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Protestos contra Trump levam clima de festa de rua a cidades dos EUA; republicanos chamam atos de 'antiamericanos'

Em muitos lugares, os eventos pareciam mais uma festa de rua. O Partido Republicano minimizou as manifestações como "protestos antiamericanos".

Os manifestantes lotaram a Times Square, em Nova York, e se reuniram aos milhares em parques de Boston, Atlanta e Chicago. Grandes atos também foram registrados em Washington e no centro de Los Angeles.

Houve bandas marciais, enormes faixas com o preâmbulo “We, the people” ("Nós, o povo") da Constituição dos EUA e manifestantes com fantasias.

Manifestantes usam fantasias infláveis e carregam cartazes durante um protesto 'No Kings' em Washington — Foto: Alex Brandon/AP Photo

Esta foi a terceira mobilização em massa desde a volta de Trump à Casa Branca, e ocorreu em meio a uma paralisação do governo que não só fechou serviços federais, mas também testa o equilíbrio de poderes, enquanto um Executivo agressivo confronta o Congresso e os tribunais de forma que organizadores dos protestos alertam ser um deslize rumo ao autoritarismo.
  • 💰 A paralisação do governo americano, conhecida como shutdown, ocorreu após o Congresso não conseguir aprovar um projeto orçamentário para estender o financiamento federal. Com o governo impedido de gastar, milhares de servidores públicos foram colocados em licença, enquanto outros, que trabalham em serviços essenciais, podem ter os salários suspensos.

Em Washington, o veterano da Guerra do Iraque Shawn Howard disse à agência de notícias Associated Press que nunca tinha participado de um protesto, mas se sentiu motivado a comparecer por ver o que considera o “desrespeito à lei” da administração Trump. Segundo ele, detenções migratórias sem devido processo e uso de tropas em cidades americanas são atitudes “antiamericanas” e sinais alarmantes de erosão da democracia.

Trump, por sua vez, passou o fim de semana em sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida.

"Dizem que estão se referindo a mim como um rei. Eu não sou um rei", disse o presidente em entrevista à Fox News exibida na sexta-feira de manhã, antes de viajar para um jantar de arrecadação de US$ 1 milhão por prato em seu clube.

Uma conta da campanha de Trump nas redes sociais zombou dos protestos ao publicar um vídeo gerado por computador com o presidente vestido como monarca, usando coroa e acenando de uma sacada.

🔢 Mais de 2.600 atos foram planejados para sábado, segundo os organizadores. A marcha nacional contra Trump e Musk no início do ano teve 1.300 locais registrados, enquanto o primeiro “No Kings Day”, em junho, registrou 2.100.

Times Square, em Nova York, durante o protesto 'No Kings' deste sábado (19) — Foto: Olga Fedorova/AP Photo

Em São Francisco, centenas de pessoas formaram com os próprios corpos as palavras “No King!” e outras frases na praia de Ocean Beach. Hayley Wingard, vestida de Estátua da Liberdade, disse que também nunca tinha ido a um protesto antes. Só recentemente passou a ver Trump como um “ditador”.

“Eu estava até ok com tudo até descobrir a invasão militar em Los Angeles, Chicago e Portland — Portland me incomodou mais, porque sou de lá e não quero militares nas minhas cidades. Isso é assustador”, disse Wingard.

Dezenas de milhares se reuniram no centro de Portland para um ato pacífico. Mais tarde, a tensão aumentou quando algumas centenas de manifestantes foram a um prédio do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), com agentes federais disparando gás lacrimogêneo em certos momentos para dispersar a multidão e a polícia local ameaçando prisões caso ruas fossem bloqueadas.

  • 🔎 O ICE é a agência designada por Trump para deter imigrantes em situação irregular em todo o país, seguindo uma promessa de campanha do republicano. A atuação dos agentes de imigração tem gerado protestos pelos EUA.

O prédio tem sido palco de pequenos protestos noturnos desde junho — motivo usado pelo governo Trump para tentar enviar a Guarda Nacional a Portland, medida temporariamente bloqueada por um juiz federal.

Manifestantes fazem concentração antes de marcha de protesto em Portland — Foto: Jenny Kane/AP

Organizadores querem construir uma oposição

"Grandes atos como este dão confiança a pessoas que estavam à margem, mas prontas para se manifestar", disse o senador democrata Chris Murphy à Associated Press.

Embora protestos no início do ano — contra os cortes de Elon Musk e o desfile militar de Trump — tenham reunido multidões, organizadores dizem que este unifica a oposição.

Líderes democratas como o chefe da minoria no Senado, Chuck Schumer, e o senador independente Bernie Sanders aderiram ao que os organizadores veem como antídoto às ações de Trump, desde a repressão à liberdade de expressão até operações migratórias em estilo militar.

“Estamos aqui porque amamos os Estados Unidos”, disse Sanders ao público em Washington. Ele afirmou que o experimento americano está “em perigo” sob Trump, mas insistiu: “Nós, o povo, vamos governar.”

Críticos republicanos condenam

Republicanos tentaram retratar os manifestantes como radicais fora da corrente principal e principal motivo para a paralisação do governo.

Da Casa Branca ao Capitólio, líderes do Partido Republicano os chamaram de “comunistas” e “marxistas”. Disseram que líderes democratas como Schumer estão reféns da ala mais à esquerda e dispostos a manter o governo fechado para agradar essas forças liberais.

“Eu encorajo vocês a assistirem — chamamos de protesto ‘Odeiam a América’ — que acontecerá sábado”, disse o presidente da Câmara, Mike Johnson, da Louisiana.

“Vamos ver quem aparece”, disse Johnson, listando grupos como “tipos antifa”, pessoas que “odeiam o capitalismo” e “marxistas em plena exibição”.

A polícia de Nova York não registrou prisões durante os protestos.

Democratas tentam se recuperar em meio ao impasse

Os democratas se recusam a votar projetos para reabrir o governo enquanto exigem verbas para saúde. Os republicanos dizem estar dispostos a discutir o tema depois, apenas após a reabertura.

A situação é uma possível virada em relação a apenas seis meses atrás, quando democratas e aliados estavam divididos e desanimados. Schumer, em particular, foi criticado por permitir que uma lei de verbas anterior passasse no Senado sem usá-la para desafiar Trump.

“O que estamos vendo dos democratas é alguma espinha dorsal”, disse Ezra Levin, cofundador do Indivisible, um dos principais grupos organizadores. “A pior coisa que os democratas poderiam fazer agora é se render.”

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