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Tarifaço trava venda de açaí para os EUA e produtores buscam novos mercados

Segundo ele, a Amazonbai também conseguiu alternativas no mercado interno, em Santa Catarina e Brasília. "Mas ainda é pouco. Os EUA compravam 60% da nossa produção", afirma.

Cooperativa Amazonbai ficou com 20 toneladas de polpa de açaí paradas
Cooperativa Amazonbai ficou com 20 toneladas de polpa de açaí paradas Imagem: Amazonbai

A estratégia agora é encontrar novos mercados internacionais. Para isso, de acordo com Picanço, contam com a ajuda da Secretaria de Relações Internacionais e Comércio Exterior do Amapá.

"Por meio deles, já estamos negociando com duas empresas da China. Esperamos que, daqui a três ou quatro meses, estejamos aptos para vender para lá. Não podemos ficar dependentes do mercado norte-americano", diz.

Os produtores do Pará, que detém cerca de 95% da produção nacional, passam pela mesma situação.

Segundo Alex Carvalho, presidente da Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará), o tarifaço "pode provocar uma retração de até 20,1% no volume total exportado aos EUA, sendo 8% concentrados apenas no açaí".

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"Esse cenário compromete a competitividade do fruto, reduz a produtividade e ameaça milhares de empregos. Também atinge comunidades amazônicas que dependem da coleta, transporte e beneficiamento do açaí. Além disso, repercute no mercado norte-americano, pois, com tarifas mais altas, o produto tende a encarecer, perdendo espaço nas prateleiras e tornando-se menos acessível", afirma.

O presidente da Fiepa lembra ainda que os Estados Unidos são o principal destino das exportações de açaí do Pará, com mais de 75% do total exportado.

"De janeiro a junho de 2025, o valor enviado ao mercado norte-americano alcançou US$ 43,6 milhões, representando crescimento de 59,34% em relação ao mesmo período de 2024. No acumulado geral, as exportações de açaí somaram US$ 57,8 milhões, com expansão de 64,96%", relata.

Para Nazareno Alves, presidente da Amaçaí (Associação de Produtores de Açaí da Amazônia), mandar açaí para os Estados Unidos tornou-se inviável. "Os empresários estão buscando outros mercados porque a conta não fecha", afirma.

Alves, que também é proprietário do restaurante Point do Açaí, em Belém, diz que outros mercados "importam muito pouco em comparação com os EUA".

Afeta toda a cadeia

Alex Carvalho, da Fiepa, ressalta que o impacto não se restringe às indústrias exportadoras.

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"A medida afeta toda a cadeia do açaí, desde a coleta até o beneficiamento, atingindo milhares de famílias amazônicas, incluindo agricultores familiares, cooperativas e ribeirinhos", diz.

Segundo ele, no auge da safra, a colheita de açaí pode movimentar de R$ 15 a R$ 20 milhões por dia, com cerca de 250 mil latas produzidas diariamente.

Cadeia do açaí beneficia barqueiros, carregadores e trabalhadores da floresta
Cadeia do açaí beneficia barqueiros, carregadores e trabalhadores da floresta Imagem: Amaçaí

"Esse ciclo virtuoso de emprego e renda beneficia barqueiros, carregadores e trabalhadores da floresta. A retração nas exportações ameaça diretamente essa rede socioeconômica, pressionando para baixo os preços pagos ao produtor e comprometendo a renda de comunidades que têm no açaí uma das principais fontes de subsistência."

O presidente da Fiepa também alerta para o risco de desemprego. "Estima-se que o açaí gere cerca de 5 mil postos de trabalho diretos e 15 mil indiretos, que podem ser comprometidos pela queda nas exportações. Sem contar os milhares de trabalhadores informais envolvidos nas etapas de coleta, transporte e beneficiamento do fruto na floresta".

Para Carvalho, a medida ameaça ainda o modelo de desenvolvimento sustentável da Amazônia, que combina geração de renda, inclusão produtiva e conservação da floresta.

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Aposta em novos mercados

Já Jhoy Gerald Silva, conhecido como Rochinha Jr., diretor de comunicação da Acpab (Associação da Cadeia Produtiva do Açaí de Belém), acredita que o tarifaço não afetará tanto os produtores e exportadores do fruto.

"Com o aumento da demanda interna e a pouca produção nas áreas ribeirinhas, devido às mudanças climáticas, de dois anos para cá, acho que o impacto será mínimo", avalia.

Para ele, há uma sobrevalorização do mercado norte-americano. "Temos o Japão, a Europa, Portugal, Emirados Árabes Unidos. Além disso, com mais de 140 países vindo para a COP 30, que vão conhecer o açaí, a tendência é que sejam criados novos mercados."

Rochinha Jr. é parceiro comercial da empresa Maná Açaí, que exportava cerca de 2% de açaí congelado para os Estados Unidos. "A maior parte da nossa produção é para outros estados do Brasil, cerca de 75%, além de 12% para Portugal e o resto para o mercado paraense."

Ele também acredita que o programa anunciado em agosto pelo governo federal, de compra de açaí diretamente de produtores afetados pelo tarifaço, vai ajudar a aliviar os efeitos da interrupção da exportação para os EUA.

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Alex Carvalho, da Fiepa, diz que a instituição "tem atuado de forma institucional e diplomática, articulando-se com o governo do Pará, o governo federal e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços para dialogar com autoridades norte-americanas e buscar alternativas que preservem a competitividade do açaí amazônico".

Ele afirma que também estão em análise medidas de apoio, como linhas de financiamento específicas, seguro de crédito à exportação e incentivos à abertura de novos mercados.

"No entanto, a diversificação exige tempo, já que envolve barreiras sanitárias, certificações, custos logísticos e negociações contratuais. Ainda assim, trata-se de uma prioridade para reduzir a dependência de um único destino e fortalecer a resiliência da bioeconomia regional."

Produção em baixa

Mudanças climáticas têm impacto direto na produção de açaí. O diretor da Acpab Rochinha Jr. relata que houve uma queda de cerca de 30% em relação ao ano passado. "O fruto está escasso. Os ribeirinhos estão perdendo muito devido à estiagem, porque não há irrigação, e porque não fazem o remanejo de terreno", afirma.

Na comunidade de Itacoan Miri, no município paraense de Acará, o açaí é a base do sustento de cerca de 600 famílias, segundo o produtor quilombola Adelino Cardoso. Com a estiagem do ano passado, ele estima uma queda de 90% na produção do fruto. "Tive que fazer praticamente uma nova plantação, com um novo sistema de irrigação", conta.

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Nazareno Alves, da Amaçaí, também aponta os desafios trazidos pelas mudanças climáticas. "Para produzir bem o açaí, não tem que ter nem muito sol nem muita chuva. Mas quando chega o inverno amazônico, são pancadas gigantes de água, o primeiro semestre todo. E no verão, é sol que não acaba mais."

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