Viswashkumar Ramesh

Legenda da foto, Em entrevista a BBC, Viswashkumar Ramesh chorou ao falar sobre a perda do irmão no acidente
    • Author, Navtej Johal
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    • Author, Katie Thompson
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    • Author, Sophie Woodcock
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  • Há 23 minutos

O único sobrevivente da queda do avião da Air India — que matou 241 pessoas a bordo — disse que se sente o "homem mais sortudo" do mundo, mas que também está sofrendo física e mentalmente.

Viswashkumar Ramesh sobreviveu aos destroços do voo com destino a Londres, que caiu em Ahmedabad, em uma cena extraordinária que impressionou o mundo.

Ele afirmou que foi um "milagre" ter escapado, mas contou que perdeu tudo: seu irmão mais novo, Ajay, estava sentado a poucas fileiras de distância e morreu no acidente, ocorrido em junho.

Desde que voltou para casa, em Leicester, Ramesh tem enfrentado transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), segundo seus assessores, e não tem conseguido conversar com a esposa e o filho de quatro anos.

O Boeing 787 foi tomado pelas chamas logo após a decolagem no oeste da Índia.

Vídeos chocantes divulgados na época mostravam Ramesh caminhando para longe dos destroços com ferimentos aparentemente leves, enquanto uma nuvem de fumaça se erguia ao fundo.

Em entrevista à BBC News, visivelmente emocionado, Ramesh — cuja primeira língua é o gujarati — disse:

"Sou o único sobrevivente. Ainda não consigo acreditar. É um milagre.

Perdi meu irmão também. Ele era meu alicerce. Nos últimos anos, sempre esteve ao meu lado."

Ele descreveu o impacto devastador que a tragédia teve em sua vida familiar:

"Agora estou sozinho. Fico no meu quarto, sem falar com minha esposa ou meu filho. Só quero ficar sozinho em casa", contou.

Legenda do vídeo, Assista: o momento em que Viswashkumar Ramesh saiu ileso do acidente

Na época, ele falou de seu leito no hospital na Índia, descrevendo como conseguiu soltar o cinto de segurança, rastejar para fora dos destroços e, durante o tratamento dos ferimentos, chegou a se encontrar com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

Entre as vítimas — passageiros e tripulantes —, 169 eram cidadãos indianos e 52 britânicos, além de 19 pessoas que morreram em solo.

Um relatório preliminar sobre o acidente, divulgado em julho pelo Escritório de Investigação de Acidentes Aéreos da Índia, apontou que o fornecimento de combustível para os motores foi interrompido poucos segundos após a decolagem. As investigações continuam, e a companhia aérea afirmou que o cuidado com o senhor Ramesh e com todas as famílias afetadas pela tragédia "permanece nossa prioridade absoluta".

Esta é a primeira vez que o homem de 39 anos fala com a imprensa desde que voltou ao Reino Unido. Diversos veículos de comunicação foram convidados para entrevistas, e uma equipe de documentário também filmava no local.

A BBC informou ter realizado conversas detalhadas com seus assessores sobre os cuidados necessários antes da entrevista.

Questionado sobre suas lembranças do dia do acidente, Ramesh respondeu:

"Não posso falar sobre isso agora."

'Estou sofrendo'

Acompanhado pelo líder comunitário local Sanjiv Patel e pelo porta-voz Radd Seiger, o senhor Ramesh disse que era doloroso demais relembrar os acontecimentos da tragédia e chegou a chorar em alguns momentos da entrevista, realizada na casa de Patel, em Leicester.

Ramesh descreveu o sofrimento que ele e sua família vêm enfrentando:

"Pra mim, depois desse acidente... está sendo muito difícil.

Fisicamente, mentalmente... e também pra minha família. Mentalmente, minha mãe — nos últimos quatro meses — fica sentada todos os dias na porta, sem falar, sem nada.

Eu não falo com mais ninguém. Não gosto de conversar com ninguém.

Não consigo falar sobre quase nada. Passo as noites pensando, sofrendo mentalmente.

Cada dia é doloroso para toda a família."

Ramesh também falou sobre os ferimentos físicos que sofreu no acidente, do qual conseguiu escapar de seu assento — o 11A — por uma abertura na fuselagem.

Ele conta que sente dores na perna, no ombro, no joelho e nas costas, e que desde a tragédia não conseguiu mais trabalhar nem dirigir.

"Quando ando, não ando direito, é devagar, devagar... minha esposa me ajuda", disse.


Na imagem, Patel aparece usando uma camisa azul, sentado em um sofá amarelo; ao fundo, há um sofá cinza com almofadas.

Legenda da foto, Sanjiv Patel afirmou que está dando apoio, orientação e proteção à família.

Ramesh foi diagnosticado com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) enquanto recebia tratamento no hospital na Índia, mas afirma que não recebeu nenhum acompanhamento médico desde que voltou para casa.

Eles o descrevem como perdido e abalado, com uma longa jornada de recuperação pela frente, e exigem uma reunião com executivos da Air India, alegando que ele tem sido maltratado pela companhia desde o acidente.

"Eles estão em crise — mental, física e financeiramente", disse Sanjiv Patel.

"Isso devastou a família dele.

Quem quer que seja responsável no mais alto nível deveria estar presente, encontrando-se com as vítimas desse evento trágico, entendendo suas necessidades e ouvindo-as."

'Colocar as coisas em ordem'

A Air India ofereceu a Ramesh uma indenização provisória de 21,5 mil libras (cerca de R$ 150 mil), que foi aceita, mas os assessores afirmam que isso não é suficiente para atender às necessidades imediatas dele.

O negócio de pesca da família, em Diu, na Índia — que Ramesh administrava com o irmão antes do acidente — entrou em colapso, segundo seus assessores.

O porta-voz da família, Radd Seiger, afirmou que convidaram a Air India para uma reunião em três ocasiões, e todas foram "ignoradas ou recusadas".

As entrevistas concedidas à imprensa foram a forma da equipe de renovar esse apelo pela quarta vez, disse ele.

Seiger acrescentou:

"É revoltante que tenhamos que estar aqui hoje, submetendo ele [Viswashkumar] a isso.

As pessoas que deveriam estar aqui hoje são os executivos da Air India, os responsáveis por tentar colocar as coisas em ordem.

Por favor, venham se sentar conosco para que possamos trabalhar juntos e tentar aliviar parte desse sofrimento."

Em comunicado, a companhia aérea, controlada pelo Grupo Tata, disse que líderes seniores da empresa continuam visitando famílias para expressar suas condolências mais profundas.

"Uma oferta foi feita aos representantes do senhor Ramesh para organizar essa reunião. Continuaremos a entrar em contato e esperamos muito receber uma resposta positiva", disse a empresa.

A Air India informou à BBC que a oferta foi feita antes das entrevistas de Ramesh à imprensa.