Plataformas lucraram mais de R$ 1 bi com vendas de CDBs do Master

O Banco Master e suas subsidiárias chegaram a pagar comissões de até 5% para grandes plataformas de investimento como XP, BTG e EasyInvest (hoje Nubank) distribuírem seus CDBs, segundo relato de fontes ouvidas pela coluna. Assessores ouvidos pela reportagem dizem que as comissões eram de 4% na média. Reservadamente, corretoras contestam e falam em 2,5% no máximo.

Com um saldo de captação em torno de R$ 50 bilhões, as comissões renderam alguma coisa entre R$ 1,25 bilhão e R$ 2 bilhões às plataformas e aos assessores de investimento.

Além da estratégia de altas comissões, os produtos foram impulsionados pela remuneração agressiva e um marketing baseado nas garantias do Fundo Garantidor de Crédito para minimizar os riscos ao tomador.

As comissões são pagas em função do prazo — e os papeis do Master, que davam retornos de até 120% ou 140% do CDI, costumavam ser oferecidos para períodos de três a cinco anos. A primeira leva dos investimentos feitos em 2021 começaram a vencer neste ano e no ano passado, deixando exposta a baixa qualidade dos ativos do banco para honrar os compromissos.

Segundo assessores ouvidos pela coluna, a comissão oferecida nos CDBs do Master costumava ser o dobro da praticada em produtos de características semelhantes.

A XP, maior distribuidor dos CDBs do grupo Master, tem um saldo de R$ 35 bilhões junto aos clientes. No entanto, os ativos que entraram na liquidação extrajudicial decretada pelo Banco Central — e que estão portanto garantidas pelo FGC — correspondem a R$ 26 bilhões. O restante são ativos que pertencem ou pertenceram ao conglomerado do Master, mas não entraram na liquidação decretada pelo Banco Central.

A XP tem cerca de R$ 4 bilhões emitidos pelo Banco Voiter, ativo que foi desmembrado em julho e ficou com o sócio Augusto Lima, preso nesta terça-feira junto com o banqueiro Daniel Vorcaro na operação Compliance Zero. E mais R$ 5 bilhões aproximadamente que foram emitidos pelo Will Bank, banco digital do grupo que está sob intervenção do BC.

O órgão decretou hoje o Regime de Administração Especial Temporária para o Banco Master Múltiplo, que tem o Will Bank como principal ativo. Nesse tipo de intervenção, a manutenção da operação é assegurada.

A XP liderou na distribuição dos CDBs em todas as instituições do Grupo Master, ficando com cerca de 50% do total.

Considerando uma comissão média de 4%, a XP e seus assessores de investimento podem ter embolsado R$ 1,4 bilhão em comissões (ou R$ 875 milhões na conta mais conservadora). Na XP, os agentes ficam com 70% da comissão e o restante fica para a plataforma.

No BTG, o saldo de CDBs do Master que entraram na liquidação extrajudicial está em R$ 6,7 bilhões. Isso equivale a ganhos de R$ 270 milhões em comissões (considerando o valor de 4%). O Nubank tem hoje uma carteira de R$ 2,9 bilhões — mas uma parte disso foi herdado com a compra da plataforma de investimentos EasyInvest, cuja integração se deu a partir de 2021. A comissão total EasyInvest/Nubank, considerando os 4%, seria da ordem de R$ 116 milhões.

Todas as três plataformas deixaram de ofertar CDBs do grupo Master. O Nubank em meados do ano passado. A XP há cerca de seis meses. E praticamente todo o saldo de CDBs de XP, BTG e Nubank está coberto pela garantia do FGC — algo como mais de 99%.

Nesta terça-feira, o Banco Central decretou a liquidação do banco Master, num movimento que coincide com uma operação da Polícia Federal que prendeu preventivamente o banqueiro Daniel Vorcaro e seu ex-sócio, Augusto Lima.

"Tardia e corretíssima essa intervenção do Master. Mas não pode ficar apenas nisso. Qual a responsabilidade de outros agentes?", questiona um banqueiro. "Supostamente são as pessoas mais preparadas do mercado financeiro para avaliar isso. Como chegaram a esse ponto?"

Atualização: matéria foi corrigida com a informação de que parte da carteira do Nubank foi herdada com a aquisição da plataforma EAsyInveste