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Senado aprova retirada de despesas do teto de gastos para cobrir tarifaço

Após aprovação do Senado, Câmara votará retirada do teto de gastos as despesas do tarifaço
Após aprovação do Senado, Câmara votará retirada do teto de gastos as despesas do tarifaço Imagem: Marcos Oliveira/Agência Senado

Após aprovação na Comissão de Assuntos Econômicos, o Plenário do Senado aprovou hoje o projeto de lei complementar autorizando que parte das despesas e renúncias fiscais destinadas pelo governo a empresas impactadas pelo tarifaço imposto pelos Estados Unidos fiquem de fora da meta de resultado primário e dos limites de despesa previstos no arcabouço fiscal. Agora, o projeto precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados.

O que aconteceu

O projeto viabiliza a medida provisória do governo com R$ 30 bilhões em empréstimos e renúncias fiscais. O projeto permite a conceção de renúncias fiscais via o programa Reintegra de até R$ 5 bilhões fora da meta fiscal em 2025 e em 2026 a empresas que exportam aos EUA e foram afetadas pelas novas tarifas.

A União também poderá aumentar os aportes fora da meta fiscal a três fundos garantidores. O valor até R$ 4,5 bilhões serão destinados ao Fundo de Garantia de Operações (FGO), o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI) e o Fundo Garantidor de Operações de Crédito Exterior (FGCE).

Ficará assim:

O governo poderá elevar sua participação em até R$ 1 bilhão no FGO. Mas o dinheiro só podera ser usado para cobrir operações de crédito às pessoas físicas e jurídicas exportadoras afetadas pelo tarifaço.

A União aumentará em até R$ 2 bilhões sua participação no FGI. O Fundo Garantidor para Investimentos deverá ser usado no Programa Emergencial de Acesso a Crédito.

Aportes de até R$ 1,5 bilhão serão autorizados no FGCE (Fundo Garantidor de Operações de Crédito Exterior). E haverá a opção de que companhias afetadas pelo tarifaço tenham um adicional de crédito tributário de até 3% sobre a receita com a exportação de bens industriais.

As bancadas de todos os partidos recomendaram a aprovação da medida. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), esperou quórum para concluir a votação. Dois 81 senadores, haviam apenas 68 presentes. Para que o projeto fosse aprovado, era necessária a adesão da maioria da Casa, ou 41 votos.

No fim, 64 senadores votaram. "64 senadores sim, [votaram] não, nenhum. Está aprovado com a emenda 22 e 30, com subemenda ressalvados os destaques", declarou Alcolumbre. A votação de três destaques feitos por Podemos, e PL, que viabilizam a medida, ficou para a semana que vem.

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O texto valida a MP do "Plano Brasil Soberano", programa anunciado pelo governo em agosto. Dentre as medidas do pacote, estão a criação de linha de financiamento de R$ 30 bilhões, mudança nas regras do seguro de crédito à exportação, compra pública de alimentos impactados pelas tarifas e mudanças em fundos garantidores para socorrer exportadores.

A concessão

Para conceder o benefício, o governo analisa o período em que ocorreu o impacto acima de 5% sobre o faturamento da empresa. Ele será medido entre julho de 2024 a junho de 2025. "A partir da segunda semana de setembro a gente inicia o processo de aprovação" do crédito, afirmou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante em coletiva de imprensa.

Foram abertas quatro linhas de crédito:

  1. Capital de giro: Para financiar os gastos operacionais das empresas. Taxa de 0,66% para micros, pequenas e médias empresas e 0,82% ao mês para grandes companhias. O prazo de pagamento será de cinco anos com um ano de carência.
  2. Giro de diversificação: Para ajudar empresas a buscar novos mercados. A intenção é diversificar as exportações para o Brasil "ficar menos sujeitos a choques". A taxa será de 0,66% para todos os portes de empresa. Prazo de cinco anos com um ano de carência. Micros, pequenas e médias empresas poderão tomar até R$ 35 milhões nessas duas linhas, enquanto as grandes poderão financiar até R$ 200 milhões. "Esse choque indica que a gente precisa fortalecer mais a nossa competitividade, buscar novos mercados e buscar novos mercados muitas vezes não é só capital de giro", afirmou Nelson Barbosa, diretor de Planejamento do BNDES.
  3. Linha de apoio ao investimento: Será concedida para máquinas e equipamentos. Taxa de 0,58% ao mês para todos os portes de empresas com prazo de cinco anos, além de um ano de carência. Será possível tomar até R$ 150 milhões.
  4. Linha de projetos: Voltada a projetos e desenvolvimento, com taxa de 0,58% ao mês para todos os portes de empresas com prazo de cinco anos, além de um ano de carência. Poderão financiar até R$ 150 milhões com prazo de até dez anos e dois anos de carência.

O beneficío é maior aos mais afetados. Empresas que tiverem seu faturamento com impacto igual ou superior a 20% do faturamento poderão acessar todas as linhas e garantias.

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Mais R$ 10 bilhões

O governo também concederá R$ 10 bilhões para empresas tarifadas em menos de 50%. A linha de crédito será menos vantajosa do que a concedida às empresas mais tarifadas. "Um pouco abaixo da [taxa] Selic [de 15% ao ano]", afirmou em agosto o presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, que citou frase recorrente do presidente: "Ninguém fica para trás".

O governo batizou esse financiamento de "giro emergencial complementar" e "giro de diversificação complementar". No gírio emergencial, os juros serão a base da captação de mercado, com a letra de crédito de desenvolvimento, a LCD. Será 1,15% ao ano, mais o da operação spread em cada ação. O prazo será de cinco anos, incluindo até um ano de carência.

Já o giro de diversificação vai apoiar a diversificação de exportações. Para exportar a outros mercados além dos Estados Unidos, o governo financiará com juros do FAT cambial, que é 0,29% ao mês mais a variação da taxa de câmbio.

Empresas precisam manter emprego

Ajuda só será dada a empresas que mantiverem seus funcionários. O governo vai monitorar a permanência e demissão de funcionários nas empresas beneficiadas. A referência inicial da quantitativa de empregos vai ser a média dos valores apurados entre o último dia útil de julho de 2024 e o último dia útil de junho de 2025. As demissões não serão proibidas, desde que novas contratações mantenham a média de funcionários.

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Companhias menores e mais prejudicadas terão prioridade. Empresas interessadas, com tributos e contribuições federais em dia, devem solicitar o benefício direto aos bancos. Instrumentos mecânicos, café, madeira, carne e açúcar são alguns dos produtos com vendas mais prejudicadas. Dentre os estados brasileiros, São Paulo é o mais afetado pelo tarifaço.

Outras medidas

Aprovados terão direito à suspensão de impostos federais durante dois meses e ao parcelamento de dívidas com a União. Serão suspensos o IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica), a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido), o PIS/Pasep (Programa de Integração Social/Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público) e a Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social).

Empresas beneficiadas com isenção de impostos de matérias-primas usadas na produção de produtos exportados (Drawback) terão um ano extra para vender as mercadorias finais aos EUA. Aqueles que acordaram com o governo que deveriam exportar os artigos até o fim de 2025, terão até o final do ano que vem para vendê-los aos EUA.

Reembolso de tributos sobre exportação será ampliado aos mais afetados. O programa Reintegra dará condições específicas para essas empresas: grandes e médios exportadores terão isenção de até 3,1%; para micro e pequenas empresas, a porcentagem será de até 6% dos impostos pagos ao Brasil para exportar aos EUA. As condições valem até dezembro de 2026, com limite de R$ 5 bilhões no total de isenções.

Poder Executivo poderá comprar alimentos de setores mais prejudicados. União, estados e municípios poderão fazer as compras para programas de alimentação, como merenda escolar e refeições em hospitais públicos.

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O modelo de crédito é semelhante ao que foi oferecido às empresas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul no ano passado. "Temos experiência concreta, houve aprendizado importante", disse o presidente do BNDES. "Naquela ocasião, foi decisivo delimitar o alcance, a mancha de água, as empresas que estavam afetadas por essa mancha."

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Ao contrário do que informava a reportagem e a homepage do UOL, o governo poderá retirar da meta fiscal R$ 5 bilhões em renúncias fiscais e aumentar os aportes a três fundos garantidores em até R$ 4,5 bilhões. A informação anterior dizia que a renúncia atingia os R$ 30 bilhões do pacote de ajuda do governo. O texto já foi corrigido.
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