Menina pequena em uma cama de hospital vestindo uma camisola azul. Ela parece abatida e tem uma chupeta rosa na boca.

Crédito, Nye family

Legenda da foto, Gracie Nye no hospital quando recebeu o primeiro diagnóstico de diabetes tipo 1
    • Author, James Gallagher
    • Role, Correspondente de saúde e ciência da BBC News
    • X, @JamesTGallagher
  • Há 2 minutos

Os cientistas descobriram por que o diabetes tipo 1 é mais grave e agressivo quando se desenvolve em crianças pequenas.

O tipo 1 é causado pelo ataque do sistema imunológico às células do pâncreas que controlam os níveis de açúcar no sangue.

A equipe de pesquisa mostrou que o pâncreas ainda está em desenvolvimento na infância, especialmente antes dos sete anos, o que o torna muito mais vulnerável a danos.

Eles afirmam que novos medicamentos poderiam dar tempo para o pâncreas amadurecer, retardando o avanço da doença.

O diabetes tipo 1 afeta cerca de 400 mil pessoas no Reino Unido.

Gracie, de oito anos, de Merseyside, ficou subitamente doente no Halloween de 2018. Começou como um leve resfriado, mas piorou rapidamente.

"Ela passou de uma criança de um ano muito feliz, que ia para a creche, dançava e cantava, para quase morrer em menos de 48 horas", diz o pai, Gareth.

"O diagnóstico continua sendo a pior parte da nossa vida. De repente, tudo aquilo que antes era simples ficou 10 a 20 vezes mais difícil", afirma.


Foto de férias em família com um homem, uma mulher, duas meninas e um menino pequeno. Todos estão sorrindo.

Crédito, Nye family

Legenda da foto, Família Nye, com Gracie usando óculos cor-de-rosa

A família Nye precisou se adaptar rapidamente — controlando tudo o que Gracie comia ou bebia, checando os níveis de açúcar no sangue e aplicando o hormônio insulina para que o corpo dela absorvesse o açúcar presente no sangue.

Hoje, Gracie usa um monitor de glicose e uma bomba de insulina e está "mandando muito bem com o diabetes", diz o pai.

"Gracie é uma superestrela", ele acrescenta.

Mas por que crianças diagnosticadas tão jovens quanto Gracie — especialmente as menores de sete anos — apresentam uma forma mais agressiva da doença do que aquelas diagnosticadas na adolescência ou depois, continuava sendo um mistério.

O estudo, publicado na revista Science Advances, mostra que isso se deve ao desenvolvimento das células beta que vivem no pâncreas.

São essas células que liberam o hormônio insulina quando os níveis de açúcar no sangue sobem depois que comemos.

Pesquisadores da Universidade de Exeter analisaram amostras de pâncreas de 250 doadores, o que permitiu observar como as células beta se formam normalmente conforme as pessoas envelhecem — e como elas se comportam no diabetes tipo 1.

Uma bandeja preta com três fileiras de sete lâminas de vidro que podem ser colocadas sob um microscópio.

Crédito, Diabetes UK

Mais cedo na vida, demonstrou-se que essas células beta existiam como pequenos aglomerados ou células individuais, mas, à medida que envelhecemos, elas aumentam em número e amadurecem, formando grupos maiores conhecidos como ilhotas de Langerhans.

O estudo conseguiu observar o que acontecia depois que o sistema imunológico começava a atacar as próprias células beta do paciente.

As células beta em pequenos aglomerados eram eliminadas e destruídas, sem nunca ter a chance de amadurecer.

As que estavam em ilhotas maiores também eram atacadas, mas eram mais resistentes, permitindo que os pacientes continuassem produzindo baixos níveis de insulina — o que reduzia a gravidade da doença.

"Acho que esta é uma descoberta realmente significativa para o diabetes tipo 1 — esta pesquisa realmente esclarece por que a doença é mais agressiva em crianças", disse à BBC a dra. Sarah Richardson, da Universidade de Exeter.

Ela afirma que "o futuro é muito mais promissor" para crianças que recebem o diagnóstico de diabetes tipo 1 hoje.

Isso inclui a possibilidade de fazer triagem em crianças saudáveis para detectar a doença e o uso de novos medicamentos de imunoterapia para retardá-la.

O Reino Unido já aprovou o teplizumabe — uma imunoterapia que pode impedir o sistema imunológico de atacar as células beta e possivelmente dar a elas tempo para amadurecer — embora ele não esteja disponível no NHS.

"Como temos novos medicamentos para o tratamento do diabetes tipo 1 em crianças, esperamos que possam prevenir ou retardar o início da doença nesses jovens", disse a dra. Richardson.

A peça que faltava no quebra-cabeça

A pesquisa fez parte do 'Type 1 Diabetes Grand Challenge', organizado pela Steve Morgan Foundation, Diabetes UK e Breakthrough T1D.

Rachel Connor, diretora de parcerias de pesquisa da Breakthrough T1D, afirmou: "Este estudo nos dá a peça que faltava no quebra-cabeça, explicando por que o diabetes tipo 1 progride tão mais rápido em crianças do que em adultos."

Elizabeth Robertson, diretora de pesquisa e clínica da Diabetes UK, disse: "Descobrir por que o diabetes tipo 1 é tão agressivo em crianças pequenas abre caminho para o desenvolvimento de novas imunoterapias voltadas para desacelerar ou interromper o ataque imunológico, potencialmente dando às crianças mais anos preciosos sem a terapia de insulina e, um dia, eliminando completamente a necessidade dela."