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- Author, Tessa Wong
- Role, Da BBC News em Singapura
Há 55 minutos
As autoridades chinesas começaram a construir o que vai ser a maior represa hidrelétrica do mundo em território tibetano — um projeto que despertou preocupações na Índia e em Bangladesh.
No sábado (19/7), o primeiro-ministro da China, Li Qiang, presidiu uma cerimônia que marcou o início da construção da barragem no Rio Yarlung Tsangpo, de acordo com a imprensa local.
O rio flui pelo Planalto Tibetano — e o projeto gerou críticas por seu possível impacto sobre milhões de indianos e bengalis que vivem a jusante, assim como sobre o meio ambiente e os tibetanos locais.
Pequim afirma que o projeto, com um custo estimado de 1,2 trilhão de yuans (cerca de R$ 928 bilhões), vai priorizar a proteção ecológica e impulsionar a prosperidade local.
Quando concluído, o projeto — também conhecido como Estação Hidrelétrica de Motuo — vai superar a barragem de Três Gargantas como a maior do mundo, e vai ser capaz de gerar três vezes mais energia.
Especialistas e autoridades têm manifestado receio de que a nova represa permitiria à China controlar ou desviar o Rio Yarlung Tsangpo, que flui em direção ao sul, para os Estados indianos de Arunachal Pradesh e Assam, assim como para Bangladesh, onde deságua nos rios Siang, Brahmaputra e Jamuna.
Um relatório de 2020 publicado pelo Lowy Institute, um think tank com sede na Austrália, observou que "o controle sobre esses rios [no Planalto Tibetano] oferece efetivamente à China um estrangulamento sobre a economia da Índia".
Em entrevista à agência de notícias PTI no início deste mês, o ministro-chefe de Arunachal Pradesh, Pema Khandu, manifestou preocupação de que os rios Siang e Brahmaputra poderiam "secar consideravelmente" quando a barragem fosse concluída.
Ele acrescentou que a represa "vai causar uma ameaça existencial às nossas tribos e meios de subsistência", e disse: "Isso é muito grave porque a China pode até usar isso como uma espécie de 'bomba de água'".
"Suponha que a represa seja construída, e eles liberem água de repente, todo o nosso cinturão de Siang vai ser destruído", ele adverte. "Em particular, a tribo Adi e grupos semelhantes... veriam todas as suas propriedades, terras e, especialmente, a vida humana, sofrerem efeitos devastadores."
Em janeiro, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia informou que o país havia manifestado sua preocupação em relação ao impacto das megabarragens à China, e pedido a Pequim que "garantisse que os interesses dos Estados a jusante" não fossem prejudicados. Eles também enfatizaram a "necessidade de transparência e consulta com os países a jusante".
A Índia planeja construir uma barragem hidrelétrica no Rio Siang, que atuaria como uma proteção contra a liberação repentina de água da represa da China, e evitaria inundações em suas áreas.
O Ministério das Relações Exteriores da China havia respondido anteriormente à Índia, dizendo em 2020 que a China tem o "direito legítimo" de represar o rio, e que considerou os impactos a jusante.
Bangladesh também expressou preocupação em relação ao projeto à China, e em fevereiro as autoridades enviaram uma carta a Pequim solicitando mais informações sobre a barragem.
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Há muito tempo as autoridades chinesas estão de olho no potencial hidrelétrico do local da represa na Região Autônoma do Tibete.
A barragem fica em um enorme cânion que é considerado o cânion terrestre mais profundo e comprido do mundo, ao longo de um trecho em que o Yarlung Tsangpo — o rio mais extenso do Tibete — faz uma curva acentuada em "U" ao redor da montanha Namcha Barwa.
No processo de fazer essa curva — que ficou conhecida como "a Grande Curva" —, o rio cai centenas de metros em elevação.
Reportagens anteriores indicavam que as autoridades planejavam perfurar vários túneis de 20 quilômetros de comprimento na montanha Namcha Barwa, por meio dos quais desviariam parte do rio.
No fim de semana, uma reportagem da agência de notícias Xinhua sobre a visita de Li Qiang informou que os engenheiros realizariam uma obra de "realinhamento" e "desviariam a água por meio de túneis" para construir cinco estações de energia em cascata.
A Xinhua também noticiou que a eletricidade da barragem hidrelétrica seria transmitida principalmente para fora da região para ser usada em outros lugares, ao mesmo tempo em que atenderia às necessidades do Tibete.
A China está de olho nos vales íngremes e nos rios caudalosos do oeste rural — onde estão localizados os territórios tibetanos — para construir megabarragens e usinas hidrelétricas que possam sustentar as metrópoles do leste do país, sedentas por eletricidade. O presidente chinês, Xi Jinping, promoveu pessoalmente essa iniciativa em uma política chamada "xidiandongsong", ou "envio de eletricidade do oeste para o leste".
O governo chinês e a mídia estatal têm apresentado essas represas como uma solução vantajosa para todos, que reduz a poluição e gera energia limpa, ao mesmo tempo em que melhora a vida dos tibetanos da zona rural.
No entanto, ativistas afirmam que as represas são o exemplo mais recente da exploração dos tibetanos e de suas terras por Pequim — e protestos anteriores foram reprimidos.
No ano passado, o governo chinês deteve centenas de tibetanos que estavam protestando contra outra barragem hidrelétrica. O protesto terminou em prisões e agressões, com algumas pessoas gravemente feridas, conforme apurado pela BBC por meio de fontes e imagens de vídeo verificadas.
Há também preocupações ambientais em relação à inundação de vales tibetanos conhecidos por sua biodiversidade, e os possíveis riscos da construção de represas em uma região repleta de falhas geológicas que podem causar terremotos.
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