
O Conselho de Administração da Petrobras aprovou o retorno da estatal ao mercado de distribuição de gás de cozinha (GLP) quase quatro anos após vender a Liquigás por R$ 4 bilhões à Copagaz, ao grupo Itaúsa e outros investidores. O retorno da Petrobras ao setor deve baixar o preço do gás no Brasil, mas isso ainda vai demorar.
O que aconteceu
Apesar do anúncio, a Petrobras ainda não decidiu como atuará. A dúvida é se ela retomará apenas a distribuição de gás ou se também venderá botijões. Se isso ocorrer, vai disputar espaço com empresas que compram o GLP da estatal para revender.
Quatro empresas dominam 88% da distribuição de GLP no Brasil:
- Copa Energia (holding criada após a Copagaz comprar a Liquigás da Petrobras): 23,8%
- Ultragaz: 22,5%
- Nacional Gás: 21,5%
- Supergasbras: 21%
No Rio, 43% do mercado é da Supergasbras, e cinco empresas dominam 99% da distribuição. No Nordeste, quatro empresas dominam 94% do mercado. A venda da Liquigás para a Copa Energia (à época com 9%) fez este mercado se concentrar ainda mais.
Eric Gil Dantas, economista
Botijão mais barato?

O retorno da Petrobras à distribuição deve deixar o gás de cozinha mais em conta. "Projetando uma redução de 10% na margem de lucro de distribuição e revenda, estimamos diminuição de aproximadamente R$ 5,50 no preço médio nacional", diz a economista Natalie Verndl, do Corecon (Conselho Regional de Economia de São Paulo). "Projetando queda de 20%, a redução seria de cerca de R$ 11", diz ela ao lembrar que os preços variam por estado e que os cenários são "hipotéticos".
Após a venda da Liquigás, "as margens de lucro registraram aumento significativo", diz a especialista. Em 2019, as distribuidoras tiveram lucro final (depois de todos os custos, despesas e impostos) de R$ 290 por tonelada de gás. Em 2023, essa margem foi de R$ 825, aumento de 184%, segundo estudo publicado no final do ano passado pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. No período, a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) foi de 59% e, pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), foi de 32,7%.
A ausência da Petrobras pode ter contribuído para a redução da pressão competitiva e para a intensificação da concentração, o que, por sua vez, eleva os preços.
Natalie Verndl, economista
A redução de preço, porém, não será automática. "A volta da Petrobras teria força para pressionar as margens [de lucro] tanto da distribuição quanto da revenda, mas provavelmente seria a médio prazo", explica o economista Eric Gil Dantas, do Ibeps (Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais). "Depende de como a Petrobras entraria, quanto de mercado ela conseguiria, em quanto tempo e de sua abrangência".
É que a distribuição de GLP exigirá investimento pesado em logística e infraestrutura. Segundo relatório do Citibank, a reentrada da Petrobras no mercado de gás de cozinha exigiria a compra de uma distribuidora de grande porte, um investimento estimado em US$ 7 bilhões (R$ 37 bilhões). "Mas hoje a Petrobras tem a Transpetro, que daria conta de uma logística de curto prazo", diz Dantas.
Concorrência desleal?

O retorno da estatal precisará ser vigiado por órgãos reguladores. Para que a Petrobras não tenha vantagem em relação aos concorrentes, não poderá haver intervenção do governo nos preços. "Mas se a estatal voltar pagando impostos, obedecendo às regras de segurança da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e sem qualquer tipo de privilégio, não haverá concorrência desleal" diz Verndl.
Priorizar a lucrativa extração de petróleo na camada pré-sal foi a justificativa da Petrobras para vender a Liquigás. "A margem líquida do setor era de 31% em 2020, suficientemente lucrativa para todas as empresas", diz Dantas.
Pressão do governo
A volta da Petrobras a esse mercado ocorre em meio à pressão do governo Lula. Em maio, o presidente criticou a diferença entre o valor de venda do gás pela estatal —hoje em R$ 38 segundo a ANP— e o preço pago pelo consumidor. "É certo que há o custo do transporte, mas não precisa ser tanto", afirmou Lula. "Quando chega aqui, está a R$ 110, R$ 120, em alguns estados até R$ 140."

Para Verndl, a pressão do governo pela volta da Petrobras ao mercado "de fato existe". "Esse retorno, ainda numa fase embrionária, acaba sendo uma sinalização política forte, porque a gente está em ano pré-eleitoral, e o mercado tem visto isso como um movimento muito mais político do que econômico", diz. Dantas lembrou que a Petrobras "mudou sua postura em relação aos preços dos derivados em maio de 2023, [quando os preços deixaram de obedecer exclusivamente a cotação internacional do petróleo]. Não é uma virada eleitoral, e sim de visão de empresa".
No começo do mês, o governo lançou o programa "Gás do Povo". A intenção é distribuir botijões gratuitamente a 15,5 milhões famílias inscritas no CadÚnico, cadastro de famílias com renda mensal de até meio salário mínimo. "Acho que o programa é o maior exemplo dessa pressão", diz a economista.
Preço nos estados e no DF
O preço médio do botijão de 13 kg no Brasil era de R$ 108,45 em julho, último dado da ANP. O mais caro é vendido, em média, a R$ 137,14 em Roraima. O mais barato é encontrado a R$ 96,94 no Rio de Janeiro:
- Acre: R$ 121,71
- Alagoas: R$ 101,76
- Amapá: R$ 121,20
- Amazonas: R$ 124,11
- Bahia: R$ 118,09
- Ceará: R$ 109,18
- Distrito Federal: R$ 103,38
- Espírito Santo: R$ 99,89
- Goiás: R$ 110,33
- Maranhão: R$ 116,43
- Mato Grosso: R$ 116,47
- Mato Grosso do Sul: R$ 111,19
- Minas Gerais: R$ 106,68
- Pará: R$ 110,79
- Paraíba: R$ 102,72
- Paraná: R$ 103,83
- Pernambuco: R$ 96,75
- Piauí: R$ 105,83
- Rio de Janeiro: R$ 96,94
- Rio Grande do Norte: R$ 102,74
- Rio Grande do Sul: R$ 112,07
- Rondônia: R$ 118,66
- Roraima: R$ 137,14
- Santa Catarina: R$ 118,78
- São Paulo: R$ 109,61
- Sergipe: R$ 104,16
- Tocantins: R$ 126,16

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1 mês atrás
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