Famílias carregando seus pertences entram no norte do Líbano

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Famílias da minoria alauita entram no norte do Líbano, fugindo da violência sectária na Síria

Há 11 minutos

O líder interino da Síria, Ahmad al-Sharaa, fez um apelo à unidade nacional, enquanto a onda de violência e assassinatos por vingança continua em áreas do país consideradas leais ao ex-presidente deposto Bashar al-Assad.

Isso acontece após dias de confrontos durante os quais membros das forças de segurança do novo governo teriam supostamente matado centenas de civis da minoria religiosa alauita.

Mas, afinal, quem são os alauitas, e em que eles acreditam? E por que esta comunidade parece estar sendo alvo de ataques agora?

Um histórico de perseguição e política

A minoria religiosa alauita é uma ramificação do islamismo xiita, que surgiu nos séculos 9 e 10 na Síria.

Alawita significa "seguidor de Ali", que era primo e genro do profeta Maomé. Eles compartilham com os muçulmanos xiitas a crença de que o imame Ali era o verdadeiro herdeiro do profeta.

Eles são uma pequena minoria na Síria que sobreviveu à perseguição e às Cruzadas, e chegou ao establishment sírio durante o governo dinástico da família Assad, que é alauita e ficou mais de 50 anos no poder até o ano passado.

As práticas alauitas, que supostamente incluem a celebração do Natal e do ano novo zoroastriano, são pouco conhecidas até mesmo pela maioria dos muçulmanos.

Eles representam cerca de 10% da população da Síria, e são o segundo maior grupo religioso do país, depois dos muçulmanos sunitas.

Os alauitas estão localizados principalmente nas províncias costeiras sírias de Latakia e Tartus, mas também são encontrados na Turquia, no Iraque e no Líbano.

Mapa da Síria

Após um golpe em 1970, liderado pelo pai do ex-presidente Bashar al-Assad, Hafez, os alauitas consolidaram o poder sobre as principais instituições e o aparato de segurança da Síria.

Os alauitas são vistos por outros muçulmanos do Oriente Médio como muito liberais ou até mesmo seculares. Sob o regime de Assad, as mulheres não eram incentivadas a usar o hijab (véu islâmico), e muitas optam por não jejuar ou orar. Alguns muçulmanos até consideram os alauitas um segmento herege.

A influência e o controle ostensivos sobre as engrenagens do poder mantidos pelo grupo em um país dominado pelos sunitas desapareceram da noite para o dia depois que Assad fugiu para a Rússia, em dezembro do ano passado.

O que levou aos assassinatos?

Um membro da segurança leal ao novo governo sírio segura uma arma enquanto as pessoas protestam contra o assassinato de civis

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Um membro da segurança leal ao novo governo sírio empunha uma arma enquanto as pessoas protestam contra a onda de violência e assassinatos

O ex-líder deposto Bashar al-Assad, que é alauita, também favoreceu e promoveu a nomeação de alauitas no Exército e nas forças de segurança da Síria, notoriamente violentos, que, de acordo com grupos de direitos humanos, tinham como alvo a população sunita majoritária.

Apesar disso, muitos alauitas comuns disseram que, durante o governo de Assad, eles também foram perseguidos e sofreram, principalmente quando se opunham ao governo.

A onda de violência atual começou na semana passada depois que grupos leais a Assad — que se recusaram a entregar as armas — emboscaram as forças de segurança nas cidades costeiras de Latakia e Jableh, matando dezenas de agentes.

Ghiath Dallah, ex-general de brigada do Exército de Assad, anunciou uma nova rebelião contra o atual governo, dizendo que estava criando o "Conselho Militar para a Libertação da Síria".

Alguns relatos sugerem que ex-agentes de segurança do regime de Assad, que se recusaram a entregar as armas, estão formando um grupo de resistência nas montanhas.

A percepção de que a comunidade alauita está sendo alvo é vista como um ato de vingança das atuais forças de segurança da Síria.

Moradores locais que conversaram com a BBC disseram que a maior parte da comunidade alauita rejeita as iniciativas para formação destes grupos de resistência, e culpa Dallah e outros radicais leais a Assad pela violência.

Desde o início dos assassinatos, centenas de pessoas teriam fugido de suas casas nas províncias costeiras de Latakia e Tartus — redutos de apoio a Assad.

Os moradores locais descreveram cenas de saques e assassinatos em massa, inclusive de crianças, e de corpos espalhados pelas ruas.

A BBC não conseguiu verificar o número de mortos relatado. No entanto, um grupo de monitoramento com sede no Reino Unido afirma que pelo menos 1,2 mil civis foram mortos em "massacres" visando alauitas na costa oeste, na sexta-feira (7/03) e no sábado (8/03) da semana passada.

Cerca de 231 membros das forças de segurança e 250 combatentes leais a Assad também foram mortos nos confrontos, de acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos.