, no entanto, deixou o cargo oito anos depois amplamente impopular e com um histórico de realizações controverso, enquanto lutava com as limitações de seu poder como prefeito para implementar novas políticas.
Mamdani terá que lidar com essas mesmas limitações — e com as mesmas expectativas.
A governadora de Nova York, Kathy Hochul, também democrata, já se declarou contrária ao aumento de impostos necessário para financiar a ambiciosa agenda de Mamdani.
E mesmo com financiamento suficiente, Mamdani não conseguiria implementar programas unilateralmente.
Ele fez campanha como um crítico ferrenho da elite corporativa e empresarial que tem Nova York como sede e que transformou Manhattan na capital financeira do mundo. Para governar com eficácia, ele provavelmente terá que fazer algum tipo de acordo com esses interesses — um processo que já iniciou nas últimas semanas.
Ele também condenou a conduta de Israel durante a guerra em Gaza e prometeu prender o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como criminoso de guerra caso ele pise em Nova York, uma promessa que poderá ser testada em algum momento de seu mandato.
Todos esses são problemas para um momento posterior, no entanto. Por ora, Mamdani precisará se dedicar à tarefa de se definir publicamente — antes que seus oponentes o façam.
Embora sua campanha tenha gerado atenção nacional, ele ainda é uma incógnita para grande parte dos americanos. Uma pesquisa recente da CBS indicou que 46% do público americano não estava acompanhando de perto a eleição para prefeito de Nova York. Isso representa tanto uma oportunidade quanto um desafio para Mamdani e a esquerda americana.
Os conservadores, partindo do presidente dos EUA, Donald Trump, tentarão pintar o prefeito recém-eleito como uma ameaça socialista, cujas políticas e prioridades levarão à ruína a maior cidade dos EUA e representarão um perigo se forem adotadas por toda a nação.
Eles amplificarão cada tropeço e destacarão cada indicador econômico negativo ou estatística de criminalidade.

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Trump, que tem uma ligação pessoal com Nova York, certamente verá com bons olhos uma disputa política com Mamdani e tem uma infinidade de maneiras de complicar a vida do novo prefeito.
Mamdani também terá que se esforçar para conquistar líderes democratas, como o senador de Nova York e líder da minoria no Senado, Chuck Schumer, que nunca apoiou sua campanha.
A oportunidade para Mamdani, no entanto, é que ele não está sobrecarregado por seu passado, que seus oponentes políticos tentaram, sem sucesso, usar contra ele durante a campanha.
Quando tomar posse em janeiro, ele terá a chance de construir sua reputação política do zero. E se Trump entrar em conflito com ele, isso só dará a Mamdani uma plataforma maior para trabalhar.
Seu talento e suas habilidades políticas o trouxeram até aqui, o que não é pouca coisa. Mas isso não é nada comparado aos desafios que o aguardam nos próximos anos.
Quem é Zohran Mamdani?
Nascido em Kampala, capital de Uganda, Mamdani se mudou para Nova York com sua família aos 7 anos. Os pais têm origem indiana.
Ele se elegeu deputado estadual em 2021 pelo bairro de Astoria, no Queens, e se conectou com os eleitores da era das mídias sociais.
Sua identidade como imigrante, sem remorso por suas crenças e fé como muçulmano, tem sido considerada um ponto positivo para aqueles que viram nele suas próprias experiências.

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Ele se descreve como um socialista democrático — termo sem uma definição clara, mas que, essencialmente, significa dar voz aos trabalhadores, não às corporações.
Mamdani prometeu taxar milionários para financiar a ampliação de programas sociais. É a mesma linha política do senador Bernie Sanders e da deputada Alexandria Ocasio-Cortez, com quem Mamdani divide frequentemente o palco.
Trump, por sua vez, ameaçou cortar os fundos federais caso os nova-iorquinos elejam um "comunista".
Mamdani rebateu esse argumento comum sobre sua política e, durante uma entrevista em um programa de TV diurno, concordou com o apresentador que ele era "meio que um político escandinavo" — "só que mais moreno", brincou.
Os países escandinavos, como a Suécia, são conhecidos por suas políticas públicas de bem-estar social.
Espaço no partido para todos os pontos de vista?
Os nova-iorquinos gostam de pensar que sua cidade é o centro do universo, mas a eleição para prefeito não foi a única disputa eleitoral acontecendo na terça-feira. Na verdade, muito provavelmente, nem foi o melhor indicador do clima eleitoral atual.
Tanto Nova Jersey quanto Virgínia — Estados que a candidata democrata à Presidência, Kamala Harris, venceu por uma pequena margem contra Trump na eleição do ano passado — realizaram eleições para governador. E em ambos os casos, os democratas venceram com margens mais confortáveis.
Das duas, a disputa em Nova Jersey foi a mais acirrada. No entanto, os resultados sugerem que o avanço que Trump fez no Estado no ano passado entre os eleitores da classe trabalhadora e das minorias não se sustentou sem o nome do presidente na cédula.
Ao contrário de Mamdani, as democratas Mikie Sherrill e Abigail Spanberger conduziram campanhas centristas apoiadas pelo establishment com propostas políticas mais modestas. Todas as três, no entanto, focaram em questões de acessibilidade e custo de vida.
As pesquisas de boca de urna mostraram que a economia, mais uma vez, foi o tema que mais preocupou os eleitores.
Com as vitórias dos democratas de esquerda e centro na terça-feira, pode ser difícil para aqueles que buscam obter informações sobre o tipo de políticas e candidatos que os democratas devem apresentar para garantir o sucesso eleitoral futuro.
Na semana passada, no entanto, Mamdani insistiu que havia muito espaço no partido para todos os tipos de pontos de vista.
"Acho que este precisa ser um partido que realmente permita que os americanos se vejam nele e não apenas um reflexo de algumas pessoas engajadas na política", disse ele.
"Para mim, o que nos une é a quem lutamos para servir, e esse alguém são os trabalhadores."
Essa visão será posta à prova no próximo ano, quando os democratas em todo o país forem às urnas para escolher seus candidatos para as eleições de meio de mandato para o Congresso. As tensões certamente aumentarão e as tradicionais divisões poderão ressurgir.
Por uma noite, no entanto, os democratas se uniram em um grande e feliz partido.

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