Para alguns deles, Tarcísio de Freitas (Republicanos) saiu melhor que a encomenda e se provou um nome mais apropriado do que o próprio Jair Bolsonaro (PL) para honrar o legado bolsonarista. Para outros, o ex-presidente não tem ninguém à altura como substituto, mas é preciso agir agora que ele, além de inelegível, está preso. O governador de São Paulo, então, seria a opção mais palatável entre os quadros de direita.
Seja como for, os principais líderes evangélicos têm convergido para endossar Tarcísio como opção do campo conservador para a Presidência em 2026, mais do que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, expoente desse segmento religioso e que ganhou projeção nesta semana em embate com filhos do ex-presidente.
Não há sinais de predileção nesse grupo por uma candidatura com o nome Bolsonaro na cabeça de chapa, hipótese que empolga uma ala bolsonarista desconfiada dos governadores de direita cotados para a eleição do ano que vem —fora Tarcísio, há Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS). Fala-se na ex-primeira-dama Michelle no máximo como uma vice possível para Tarcísio.
Com o discurso oficial de que é candidato à reeleição em São Paulo, Tarcísio acumula acenos ao público religioso —que também era alvo de Bolsonaro, seu padrinho político condenado por tentativa de golpe de Estado, na disputa contra Lula (PT), que ainda patina no segmento, embora tenta conquistado apoiadores neste ano.
Líderes evangélicos ouvidos pela Folha citam o Evangelho de Mateus para pregar união em torno do governador, bastante criticado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL) em meio à série de rachas na direita: "Todo reino dividido contra si mesmo será arruinado, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá".
Entre aqueles publicamente simpáticos a uma chapa liderada por Tarcísio está o apóstolo Estevam Hernandes, líder da Renascer em Cristo e idealizador da Marcha para Jesus, com quem o político tem uma relação de amizade. "Acho que ele seria o candidato ideal para este momento do Brasil."
Outros que têm apreço pela ideia: Juanribe Pagliarin, fundador da Comunidade Cristã Paz e Vida e da rádio evangélica Feliz FM, e Edson Rebustini, presidente do Conselho de Pastores de São Paulo. O apóstolo César Augusto, da goiana Fonte da Vida, fala em "candidato que melhor representa pautas alinhadas ao cristianismo".
O bispo Robson Rodovalho (Sara Nossa Terra) o chama de "quase unanimidade". Tarcísio, vale lembrar, é da costela partidária da Universal do Reino de Deus, o Republicanos. Assim como o governador acumula ambiguidades entre a moderação (como quando negociou com Lula) e o radicalismo bolsonarista (como quando atacou o Judiciário e chamou Alexandre de Moraes de tirano), a legenda também: tem o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, na gestão petista.
Entre os evangélicos, mais um que tem Tarcísio em alta conta é o apóstolo Valdemiro Santiago, que o recebeu em sua Mundial do Poder de Deus. O governador profetizou para os fiéis "promessas de cura, de prosperidade, de salvação".
Tarcísio também é acolhido nas duas Assembleias de Deus de maior capital político, os ministérios Belém e Madureira. Em outubro, ele foi celebrar os 91 anos do pastor José Wellington Bezerra da Costa, do Belém, e ali questionou "quantas pessoas aqui foram batizadas nas águas" e "ganharam uma vida nova".
Mesmo Silas Malafaia, que já o criticou pelo que vê como falta de pulso para defender Bolsonaro e atacar o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, é conciliador ao falar do governador. "Eu posso ter divergências com o Tarcísio, mas ele é o melhor nome. Depois de Bolsonaro, é ele." Para o pastor, Tarcísio "encarna a mesma proporção de Bolsonaro" na liderança evangélica. "Não tem ninguém que seja assim, ‘não, não gosto dele’."
Líder do PL e ex-presidente da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante é um dos entusiastas da composição Tarcísio-Michelle. Mas já mencionou outras combinações, como Tarcísio pareado com a senadora Tereza Cristina (PP-MS) ou Ciro Gomes (PSDB-CE).
Tarcísio é um católico fluente na oratória evangélica. Herdou-a da mãe. "Dona Maria Alice foi quem me ensinou a dobrar o joelho, a entender a palavra de Deus e o sentido da graça divina", já disse sobre ela, uma evangélica que envia orações ao filho.
Seu conhecimento da Bíblia, segundo pastores, o diferencia de outros católicos próximos do segmento, mas que claramente não conhecem as Escrituras a fundo. Bolsonaro seria um exemplo.
Na campanha municipal de 2024, Pablo Marçal chegou a zombar de Ricardo Nunes (MDB) por uma suposta falta de lastro bíblico: disse que o prefeito paulistano só citava versículo decorado a mando do marqueteiro, ainda assim dando uma "embananadinha", e o inquiriu a apontar "pelo menos dois filhos de José" para mostrar que "é assíduo na palavra, homem de oração".
No caso de Tarcísio, a fala e a impostação de voz, quando em ambientes religiosos, são comparadas à pregação de um pastor.
Nesta quinta (4), um evento no Palácio dos Bandeirantes contou com fiéis cantando "1000 Graus". Popular nas igrejas, o louvor que fala em "mil graus de unção" foi entoado por Tarcísio na Marcha para Jesus, ao lado de Estevam Hernandes e da bispa Sonia Hernandes. Na mesma tarde, usou óculos escuros onde se lia numa lente "Jesus" e na outra "salva".
Pastores ouvidos pela Folha também dizem ver com bons olhos o estilo mais diplomático do governador em contraste com o pavio curto de Bolsonaro.
Entendem que há certa fadiga com a postura de confronto aberto com opositores, uma marca do bolsonarismo. De novo a Bíblia, agora o livro de Eclesiastes: existe "tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir".

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