A Polícia Federal investiga em um inquérito se o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se beneficiou eleitoralmente, durante a campanha no ano passado, da versão de que o tiroteio ocorrido em Paraisópolis, zona sul de São Paulo, foi um atentado contra ele.
O objetivo dos investigadores é apurar se Tarcísio infringiu o código eleitoral, que veda a divulgação, na propaganda eleitoral ou durante período de campanha, de "fatos que sabe inverídicos em relação a partidos ou a candidatos e capazes de exercer influência perante o eleitorado".
O governador afirma que não há fato novo sobre o episódio e que, portanto, não há o que se averiguar no inquérito da PF.
Poucas horas depois do tiroteio, o então candidato Tarcísio já havia declarado não ter visto o episódio como um atentado.
"Foi um ato de intimidação, um recado claro do crime organizado como ‘a gente não quer você aqui dentro’. É uma questão territorial e não tem nada a ver com a política", disse o então candidato, na ocasião.
Em 17 de outubro de 2022, um tiroteio em Paraisópolis interrompeu a agenda de campanha do então candidato ao governo estadual. Um homem morreu na troca de tiros.
Tarcísio e a sua equipe visitavam um projeto social que inaugurou um polo universitário. Não houve feridos entre os integrantes da comitiva.
O episódio repercutiu entre bolsonaristas na ocasião, que relacionaram a esquerda ao tráfico de drogas.
Em janeiro deste ano, o Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o arquivamento do inquérito sobre a morte no tiroteio.
A decisão judicial pelo arquivamento da investigação foi dada a pedido do Ministério Público de São Paulo.
Segundo o G1, a Promotoria afirmou na ocasião que os policiais agiram em legítima defesa e estrito cumprimento do dever legal, o que foi aceito pelo magistrado na decisão.
O promotor do caso disse ainda que não foi confirmada a participação de pessoas da equipe de Tarcísio na troca de tiros. Também não foi identificada a arma da qual partiram os tiros que geraram a morte.
À época do tiroteio, um áudio obtido pela Folha revelou que um integrante da campanha de Tarcísio mandou um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio. O então candidato disse que o pedido pode ter sido feito em "momento de tensão" para preservar a identidade dos responsáveis por sua segurança.
Em outubro, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo julgou improcedente uma representação contra Tarcísio pela presença de um agente da Polícia Federal em sua campanha no dia do tiroteio.
O julgamento foi decidido por unanimidade.
O Ministério Público Eleitoral havia representado contra o governador e o agente Danilo Campetti argumentando que o policial usou seus instrumentos de trabalho (arma e distintivo) em benefício de Tarcísio, o que é proibido. Imagens mostram o policial com arma na mão e usando distintivo.
Na ação, o Ministério Público havia afirmado que a participação de Campetti na campanha não era um fato relevante o suficiente para provocar uma diferença de votos a favor de Tarcísio.
A instauração do inquérito pela PF foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela Folha.
Procurada, a assessoria do governador argumentou que a Justiça Eleitoral já realizou julgamento sobre o episódio em Paraisópolis.
"Após a manifestação do Ministério Público, oitiva testemunhal e colheita de provas, foi concluído de forma unânime que o episódio tratou-se de uma ocorrência policial, sem qualquer ingerência política ou eleitoral. Uma vez que não há fato novo, não haveria outra questão a ser averiguada no inquérito da polícia federal mencionado", diz a nota do governador.
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