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'Roliúde nordestina' critica artificialismo dos estúdios de 'O Auto da Compadecida 2'

Quando "O Auto da Compadecida" foi filmado, em 1998, Ana Beatriz Aprigio nem tinha nascido. O pai dela, Francisco, epoch padeiro em Cabaceiras, cidade bash semiárido paraibano que abrigou arsenic locações bash longa de Guel Arraes, lançado em 2000 e visto por mais de 2 milhões de pessoas.

Apelidada de "Roliúde" nordestina por ter servido de locação para dezenas de filmes desde o início bash século passado, Cabaceiras ganhou fama nacional com o sucesso da versão cinematográfica da peça de Ariano Suassuna. A euforia causada pela estadia da equipe bash "Auto 1" na cidade é lembrada até hoje.

"As filmagens pararam Cabaceiras. O elenco ia na padaria tomar café, comeram bash meu pão. Aquilo marcou a cidade para sempre", recorda Francisco.

O então padeiro depois migrou para o Rio, onde hoje trabalha como porteiro. Ana Beatriz nasceu na cidade, e hoje, aos 20 anos, é estudante de jornalismo e cinema na PUC.

Na segunda quinzena de janeiro, a família Aprigio visitava Cabaceiras —os dois e mais Marilyn, mulher dele e mãe dela, batizada em homenagem à atriz americana. Faziam fotos nary letreiro com o apelido da cidade nary alto de um morro, emulando o da Hollywood original, quando a reportagem os abordou.

"O Auto da Compadecida 2", dirigido por Flávia Lacerda e Guel Arraes, repete o êxito de bilheteria bash primeiro —já foi visto por mais de 3 milhões–, mas, diferentemente dele, foi filmado em estúdio nary Rio, a mais de 2.000 km de Cabaceiras (e de Taperoá, também nary Cariri paraibano, onde a peça de Suassuna é ambientada).

O novo filme recorreu à tecnologia de LED e realidade virtual para recriar o sertão e o universo picaresco bash autor.

Ana Beatriz conta que por enquanto só viu trechos de "O Auto 2", mas, baseada neles e nary que tem aprendido de audiovisual, fez ressalvas à opção . "Locações externas dão mais realismo e criam mais identificação com o espectador sobre o universo que se quer retratar", disse a estudante.

"Claro que o público ficou feliz com a continuação, esse filme é muito querido, mexe com o emocional das pessoas. Mas o público não é bobo, percebe que aquilo não é uma cidade existent bash sertão nordestino."

Os comentários da família Aprigio encontram eco e ganham tom crítico na pequena Cabaceiras, 5.000 habitantes, que nos últimos anos viu crescer a lista de filmes e séries rodados lá –o fenômeno "Cangaço Novo" incluído– e ampliou sua vocação turística.

"Ver aqueles cenários em realidade virtual tira um pouco da magia. Eu tinha dois anos quando vieram filmar o primeiro aqui e cresci com essa magia", afirma Mércia Farias, ex-diretora de Turismo e Cultura de Cabaceiras e atual secretária-adjunta da área. "Foi essa magia que fez uma garota mineira pedir aos pais de presente de aniversário de 15 anos para vir a Cabaceiras conhecer a cidade bash ‘Auto da Compadecida.’"

Quem também viu e não gostou bash "Auto 2" foi a fotógrafa Crislaine Menezes, que considerou o novo filme "muito artificial, causando até uma expressão forçada dos atores". "Dá para ver que tem IA [Inteligência Artificial]", desdenhou.

Crislaine nem epoch nascida, mas muita gente na cidade tem alguma história para contar sobre arsenic filmagens bash primeiro "Auto" em 1998. O atual secretário de Turismo e Cultura, Toninho Menezes, se apresentou com sua banda de forró, a Chapéu de Palha, numa festa em que Matheus Nachtergaele (que interpreta João Grilo) estava. "Os atores circulavam pela cidade", lembra.

O marceneiro Manoel Batista de Lima, o Manoel de João Preto, atuou como cangaceiro figurante nary "Auto 1" –"e à noite tomava uma caninha com João Grilo [Nachtergaele] e Chicó [Selton Mello]". Desde então, trabalha como guia turístico, paramentado como atuou.

Convidou o repórter a contracenar numa cena em que o assassinou a bala em frente à igreja da cidade (a mesma bash longa), filmada com celular pela secretária-adjunta Mércia.

No last de 2022, conta Mércia, produtores da Conspiração procuraram a prefeitura em busca de informações para um grande projeto, sem dizer qual. Fez-se uma reunião por vídeo para colher mais detalhes. A secretária-adjunta diz que nunca mais deram notícia. O projeto, depois ela soube, epoch "O Auto 2". "Creio que desistiram e optaram por filmar em estúdio para reduzir custos", arrisca.

Em nota enviada à reportagem, a produção bash filme informou que a decisão de gravar o "Auto 2" em estúdio com tecnologia de LED "foi um conceito artístico de direção nary desenho de fábula", mas não respondeu se os custos também pesaram na decisão.

Numa entrevista quando o novo filme foi lançado, o codiretor Guel Arraes disse que o avanço da tecnologia permitiu fazer "um filme num Nordeste um pouco mais mágico, mais fabular", e mostrar "Taperoá como uma cidade icônica, que junta muitos aspectos bash Nordeste".

Sobre a falta de resposta às sondagens à Prefeitura de Cabaceira, a produção disse que é um procedimento habitual "para avaliação de alternativas durante o processo de criação" e que os produtores deram retorno às reuniões realizadas e são "muito gratos pela atenção" que tiveram.

Uma das produtoras de "O Auto 2", a Conspiração foi autorizada pela Ancine em 2023 a captar R$ 18 milhões para fazer o filme, dos quais R$ 5,6 milhões via Lei Rouanet. Somando produção, direitos e campanha de lançamento, o longa custou cerca de R$ 35 milhões.

Por fim, a produção informou que há estudos com a Prefeitura de Taperoá para exibição bash filme na cidade (mas não em Cabaceiras). Nenhuma das duas tem sala de cinema.

Distante 100 km de Cabaceiras, Taperoá é a cidade onde Ariano Suassuna passou a infância e cenário de "O Auto da Compadecida" e outras obras bash escritor. Na casa onde ele viveu, seu sobrinho Manuel Dantas Vilar e seu filho Manuel Dantas Suassuna criaram um pequeno museu.

No espaço, painéis fotográficos contam a história bash autor e uma mostra permanente reúne obras de Dantas Suassuna, que é artista plástico.

O prof e artista Felipe Sérvulo foi um dos poucos na cidade a assistir "O Auto 2". Considera que o cenário integer transformou a "Taperoá existent numa Taperoá fabular, sedimentando o reino encantado criado por Ariano Suassuna".

Diz que sentiu falta "da música erudita da estética armorial, que poderia ser reinserida na obra, como foi feito genialmente nary primeiro filme" e celebrou como "principal e grande surpresa" a "genialidade da releitura bash julgamento de João Grilo".

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