Crédito, Getty Images
- Author, Jeremy Howell
- Role, BBC World Service
Há 20 minutos
Nesta terça-feira (11/3), autoridades dos Estados Unidos e da Ucrânia devem se reunir na Arábia Saudita para conversas que podem levar a um acordo de paz com a Rússia.
O governo saudita diz que assumirá um papel ativo como mediador entre as partes em guerra.
O pequeno vizinho da Arábia Saudita, o Catar, também se tornou um pacificador de renome mundial nas últimas duas décadas.
Então, por que esses dois vizinhos escolheram ser mediadores internacionais da paz? E quais os efeitos que isso tem na relação entre eles?
Por que a Arábia Saudita quer fazer acordos de paz?
Crédito, Getty Images
A Arábia Saudita adotou um papel de mediadora da paz após vários anos caracterizados por uma abordagem mais agressiva.
Em 2015, o país interveio na guerra civil do Iêmen para apoiar o governo, conduzindo ataques aéreos e ataques de artilharia contra os rebeldes houthis.
Em 2017, o governo do Líbano acusou a Arábia Saudita de deter o primeiro-ministro libanês, Saad al-Hariri, para tentar forçá-lo a renunciar.
Em 2018, o jornalista Jamal Khashoggi - um crítico do governo saudita - foi assassinado por agentes do governo na embaixada da Arábia Saudita em Istambul.
"A liderança inicial de Mohammed bin Salman trouxe confronto", afirmou Paul Salem, do Middle East Institute, em Washington DC, nos EUA.
"No entanto, a liderança decidiu que pode fazer melhor mediando acordos de paz do que intensificando conflitos", disse ele à BBC.
A Arábia Saudita tem intermediado acordos de paz principalmente para melhorar a estabilidade no Oriente Médio, diz Elizabeth Dent, do Washington Institute, um think tank sediado nos EUA especializado em assuntos sobre o Oriente Médio.
"Esta é uma parte importante de sua estratégia - acabar com sua dependência das exportações de petróleo e atrair negócios estrangeiros para ajudar a desenvolver novos setores econômicos", disse ela à BBC.
Qual sucesso a Arábia Saudita teve ao fechar acordos de paz?
Crédito, Getty Images
A história da Arábia Saudita como pacificadora no Oriente Médio remonta a várias décadas.
Em 1989, o país mediou as negociações entre as partes beligerantes do Líbano que levaram ao Acordo de Taif e a um cessar-fogo em 1990. Isso encerrou 15 anos de guerra civil no país.
Em 2007, a Arábia Saudita intermediou o Acordo de Meca, que encerrou as hostilidades entre os grupos palestinos Hamas e Fatah.
Recentemente, com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman como governante, a Arábia Saudita assumiu o papel de pacificadora novamente.
Desde 2022, a Arábia Saudita mantém negociações com os rebeldes houthis no Iêmen para tentar chegar a um cessar-fogo naquele país.
Também sedia conversas de longa duração entre os dois lados do conflito do Sudão - os governantes militares do país, as Forças Armadas Sudanesas e o grupo paramilitar rebelde, as Forças de Apoio Rápido.
A Arábia Saudita também supervisionou um acordo em 2022 entre a Rússia e a Ucrânia, no qual mais de 250 prisioneiros de guerra capturados no conflito entre os dois países foram devolvidos aos seus respectivos lados.
O Catar foi um mediador-chave em uma equipe de nações (junto com o Egito e os EUA) que conseguiu intermediar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas em janeiro de 2025.
Em 2020, o Catar mediou um acordo de paz entre o Talibã e os EUA para encerrar a guerra de 18 anos no Afeganistão, com os EUA e seus aliados retirando suas forças e o Talibã assumindo o controle do país.
Em 2010, o país também intermediou um cessar-fogo entre o governo e os rebeldes houthis no Iêmen — o acordo, posteriormente, desmoronou.
O Catar também intermediou acordos de paz na África. Um deles foi o cessar-fogo de 2022 entre o governo do Chade e dezenas de grupos de oposição.
Outro foi o acordo de paz de 2010 entre o governo do Sudão e grupos armados na província ocidental de Darfur.
Em 2008, o governo do Catar mediou um acordo entre facções rivais no Líbano, quando as hostilidades entre elas ameaçaram explodir em uma nova guerra civil.
Por que o Catar quer ser um mediador da paz?
Crédito, Getty Images
O Catar começou a exercer um papel de destaque como mediador da paz sob Hamad bin Khalifa al-Thani, que se tornou o emir (comandante militar) da nação em 1995 (e ficou no poder até 2013).
Uma razão fundamental para isso é que o Catar queria desenvolver uma reserva de gás no Golfo chamada North Dome/South Pars, que havia sido descoberta em 1990.
Como o campo se espalhava pelas águas territoriais do Catar e do Irã, o Catar precisava cooperar com o Irã para fazer isso - embora o Irã fosse o adversário da Arábia Saudita na época, afirma HA Hellyer, do Royal United Services Institute em Londres, Reino Unido.
"Quando o Catar descobriu seu campo de gás, percebeu que precisava abrir um caminho para si mesmo", disse ele à BBC.
O Catar escolheu desempenhar o papel de mediador da paz, explica o especialista, porque "ter relacionamentos positivos generalizados com muitas nações estabelece uma rede de nações que podem ajudar e apoiar você".
O papel de mediador da paz do Catar está consagrado na Constituição adotada em 2004.
"O Catar escolheu a intermediação internacional como uma de suas marcas nacionais", afirma Salem.
Crédito, Getty Images
O Catar é frequentemente escolhido como o país para intermediar acordos de paz porque mantém vínculos com grupos com os quais a Arábia Saudita e outros não lidam.
"O Catar não tem a mesma antipatia profunda por grupos islâmicos - como a Irmandade Muçulmana, o Hamas e o Talibã - como os sauditas têm", afirma Salem.
Ele diz que os vínculos que o Catar havia fomentado com o Talibã o ajudaram a ser uma ponte entre ele e os EUA, e os vínculos que ele havia fomentado com o Hamas e Israel o ajudaram a intermediar o recente cessar-fogo entre esses dois lados.
"A Arábia Saudita lida com casos e jogadores ortodoxos, o Catar com os não ortodoxos", afirma Elizabeth Dent.
No entanto, o Catar antagonizou a Arábia Saudita ao apoiar grupos como a Irmandade Muçulmana, que o governo saudita vê como uma ameaça ao seu governo.
"Na Primavera Árabe [de 2010 e 2011], o Catar deu apoio irrestrito a grupos de oposição em lugares como Síria e Líbia", afirma Dent. "Ele deixou sua posição muito clara."
Isso levou à "fenda do Golfo" de 2017, na qual a Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio cortaram todos os laços com o Catar.
"Após essa ruptura, o Catar não se arriscou tanto em suas negociações com grupos extremistas sem consultar seus vizinhos primeiro", explica Dent. "Agora, é um país mais neutro."
E o Catar e a Arábia Saudita não entram em conflito sobre quem vai intermediar um acordo de paz, diz Hellyer.
"O Catar não quer competir com a Arábia Saudita hoje em dia, e a Arábia Saudita não quer assumir nenhum dos casos do Catar", diz ele.
"Infelizmente, ainda há conflitos suficientes no mundo para mantê-los ocupados."
Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro