A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) dá início hoje à análise das acusações contra Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus. O julgamento pode levar, pela primeira vez, à condenação e prisão de um ex-presidente brasileiro por tentativa de golpe de Estado. A expectativa é ter uma conclusão até o próximo dia 12.
Além de Bolsonaro, são réus Alexandre Ramagem, deputado federal; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; o tenente-coronel Mauro Cid; e os generais e ex-ministros Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto.
Dos cinco ministros do colegiado, apenas Luiz Fux tem se apresentado como um contraponto ao relator Alexandre de Moraes. Ainda assim, nos bastidores do tribunal, é dada como baixa a possibilidade de que ele, ou outro magistrado, interrompa o julgamento com um pedido de vista.
Caso isso ocorra, o prazo máximo de devolução do processo para continuidade é de 90 dias, o que permitiria a retomada ainda neste ano.
Os cinco ministros da Primeira Turma - Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Flávio Dino - irão julgar baseados nas provas apresentadas por acusação e defesas durante a instrução do processo.
No caso da acusação, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, apresentou suas alegações finais, a versão definitiva para os fatos investigados, em 15 de julho, quando pediu a condenação dos oito réus por cinco crimes, cujas penas máximas, somadas, podem ultrapassar os 40 anos de prisão.
A primeira parte do julgamento será dedicada à leitura do relatório de Moraes, com a apresentação dos fatos, crimes apontados e um resumo do processo. A expectativa é que dure cerca de uma hora e meia.
Na sequência, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, terá duas horas para defender a condenação, seguido do advogado de Mauro Cid, por ele ser o delator. Depois é a vez dos advogados dos demais réus, com uma hora disponível para cada.
Dessa forma, apenas essa etapa deve tomar mais de 10 horas do julgamento, ocupando as sessões previstas para a primeira semana.
Após as falas dos advogados, Moraes apresenta seu voto sobre condenação ou absolvição dos réus, além de questões processuais, como a validação da delação de Mauro Cid. Isso deve ocorrer a partir de 9 de setembro e deve durar uma sessão inteira.
Os demais ministros se posicionam, inicialmente, sobre as questões processuais. Somente numa segunda rodada é que votarão sobre o mérito das acusações.
Para o recebimento da denúncia do núcleo central da denúncia da PGR, em março, o ministro falou por quase duas horas.
Naquele momento, os magistrados precisavam se posicionar se a acusação tinha elementos suficientes para tornar o grupo réu e abrir a ação penal. Agora, será a primeira vez que os ministros vão se manifestar formalmente sobre a culpabilidade dos envolvidos. A expectativa é que os votos sejam, portanto, mais longos.
Segundo interlocutores de ministros e advogados, três questões estão ainda em aberto. A primeira gira em torno da manutenção dos termos da delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Mauro Cid prestou diversos depoimentos e as defesas especialmente de Jair Bolsonaro e Braga Netto focam no questionamento das declarações e da legalidade, em si, do instrumento.
O tenente-coronel se tornou o primeiro militar delator da história do País, mas o vaivém das versões colocou o acordo em risco. Cid deve ter a colaboração validada, considerando também o peso da colaboração para a investigação, mas pode perder benefícios acertados com a Polícia Federal.
Além disso, a condenação de boa parte dos réus considerados centrais é dada como certa, mas é possível que haja absolvições. O outro ponto em aberto é em torno da dosimetria, ou seja, do tamanho das penas. Essa discussão serve como parâmetro para definição posterior de concessão de benefícios, como condicional, substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, e fixação de regime inicial mais brando (semiaberto ou aberto).
Para os condenados, a brecha para revisões será baixa. Diferente de casos como o da Lava Jato, por exemplo, que começou a tramitação nas primeiras instâncias, com o julgamento feito diretamente no STF, são poucos os recursos possíveis.
As defesas já falam em levar o caso para cortes internacionais, dada a possibilidade reduzida de recursos no Brasil.
O cumprimento de pena só deve ocorrer após o trânsito em julgado - quando estão esgotados os recursos -, conforme jurisprudência do próprio Supremo. Só aí, os réus seriam presos. Braga Netto está preso preventivamente desde 14 de dezembro de 2024. Em caso de condenação, esse tempo entra no cálculo do cumprimento de pena. O caso é diferente da prisão de Bolsonaro, que está em casa.
Com o julgamento feito na Turma, haveria uma possibilidade extra, os chamados embargos infringentes. Esses cabem se dois dos cinco ministros ficarem vencidos: trata-se de um tipo de recurso para quando a decisão não é unânime e que pode levar o caso ao plenário.
Essa perspectiva não está no horizonte. Apesar das divergências de Fux, Moraes tem tido apoio amplo de Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.
Entenda o julgamento
Crimes em análise
- liderar ou integrar organização criminosa armada
- atentar violentamente contra o Estado Democrático de Direito
- golpe de Estado
- dano qualificado por violência e grave ameaça
- deterioração de patrimônio tombado da União
Passo a passo
- Leitura do relatório pelo ministro Alexandre de Moraes, cerca de uma hora e meia
- Fala do procurador-geral da República, Paulo Gonet, por até duas horas
- Defesas terão uma hora cada para manifestação
- Moraes apresenta voto, seguido pelos votos dos demais ministros
- Decisão será tomada pela maioria
Datas e horários das sessões
- 2/9 (9h-19h)
- 3/9 (9h-12h)
- 9/9 (9h-19h)
- 10/9 (9h-12h)
- 12/9 (9h-19h)
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