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- Author, Redação
- Role, BBC News Mundo
Há 11 minutos
Mahmoud Khalil, aluno da Universidade de Columbia, em Nova York, se tornou a primeira vítima da nova política do presidente Donald Trump, que prometeu acabar com os protestos estudantis e ameaçou deportar estudantes estrangeiros que fossem "simpatizantes de terroristas".
"Esta é a primeira prisão de muitas que virão", disse Trump em sua plataforma de rede social Truth Social, acusando Khalil de ser um "estudante radical a favor do Hamas", grupo militante islâmico que controla a Faixa de Gaza.
Khalil, um refugiado palestino criado na Síria, foi detido neste fim de semana por agentes do Departamento de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), segundo sua advogada, Amy Greer.
Os agentes apareceram na residência dele, um alojamento de propriedade da universidade, quando Khalil e a esposa tinham acabado de voltar de um jantar do Ramadã. Eles comunicaram a ele que seu visto de estudante havia sido revogado, e o levaram sob custódia.
A tentativa de deportação foi temporariamente suspensa por um juiz federal, que vai analisar o caso em uma audiência de emergência nesta quarta-feira (12/03), na qual Khalil deve comparecer.
Estudante de pós-graduação na Escola de Relações Públicas e Internacionais, Khalil é casado com uma americana, que está grávida de 8 meses, e tem um cartão de residência permanente (green card) que, segundo informaram os agentes de imigração à sua advogada, também havia sido revogado.
'Um preso político nos Estados Unidos'
A Universidade de Columbia foi o epicentro dos protestos estudantis a favor dos palestinos em todo o país, no ano passado, contra a guerra em Gaza e o apoio dos EUA a Israel, e Khalil foi o principal negociador do acampamento no campus de Manhattan.
A prisão dele provocou indignação entre grupos de direitos humanos e a comunidade universitária nos EUA.
A presidente da União das Liberdades Civis de Nova York, Donna Lieberman, chamou a deportação de Khalil de "retaliação seletiva e um ataque extremo à Primeira Emenda".
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A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, que acompanha o caso, também se mostrou "extremamente preocupada".
Cerca de mil manifestantes carregando bandeiras palestinas se reuniram em Manhattan na segunda-feira (10/3) para pedir a libertação de Khalil e condenar as ações do novo governo Trump. Pelo menos uma pessoa foi detida.
"Agora nos deparamos com a terrível realidade de que um de nossos alunos, um membro da comunidade de Columbia, se tornou um preso político aqui nos Estados Unidos", afirmou Michael Thaddeus, professor da Universidade de Columbia.
"Este é um momento sombrio na história americana", acrescentou Thaddeus, em uma coletiva de imprensa com outros 50 professores. "Não podemos dar mais nenhum passo neste caminho autoritário".
O caso de Mahmoud Khalil "parece uma clara perseguição a ativistas, e abre um precedente muito, muito perigoso", disse à agência de notícias AFP Tobi, um manifestante de 42 anos que não quis revelar seu sobrenome por medo de represálias, classificando o caso como "um sequestro".
Sem acusações
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"Revogaremos os vistos e/ou cartões de residência dos apoiadores do Hamas nos Estados Unidos para que possam ser deportados", publicou o secretário de Estado americano, Marco Rubio, no X (antigo Twitter) no domingo (9/3).
A advogada de Khalil, Amy Greer, classificou o que aconteceu com seu cliente como um "erro terrível e indesculpável — e calculado". Ela descreveu sua detenção como parte da "repressão aberta do governo americano ao ativismo estudantil e à expressão política".
Khalil, que não foi acusado de nenhum crime, foi inicialmente detido em um centro de imigração de Nova Jersey antes de ser transferido para um centro de detenção em Jena, na Louisiana, de acordo com os registros do ICE.
A advogada afirma que o ICE também ameaçou deter a esposa dele, uma cidadã americana que está grávida de oito meses. Quando ela tentou visitá-lo em Nova Jersey, os funcionários disseram que ele não estava lá.
A Universidade de Columbia informou que as forças de segurança podem entrar nas instalações do campus com um mandado, mas negou que a administração da universidade tenha convidado agentes do ICE.
O Departamento de Segurança Nacional pode revogar uma autorização de residência e iniciar um processo de deportação contra seus titulares por uma ampla variedade de atividades criminosas, como apoiar um grupo terrorista.
No entanto, especialistas em direito disseram à agência de notícias AP que a detenção de um residente permanente legal que não foi acusado de nenhum crime "constitui uma medida extraordinária com uma base jurídica incerta".
Segundo Camille Mackler, fundadora da Immigrant ARC, uma rede que oferece serviços jurídicos em Nova York, "isso parece uma retaliação contra alguém que expressou uma opinião que não agradou ao governo Trump", conforme publicou a AP.
Khalil desempenhou um papel relevante como negociador entre a direção da universidade e os estudantes que montaram um grande acampamento de protesto nas dependências do campus no ano passado.
Alguns estudantes chegaram a assumir o controle de um dos prédios da universidade por várias horas antes de a polícia entrar no campus para prendê-los. Mas Khalil não fazia parte deste grupo.
Após este incidente, Mahmoud Khalil disse à BBC que havia sido temporariamente suspenso pela universidade.
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Cortes à universidade
A prisão de Khalil acontece depois que Trump emitiu uma ordem executiva em janeiro alertando que qualquer pessoa envolvida em "protestos pró-jihadistas" e "todos os simpatizantes do Hamas em campi universitários" seriam deportados.
Alguns estudantes judeus da universidade denunciaram que os discursos nestes protestos às vezes beiravam o antissemitismo, embora outros tenham se juntado às manifestações a favor dos palestinos.
O novo governo Trump acusou a Universidade de Columbia de não combater o antissemitismo no campus e, na semana passada, decidiu rescindir US$ 400 milhões em subsídios federais para a universidade.
O cancelamento destes fundos "vai ter um impacto imediato na pesquisa e em outras funções essenciais da universidade", anunciou a presidente interina da Universidade de Columbia, Katrina Armstrong, em um e-mail para todo o campus na última sexta-feira (7/3).
Carly, uma estudante de pós-graduação da Universidade de Columbia, que é judia, americana e amiga de Khalil, disse à BBC que ele é "uma pessoa muito, muito compassiva".
"Ele tem sido alvo de muitos ataques na internet e, para alguém que o conhece pessoalmente, é muito doloroso ver como ele foi distorcido", afirmou Carly, que não quis compartilhar seu sobrenome por motivos de privacidade.
Em declaração à rede americana Fox News, o 'czar da fronteira' do governo Trump, Tom Homan, alegou que Khalil havia violado as condições de seu visto ao "fechar prédios e destruir propriedades".
*Com reportagem de Madeline Halpert, Rachel Looker, Nomia Iqbal e Nada Tawfik.
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