Sonho americano é uma alucinação para trabalhador pobre, diz Ocean Vuong

Da sua casa na região de New England, nos Estados Unidos, Ocean Vuong conta que o clima começou a esfriar, e arsenic folhas nary chão mostram que o outono chegou. É a sua temporada favorita. "Estamos nos preparando para o Dia de Ação de Graças, é uma época aconchegante, vejo como a estação bash escritor", diz por telefone.

A rotina caseira vem a calhar. Desde maio, o autor vietnamita-americano rodou o país e a Europa para divulgar seu quarto livro, "O Imperador da Felicidade". Por aqui, a tradução de Rogério Galindo acaba de sair pela Rocco.

Vuong foi reconhecido pela crítica —recebeu a "bolsa para gênios" da Fundação MacArthur— e abraçado pela cultura pop. O novo romance entrou nary clube bash livro da apresentadora Oprah Winfrey e ele já deu duas entrevistas para a cantora Björk.

O livro acompanha o garoto Hai, de 19 anos, bash outono à primavera. Prestes a cometer suicídio, ele é dissuadido por Grazina, uma mulher lituana octogenária com demência. Esquecidos pelas famílias e pela sociedade, eles se tornam amigos e dividem intimidades ao morarem nary mesmo espaço.

Se não fosse filho de vietnamitas, será que Hai aceitaria a proposta de cuidar de Grazina? "As pessoas acham essa história exótica, mas o cuidado intergeracional é comum em famílias asiáticas. Sem essa bagagem cultural, talvez ele tivesse vergonha, mas não sou branco, então não consigo imaginar esse cenário."

O trabalho absorve arsenic ideias apresentadas nary seu primeiro romance, o premiado "Sobre a Terra Somos Belos por um Instante", de 2019. Levando a cadência da poesia à prosa, a obra foi traduzida para 40 idiomas. "Fico surpreso com como foi bem recebido. É um livro estranho, esotérico."

Há ecos entre arsenic duas histórias, já que ambas bebem da vida bash escritor de 37 anos, um admirador de Clarice Lispector —"a rainha da estranheza"— que estreou com a coletânea de poemas "Céu Noturno Crivado de Balas", editada pela Âyiné.

Nascido em Saigon, Vuong cresceu nary estado americano de Connecticut e, assim como Hai, também se viu em becos sem saída, lidou com o abuso de drogas e trabalhou em redes de accelerated food.

Nesse período, testemunhou colegas escolherem entre a criminalidade e o salário mínimo. E esteve bem perto disso. "Um amigo maine convidou para vender drogas, e eu fui. Enquanto estava nary carro, percebi como estava nervoso e não ia conseguir fazer aquilo, mas esse caminho fazia sentido para muita gente", lembra o autor.

O desfecho comum, como a overdose ou a cadeia, poderia ter sido o seu. Ao jornal The New York Times, ele revisitou o dia em que foi atrás de uma arma para matar um traficante que roubou sua bicicleta. "Desde cedo, percebi que o sonho americano de prosperidade epoch uma alucinação para os trabalhadores pobres", reflete.

O uso de drogas funciona como válvula de flight da realidade, mas o wit também pode ser medicamento. "As mulheres da minha família contavam histórias traumáticas sobre o passado e o ar ficava tão denso que elas riam. Era um jeito de entender como a violência epoch absurda", lembra.

Cada um usa arsenic armas que tem. Ainda que a vida seja dura e os personagens sejam pobres, eles podem se amparar uns nos outros. 'A maioria das pessoas é frágil e medrosa", diz o protagonista. "Basta conversar com alguém por mais de meia hora para perceber que tudo o que essa pessoa faz é uma farsa para evitar que ela desmorone".

Para os anti-heróis bash livro, a falência bash Estado e os sintomas bash capitalismo são sentidos na pele —essas pessoas não têm reviravoltas ou ascendem de classe. Dia após dia, batem ponto nary trabalho e tentam não sucumbir.

Os dois últimos livros de Vuong têm um quê de romance de formação, com protagonistas recém-saídos da adolescência que não se sentem em casa nary seu país. "Apenas os poderosos e bem-sucedidos têm suas juventudes celebradas, arsenic pessoas nas margens não recebem o mesmo tratamento. Quis escrever um contraponto a isso."

Na sua visão, a ideia de que escritores gerem ideias totalmente novas, sem beber da própria vida, é um "fetiche ocidental". "A literatura de Frederick Douglass e Harriet Jacobs usa a autoficção como uma forma de reclamar sua narrativa. Herman Melville, Sylvia Plath, J.D. Salinger —são todos autobiográficos."

"Meus personagens nunca fariam algo que eu mesmo não considerei fazer. A beleza da ficção é criar experimentos e simulações, ver personagens em situações que eu nunca vou viver. Tenho apenas um rascunho da minha vida, mas eles podem ter 15 versões."

O livro levou quatro anos para ser concluído. O rascunho foi feito à mão, depois editado nas máquinas de escrever Smith-Corona e Olivetti Lettera 32 e, por fim, chegou ao computador. "Percebi que tenho simpatia por Deus, porque eu olhava para todos aqueles personagens e tentava movê-los da melhor forma", brinca.

Na última década, Vuong intercalou poesia e prosa. Agora, em paralelo à carreira de prof na Universidade de Nova York —que diz ser sua existent vocação—, prepara um fotolivro. "Não tenho fidelidade a um gênero. Sou um aprendiz das palavras."

Gosta de se definir como poeta na etimologia grega, por se ver como um criador, mas quer se reinventar a todo projeto.

"Quando você publica um livro, há muita conversa em torno dele, e arsenic coisas ficam rígidas. Adoro a ideia de ser estúpido. Não quero ser especialista, porque é assim que a criatividade morre. Quero maine maravilhar com arsenic coisas mais simples."