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Há 11 minutos
A imprensa estatal iraniana anunciou que a principal fonte de água potável da capital do país, Teerã, corre risco de secar em duas semanas.
O diretor da companhia de água da capital, Behzad Parsa, afirma que a represa Amir Kabir, o principal reservatório de água de Teerã, armazena agora "apenas 14 milhões de metros cúbicos de água". Um ano atrás, eram 86 milhões de metros cúbicos.
Parsa alertou que, no nível atual, ela poderá abastecer a cidade de água "por duas semanas".
A província de Teerã vem sofrendo uma seca prolongada, gerando um dos mais sérios episódios de escassez de água das últimas décadas. O baixo nível das chuvas "quase não tem precedentes há um século", declarou uma autoridade local, em outubro.
"Se não tivermos chuva e precipitação nos próximos meses, a gestão dos recursos aquíferos e o abastecimento sustentável de água potável em Teerã enfrentarão sérios desafios", segundo a agência de notícias oficial do Irã IRNA.
"Cortes de água e a forte queda da pressão da água significam que os edifícios de apartamentos ficam rapidamente sem água ou são totalmente desabastecidos", declarou uma moradora da capital à BBC News Persa.
"Quando a energia cai, a internet e as bombas elevatórias também deixam de funcionar", prossegue ela. "A situação fica insustentável, especialmente no calor do verão, em meio à forte poluição do ar."
"E, se houver uma criança ou idoso em casa, fica ainda pior, pois, às vezes, eles precisam suportar essas condições por horas." A moradora pediu para não ser identificada.
Em todo o Irã, a escassez de água e a frequente falta de eletricidade alimentaram a crescente frustração do público.
Dos arranha-céus da capital até as aldeias no Cuzistão (sudoeste do Irã) e no Sistão-Baluchistão (no sudeste), a falta d'água prejudica a vida dos moradores em níveis que muitos consideram intoleráveis.
Depois de cinco anos consecutivos de seca e recordes de calor, Teerã está a caminho de ficar com suas torneiras totalmente secas.

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No Irã, os níveis de água dos reservatórios atingiram mínimos históricos, os apagões são rotineiros e os ânimos estão se desgastando.

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'Dia Zero'
As autoridades alertam que, sem redução significativa do consumo, partes de Teerã poderão atingir o "Dia Zero" — o momento em que haverá rodízio de água nas torneiras e a água será distribuída por caminhões-pipa ou fontanários públicos.
Este alerta já havia sido feito perto do início do ano e é repetido regularmente.
O alarme foi dado depois das temperaturas extremas verificadas durante o verão iraniano e do aumento da pressão sobre a envelhecida rede elétrica do país.

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"Esta não é apenas uma crise da água, mas uma 'falência da água', um sistema tão deficitário que não pode mais ser totalmente revertido", declarou à BBC News Persa o professor Kaveh Madani, diretor do Instituto de Água, Meio Ambiente e Saúde da Universidade das Nações Unidas.
Daniel Tsegai, da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), destaca que o Irã é um exemplo do que acontece quando se reúnem a escassez de água, a degradação da terra, as mudanças climáticas e a má administração.
Para ele, o país fornece um doloroso alerta para outros países.

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O que significaria o 'Dia Zero' em Teerã
Na prática, o "Dia Zero" significaria priorizar o abastecimento aos hospitais e outros serviços essenciais, racionando a água destinada às residências.
As autoridades poderão suspender o abastecimento dos bairros em rodízio. As famílias mais ricas poderiam instalar caixas d'água no telhado, mas as mais pobres enfrentariam dificuldades.
"Os seres humanos são muito resilientes e se adaptarão com rapidez", declarou Madani. Ele já foi vice-chefe do Ministério do Meio Ambiente do Irã.
"Minha maior preocupação é que, se o ano que vem também for seco, o próximo verão será ainda mais severo."

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A BBC pediu comentários sobre os planos do Irã para combater a queda do abastecimento de água ao Ministério do Exterior do país, à sua Embaixada e ao consulado em Londres, mas não recebeu resposta aos e-mails e à carta entregue pessoalmente à Embaixada até a publicação desta reportagem.

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A capital iraniana, Teerã, fica no norte do país. É a maior cidade do Irã, com cerca de 10 milhões de habitantes.
Seu abastecimento de água depende de cinco represas principais. E uma delas, a represa Lar, está praticamente seca. Ela opera atualmente a apenas 1% do seu nível normal, segundo a empresa responsável pela sua administração.

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O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, apelou aos moradores que reduzam seu consumo em pelo menos 20%.
Os números oficiais demonstram que a demanda de água caiu em 13% em julho, em comparação com o ano passado. Mas as autoridades afirmam que seria necessária uma redução de mais 12% para manter o abastecimento entre setembro e outubro.
Os edifícios do governo em Teerã e outras cidades são fechados regularmente para economizar energia, gerando reclamações de empresas sobre prejuízos econômicos.

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Da seca à 'falência da água'
Em algumas províncias, os níveis de chuva diminuíram em mais de 70%. Mas o clima representa apenas parte desta história.
"Esta não é uma crise da água", defende Madani. "É a falência da água, uma condição em que os danos não são mais totalmente reversíveis e a mitigação não é mais adequada."
O Irã consome mais água do que a natureza fornece há décadas. Primeiro, o país esgotou rios e reservatórios e, depois, canalizou as reservas subterrâneas.
"A aridez não causou isso sozinha", segundo Madani. "A má gestão e o uso excessivo geraram a crise muito antes que as mudanças climáticas se intensificassem."
A agricultura consome cerca de 90% da água do Irã, devido, em grande parte, à irrigação ineficiente. E produtos que exigem uso intensivo de água, como o arroz e a cana-de-açúcar, são cultivados em regiões áridas.

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Vazamentos
Em Teerã, calcula-se que até 22% da água tratada seja perdida em vazamentos, devido à degradação dos canos. Mas os sistemas de água de outras partes do mundo enfrentam desperdício similar.
Segundo o portal Water News Europe, 25% da água potável da União Europeia é perdida em vazamentos.
A consultoria McKinsey & Company afirma que 14-18% da água tratada dos Estados Unidos desaparece de forma similar. Alguns serviços relatam 60% de perda por vazamento.
O Irã extrai intensamente a água do seu lençol freático desde os anos 1970. Estimativas indicam que mais de 70% das suas reservas foram esgotadas.
Em alguns distritos, a terra está afundando em até 25 cm por ano, devido ao colapso dos aquíferos (as rochas permeáveis ou outros materiais de formação natural que permitem o fluxo da água para o subterrâneo).
Este processo acelera a perda de água.

Choque de energia: represas secas enfraquecem as luzes
A escassez de água gerou também uma crise energética.
Com os reservatórios vazios, a energia hidrelétrica entrou em colapso. Usinas movidas a gás lutam para atender a crescente demanda dos aparelhos de ar-condicionado e das bombas de água.

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Em julho, a agência de notícias estatal IRNA informou que a demanda de eletricidade no Irã atingiu um pico de 69 mil MegaWatts — bem acima dos cerca de 62 mil MW necessários para abastecimento adequado.
Apagões de duas a quatro horas por dia são comuns no país.
A imprensa e os políticos afirmam que os cortes de energia afetam principalmente os moradores mais pobres, já que apenas pessoas mais ricas podem manter geradores.

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A reação do governo
O ministro da Energia do Irã, Abbas Aliabadi, declarou que "fornecer água potável é uma prioridade que precisa chegar a todas as pessoas".
Em referência às tentativas de economizar água, o ministro disse que, "com as medidas tomadas este ano, conseguimos economizar três vezes a água que estamos transportando".
O governo vem enfrentando críticas por permitir a continuidade da mineração de criptomoedas durante o racionamento. A atividade consome enormes quantidades de energia e alguns operadores de criptomoedas manteriam conexões políticas.
Em resposta, as autoridades afirmam que estão perseguindo os sites ilegais e priorizando o abastecimento às residências.
Aliabadi acusa as operações ilegais de criptomoedas de drenar o abastecimento de eletricidade. "É muito difícil detectar e eliminar os mineradores ativos neste campo", segundo ele.

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Houve protestos em diversas províncias iranianas, como o Cuzistão e o Sistão-Baluchestão, onde a falta de água e luz é mais severa.
Os manifestantes cantam, durante os protestos, que o acesso à "água, eletricidade e à vida" é um direito básico.
Enquanto os poços e canais ficam secos, a migração ambiental se acelera. Muitas famílias se mudam para Teerã em busca de empregos, serviços e melhor infraestrutura.
Analistas alertam que esta tendência poderá aumentar a instabilidade, à medida que a capital absorve as pessoas deslocadas.

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A crise também se infiltrou na geopolítica.
Depois do conflito entre o Irã e Israel, em junho de 2025, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu destacou as tecnologias de reciclagem e dessalinização de água do seu país.
Netanyahu declarou, em mensagem dirigida aos iranianos, que eles poderão se beneficiar dessa tecnologia "quando seu país for livre".
Teerã qualificou as observações do primeiro-ministro como teatralização política. E o presidente Pezeshkian chamou a atenção para a crise humanitária na Faixa de Gaza.
Daniel Tsegai afirma que o Irã não é o único país da região que enfrenta esta situação.
Em todo o oeste asiático, vários anos de seca estão prejudicando a segurança alimentar, a estabilidade e os direitos humanos, afetando setores como a agricultura, energia, saúde, transporte e o turismo.

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Alerta global
Daniel Tsegai alerta que o mundo está entrando em uma era de secas causadas pelos seres humanos. Elas são geradas pelas mudanças climáticas e pelo uso excessivo da terra e da água.
Ele defende que o Irã está mostrando os efeitos da convergência entre a escassez, a degradação da terra e a fraqueza de governo.
Em todo o mundo, as secas aumentaram em 29% desde o ano 2000, segundo as Nações Unidas. E, se a tendência atual continuar, três a cada quatro pessoas poderão ser afetadas em 2050.
A seca de 2015-2018 na Cidade do Cabo, na África do Sul, fez com que a cidade impusesse limites de consumo per capita e aumentasse as tarifas. O evento é frequentemente mencionado como modelo de reação proativa.
"Conhecemos as soluções técnicas", destaca Tsegai. "O que precisamos é transformar o conhecimento em política e a política em prática."
"A questão não é se a seca irá nos atingir, mas quando."

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Olhando para o futuro
Especialistas afirmam que as soluções existem. Mas é necessário ter ações urgentes e coordenadas em termos da política de água, terra e energia.
O Irã prometeu reduzir o consumo nacional de água em 45 bilhões de metros cúbicos por ano, ao longo de sete anos, por meio de reuso, irrigação por gotejamento e melhorias no abastecimento.
Estes são objetivos ambiciosos, prejudicados pelas sanções internacionais, pela burocracia e pela falta de investimentos.

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"Em última análise, o Irã precisa aceitar seu estado de falência de água", afirma Kaveh Madani. "Quanto mais tempo o governo demorar para reconhecer o fracasso e financiar um novo modelo de desenvolvimento, menor será a chance de evitar o colapso."
Sua advertência final é categórica: não será o clima que irá determinar se haverá água nas torneiras de Teerã durante os meses mais quentes.
Para Madani, o importante é a rapidez das autoridades para tomar as ações necessárias.

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4 horas atrás
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