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Popularidade de Francisco diminuiu entre católicos latinos, e apoio a mulheres na Igreja subiu

Na América Latina, região de onde veio e onde foi recebido com entusiasmo no início de seu pontificado, o apoio a esses temas variou. Mas a popularidade do papa Francisco mostrava sinais de derretimento em 2024 entre seus fiéis, mesmo sendo aprovado pela maioria dos católicos latinos.

É o que mostram levantamentos realizados pelo Pew Research Center, uma organização independente de pesquisa sediada em Washington (EUA), na Argentina, Colômbia, Brasil, México, Peru e Chile, países cujas populações católicas estão entre as 25 maiores do mundo. As pesquisas foram realizadas em 2013–2014 e em 2024.

Na Argentina, seu país natal, a queda de popularidade foi a maior entre os países pesquisados. Há dez anos, quase todos os católicos entrevistados no país (98%) tinham uma opinião favorável sobre Francisco, contra 74% no último levantamento.

No Brasil, esse número foi de 92% em 2014 para 84% em 2024.

Diante da maior religião do mundo, Francisco enfrentava dois grandes desafios para o catolicismo: a perda de influência da Igreja sobre diversas esferas da sociedade e, no caso do Brasil, o avanço das igrejas evangélicas.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2000, os católicos representavam 74% da população brasileira. Dez anos depois, esse número caiu para 65%.

Já os cristãos de vertentes evangélicas avançaram de 15% para 22% entre 2000 e 2010. Um retrato mais atual sobre o número de fiéis no país deve ser divulgado em breve, com a divulgação dos resultados do Censo 2022.

Cenário global radicalizado

Para o teólogo e diretor de programas do Instituto de Estudos da Religião (ISER), Ronilso Pacheco, a queda na popularidade do Papa Francisco pode estar relacionada ao cenário global mais radical, polarizado e conservador.

"Francisco enfrentou um período, sem dúvida, muito mais radicalizado do que o Ratzinger [papa Bento XVI] enfrentou e do que o João Paulo II enfrentou", afirma.

Segundo Pacheco, o avanço de lideranças conservadoras em diversos países e a influência crescente das redes sociais, que intensificariam a circulação de discursos polarizados, podem ter contribuído para o desgaste da imagem de um papa conhecido pelo carisma e pela abertura ao diálogo.

"Vai havendo um certo desgaste, uma coisa meio ambígua de alguém que é muito carismático e generoso. Mas tem uma cobrança de uma Igreja que precisa ser mais forte, que precisa avançar, que precisa conquistar e consolidar os seus fiéis e os seus valores", avalia.

No Brasil, a perda de influência política da Igreja Católica também ajuda a explicar a queda de popularidade de Francisco, segundo Pacheco.

"A Igreja perde muito espaço no Brasil. Tem a hegemonia cultural, sem dúvida, mas politicamente perde espaço. A cultura continua na mão da Igreja Católica, mas a influência política, a incidência política dos evangélicos é significativamente maior", diz.

Entre os temas abordados por Francisco durante seu pontificado, um recebeu crescente apoio entre os fiéis nos últimos anos: o aumento do papel das mulheres na Igreja e a discussão sobre a ordenação de mulheres como sacerdotisas.

Os números indicam que o apoio a essa questão cresceu entre os católicos latinos na última década, especialmente na Argentina e no México. Na Argentina, o apoio passou de 51% em 2013-14 para 71% em 2024, enquanto no México aumentou de 31% para 47% no mesmo período.

No Brasil, o apoio a mulheres sacerdotisas era 78% em 2014 e foi para 83% em 2024.

Apesar do aumento no apoio, a ordenação de mulheres ainda encontra resistência na própria Igreja, inclusive por parte de Francisco. Para Pacheco, o papa trouxe avanços à religião ao incluir mais mulheres em cargos de liderança no Vaticano, mas foi criticado por avançar menos do que o esperado no assunto.

“[Ele é o] papa que mais colocou mulheres, por exemplo, nos serviços do Vaticano, em cargos de liderança. Mas, publicamente, por diversas vezes, ele já se colocou contrário à ideia de mulheres sacerdotes”, afirma.

Durante seu papado, Francisco promoveu mulheres a cargos de liderança no Vaticano e concedeu direito a voto no Sínodo dos Bispos — reunião global em que são debatidos regimentos internos da Igreja e questões ideológicas.

A maioria dos católicos nos sete países pesquisados defende que a Igreja permita o uso de métodos contraceptivos, com percentuais variando de 86% na Argentina a 63% no Brasil, segundo a última pesquisa divulgada.

Apesar do apoio, a discussão sobre o tema não avançou na última década. As opiniões sobre o uso de contraceptivos entre os católicos permaneceram estáveis na maioria dos países, com exceção do Peru e do Brasil.

No Peru, o apoio aumentou significativamente, de 63% para 75%, enquanto no Brasil, o apoio caiu de 75% para 63%.

Francisco deixou aberta a possibilidade de usar esses métodos ao lembrar que o papa "Paulo VI em uma situação difícil na África (a guerra no Congo belga) permitiu que as freiras usassem anticoncepcionais para casos nos quais foram violentadas".

O papa opinou que o "aborto não é uma questão qualquer, é um crime" e que "evitar a gravidez não é um mal absoluto".

Papa Francisco fala em rever o celibato dos padres

Papa Francisco fala em rever o celibato dos padres

A opinião sobre se a Igreja deveria permitir que padres se casassem é mais dividida entre os católicos.

Cerca de dois terços dos católicos na Argentina, no Chile e nos EUA são favoráveis, enquanto maiorias no México e no Peru dizem que a Igreja não deveria permitir o casamento de padres, segundo a última pesquisa. Essa opinião se manteve relativamente estável ao longo do tempo nos países pesquisados.

Em 2014, 58% dos católicos eram a favor do casamento de padres, em 2024 esse número passou para 50%.

Em entrevista a um site argentino, em 2023, Francisco disse que o celibato dos padres é uma medida temporária e que poderia ser revista. "Não há contradição em um padre se casar. O celibato na igreja ocidental é uma prescrição temporária. Não é eterno como a ordenação sacerdotal, que é para sempre", disse.

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