1 dia atrás 3

Solidário nas enchentes, GNU ainda luta pela plena recuperação da Ilha do Pavão

ANUNCIE AQUI!

Arthur Reckziegel e Cássio Fonseca

Cinco metros e trinta e sete centímetros. Essa foi a altura em que água chegou nas imediações da sede da Ilha do Pavão do Grêmio Naútico União (GNU) durante as enchentes de 2024. A estrutura, que desde a primeira metade da década de 1950 é uma segunda casa para seus atletas e um refúgio para os associados que buscam tranquilidade em um local afastado do frenesi de Porto Alegre, tornou-se irreconhecível e quase invisível aos que a olhavam com certo distanciamento por algumas semanas durante o fatídico mês de maio. Entre as consequências que persistem, está a baixa na quantidade de atletas. 

As enchentes não são exatamente uma novidade para a sede do clube. Por óbvio, estando à beira do Guaíba, o local é um dos primeiros a ser atingido em caso de elevação das águas. "Estávamos preparados para a cheia, só não estávamos preparados para a intensidade. A água chegar na altura dos joelhos é algo que acontece uma vez ou outra, agora, cobrir todo o primeiro andar e quase chegar no segundo era algo inimaginável", relata o coordenador técnico da equipe de remo do GNU, Marcelos Marsilli. 

Durante o ano passado, foram necessários alguns bons mutirões para que a estrutura fosse limpa. "Fizemos uma grande força-tarefa para liberar o espaço para que nossos sócios pudessem vir aqui durante o verão. Barro, lodo, galhos, troncos e árvores transformaram completamente este cartão-postal da cidade. Aceleramos o processo de recuperação, entretanto, ainda tem uma boa parte da ilha que está interditada", embra Marsilli.

Volume da água ultrapassou os cinco metros e devastou a sede da Ilha do Pavão  | THAYNÁ WEISSBACH/JC

Volume da água ultrapassou os cinco metros e devastou a sede da Ilha do Pavão THAYNÁ WEISSBACH/JC

De acordo com Ralf Gutschwager, subgerente operacional da sede na Ilha do Pavão, a parte mais prejudicada foi a do norte da ilha, onde estão as trilhas ecológicas. A previsão para que toda sede esteja liberada ao público é a primavera deste ano.

Mesmo um ano após a catástrofe, o subgerente afirma que o valor dos danos causados à estrutura ainda são incalculáveis, pois devem aumentar. "Houve uma danificação severa na flotilha de barcos, que ainda estão sendo consertados. Até o momento, na recuperação da sede, os investimentos já ultrapassaram R$ 1 milhão", mensura.

Em termos de prevenção, o clube, além de adquirir um novo gerador que está instalado acima da cota de inundação da grande enchente de 2024, montou um plano de emergência, definindo ações para salvaguardar a maior quantidade de patrimônio possível em caso de nova catástrofe. "Faremos um monitoramento constante de informações sobre o volume de chuvas e nível dos rios que deságuam no Guaíba. Nas últimas três enchentes que nos afetaram, o volume de chuvas foi muito intenso em municípios da Serra e do Vale do Caí. Caso se repita, já iniciaremos um estado de alerta", esclarece Gutschwager. 

As cicatrizes que marcaram presença no local não eram apenas na estrutura. Houveram diversas no âmbito desportivo. "Tivemos uma grande baixa na equipe de remo, perdemos em torno de 40% do nosso core de atletas. Por exemplo, tínhamos atletas do clube na disputa por uma vaga olímpica se preparando para a seletiva na Suíça. Durante a enchente, eles ajudaram nos resgates, mas não conseguiram fazer um treinamento adequado. Tentamos achar uma solução, mas, com o aeroporto fechado, ficou muito difícil e os mesmos acabaram perdendo a chance de ir para Paris", recorda o coordenador técnico de remo.

Buscando a retomada, o clube já esta trabalhando na captação de novos atletas que possam representar o GNU nas competições da modalidade. "Essas crianças entre 11 e 14 anos são fundamentais para o nosso futuro. Na última semana, por exemplo, recebemos uma escola para que conhecessem nossa estrutura e fossem apresentados ao esporte", descreve Marsalli. 

Entre os atletas do clube que ajudaram nos resgates, estava Daniel Vasconcellos Lima, atleta sênior de remo. "Foi um momento em que eu deixei meu desempenho no esporte de lado, estava preocupado em ajudar. Esse mês de maio que marca os 365 dias desde a tragédia tem sido bem tenso. A gente começa a relembrar tudo que passou. Com certeza, existe aquele medo de viver tudo aquilo de novo. É difícil imaginar que estamos 100% seguros", desabafa o jovem.

Mas não foi só de reconstrução que o União viveu a enchente. No total, o clube tem quatro sedes e, nos outros pontos, recebeu desabrigados e foi ponto de referência no combate às cheias na Capital. O presidente, Ricardo Alves, à época diretor-secretário e vice-presidente de esportes, relembra o contato do prefeito, Sebastião Melo, com o então mandatário do GNU, Paulo Bing, às 7h do dia 4 de maio, para solicitar o apoio no recebimento dos resgatados.

Sede Moinhos de Vento recebeu cerca de 300 desabrigados em um mês | Grêmio Náutico União/Divulgação/JC

Sede Moinhos de Vento recebeu cerca de 300 desabrigados em um mês Grêmio Náutico União/Divulgação/JC

"Às 7h20min o Bing me liga e imediatamente nos deslocamos para a sede Moinhos de Vento. Às 10h daquele sábado já estávamos recebendo o pessoal. De tarde já tinha filas e filas de carros na frente, levando doações. E um monte de associados, voluntários, médicos, dentistas e veterinários se colocando à disposição", conta Alves. No total, foram 34 dias de funcionamento como abrigo e cerca de 300 pessoas recebidas no local. A atuação náutica também é destacada: "Temos um catamarã e duas barcas que fizeram, ao longo dos dias, mais de mil salvamentos".

As doações, após os primeiros dias, foram direcionadas à sede Alto Petrópolis. O voluntariado para produção de marmitas atingiu a média de 3.400 porções ao dia, entre café da manhã, almoço e janta. Já a quarta sede, União Petrópole, recebeu as famílias dos funcionários do próprio clube que também foram atingidas. Alves também fala sobre a cicatriz emocional deixada pela enchente, e alega que alguns funcionários pediram para serem realocados da Ilha do Pavão, por conta da experiência traumática.

Leia o artigo inteiro

Do Twitter

Comentários

Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro