Homem usa binóculo para obervar o horizonte

Crédito, Getty

Legenda da foto, Isfahan abriga instalações militares importantes para Teerã
  • Author, Baran Abbasi e Tom Spender
  • Role, Da BBC Persian
  • Há 9 minutos

Famosa pelos seus palácios, mesquitas e minaretes de azulejos, Isfahan, onde se ouviram explosões durante a madrugada de sexta-feira(19/4), é também um importante centro da indústria militar iraniana.

A terceira maior cidade do Irã, apelidada de "Nesf-e-Jahaan" ou meio do mundo, está localizada no centro do país, perto das montanhas Zagros.

A cidade e a região ao seu redor são um centro de fabricação de drones e mísseis balísticos.

Relativamente perto, está localizada a usina nuclear de Natanz, o ponto mais importante do programa de enriquecimento nuclear do país.

Provavelmente foi isso que a fez virar alvo de Israel. Israel não confirmou a sua responsabilidade pelo ataque, mas seu governo anunciou há poucos dias que responderia ao lançamento de centenas de mísseis e drones iranianos contra o seu território no último fim de semana.

Esse ataque massivo, que não causou grandes danos, foi a resposta do Irã à ofensiva ao seu consulado em Damasco, no qual vários dos seus generais foram mortos e pelo qual Teerã culpou os israelenses.

O nome de Isfahan está intimamente ligado às instalações nucleares do Irã, por isso a mensagem do ataque desta sexta-feira não passará despercebida por seus líderes.

Se foi realmente um ataque israelense, parece que o governo de Benjamin Netanyahu tentou deixar claro ao Irã que tem capacidade para atacar esses alvos sensíveis, mesmo que até agora tenha se abstido de fazê-lo efetivamente.

As autoridades iranianas anunciaram rapidamente que as instalações nucleares na província de Isfahan eram “completamente seguras”. O Irã, que não possui armas nucleares, nega que esteja tentando usar o seu programa nuclear civil para fabricá-las.

Informações contraditórias

No entanto, há relatos conflitantes sobre o que aconteceu na madrugada de sexta-feira. O porta-voz do Centro Nacional do Ciberespaço do Irã, Hossein Dalirian, disse que "vários" drones foram "abatidos com sucesso" e rejeitou relatos de que um ataque com mísseis teria ocorrido.

Alguns meios de comunicação iranianos relataram três explosões perto do aeroporto de Isfahan e de uma base aérea.

O comandante-chefe do exército iraniano, Abdolrahim Mousavi, atribuiu as explosões de sexta-feira ao “disparo de sistemas de defesa aérea contra um objeto suspeito”.

A imprensa e as autoridades iranianas disseram que o incidente envolveu três drones lançados por “infiltrados”.

A Força Aérea Iraniana tem uma base no aeroporto de Isfahan, que abriga alguns de seus caças F-14 mais antigos.

O Irã adquiriu este caça de fabricação americana pela primeira vez na década de 1970, quando o Xá reinou e manteve boas relações com Washington. E tem conseguido manter a sua frota operacional desde então. É o único país do mundo que mantém dispositivos operacionais que ficaram famosos pelo filme Top Gun — Ases Indomáveis, de 1986.

Isfahan foi alvo de ataques anteriores pelos quais Israel foi responsabilizado. Em Janeiro de 2023, o Irã culpou Israel por um ataque de drone a uma fábrica de munições no centro da cidade. O ataque teria sido realizado usando quadricópteros, que são pequenos drones com quatro hélices.

Foto ampliada de Isfahan com muitas pessoas caminhando

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Pessoas caminhando normalmente em Isfahan após o ataque

"Muito significativo"

Hamish de Bretton-Gordon, um especialista em armas químicas que foi chefe das forças nucleares do Reino Unido e da Otan, disse à BBC que atacar Isfahan é “muito significativo” devido ao número de bases militares na região e nos seus arredores.

Ele acrescentou que o alegado ataque com mísseis ocorreu “muito perto de onde pensamos que o Irã esteja tentando desenvolver armas nucleares, então talvez seja uma referência a isso”.

Para o especialista, o ataque israelense foi “em grande parte uma demonstração de força e talvez de intenção”. Ele disse que a maioria dos mais de 300 drones e mísseis que o Irã disparou contra Israel no fim de semana passado foram interceptados, enquanto Israel disparou “um, talvez dois” mísseis contra um alvo e teria causado “danos”.

Ele sublinhou que as autoridades iranianas estão minimizando a importância do ataque porque não querem divulgar o sucesso de Israel na penetração nos "desatualizados" sistemas de defesa antiaérea do Irã.

“Israel ultrapassa de longe o Irã em termos militares e esta é uma demonstração disso”, disse ele.

Imagem de caça F-14

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O Irã é o único país que ainda opera os antigos caças F-14 americanos e alguns deles estão em Isfahan

“O Irã preferiria lutar nas sombras, usando os seus grupos terroristas e aliados, em vez de confrontar Israel diretamente de uma forma convencional, onde sabe que sofreria um verdadeiro golpe”, disse o especialista.

A impressão dele é o que os comentários vindos de Moscou parecem confirmar. "A Rússia, que tem uma cooperação militar cada vez mais estreita com o Irã, comunicou a Israel que o Irã 'não quer uma escalada'", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, na sexta-feira.

"Houve contatos telefônicos entre a liderança russa e a iraniana, nossos representantes e os israelenses. "Deixamos isso muito claro nessas conversas. Dissemos aos israelenses que o Irã não quer uma escalada", disse Lavrov à rádio russa.

De Bretton-Gordon disse que o Irã “restaurou ligeiramente seu orgulho” depois de atacar Israel no fim de semana passado e provavelmente quer deixar as coisas como estão por enquanto.

"Ele sabe que Israel está absolutamente determinado e parece ter o apoio dos Estados Unidos e de outros países. O Irã realmente não pode contar com muita ajuda, talvez um pouco da Rússia, que está muito interessada em manter o foco no Oriente Médio e não na Ucrânia. Mas, fora isso, está um pouco isolado", disse ele.

“A última coisa que querem é que algumas das suas principais instalações sejam atacadas”, concluiu o especialista.