A tecnologia passou por um processo de democratização de seu acesso nos últimos 20 anos. Produtos frutos da inovação, como Internet, celulares e computadores, tiveram o seu preço diminuído gradativamente, atingindo um grupo maior de pessoas. Por consequência, eles se tornaram elementos essenciais na vida de boa parte da população. De acordo com dados disponibilizados pelo IBGE em 2024, cerca de 86% a 93% dos brasileiros têm acesso à web. Contudo, mesmo com avanços importantes, é necessário refletir se os esforços governamentais são suficientes para que a parte mais vulnerável da sociedade esteja, de fato, inclusa digitalmente.
Nesse contexto, o TechTudo reuniu especialistas para debaterem sobre o tema no Voices 2025*, encontro realizado, nesta quarta-feira (10), pela Editora Globo sobre tecnologia, comportamento digital e inovação. Claudia Bernett, Rafaela Martins (Rawrafaela) e Patricia Peck participaram do debate "Você tem fome do quê?: tecnologia como ferramenta de informação, inclusão e dignidade social", para refletir sobre a necessidade de se repensar o mundo digital. A mesa foi conduzida pela coordenadora de inteligência do site, Aline Barbieri. Confira, a seguir, os destaques do papo.
Voices 2025 — Foto: Mariana Saguias/TechTudo Você tem fome do quê?: tecnologia como ferramenta de informação, inclusão e dignidade social
A criadora do Pipas Labs, Claudia Bernett, abriu a discussão destacando a urgência de diversificar quem cria tecnologia. "Vivo num mundo muito branco e cheio de homens. Vejo essa falta deixando muitas realidades para trás. Precisamos de mais diversidade nas criações de tecnologias, atualmente temos o domínio de um grupo só", afirmou.
A especialista relatou, ainda, sua experiência em escolas municipais, onde percebeu o abismo de recursos. "Como competir com recursos mais abundantes em outros lugares? Eles estão perdendo o tempo de aprender essa linguagem digital, que será útil para criar coisas no mundo digital", questionou. Para enfrentar essa barreira, o projeto desenvolve kits com todas as instruções para introduzir os participantes no mundo da criatividade digital. "Tudo isso é para eles conseguirem se expressar com tecnologia. Para que eles não somente saibam utilizar a tecnologia, mas entendam a lógica por trás e criem coisas novas. Mostrando que pessoas da periferia valem muito", explicou Bernett.
O mundo digital e políticas públicas
Advogada e programadora, Patricia Peck trouxe a perspectiva jurídica para a discussão, definindo a fome digital como a necessidade de ter tecnologia saudável e sustentável. "Temos fome de educação digital. A questão é como incluir mais pessoas digitalmente", pontuou.
Para ela, o mínimo digital deveria incluir computador, celular ou tablet em todas as salas de aula, além de políticas públicas funcionais. "Precisamos de mais políticas públicas e parcerias com entidades privadas para levar essa tecnologia a todos os lugares. Dependendo de onde você está no Brasil você não consegue acessar a internet", afirmou. Entre suas propostas estão uma nuvem brasileira para soberania nacional e internet gratuita em transportes públicos e praças, trazendo como exemplo a Europa, com acesso prioritário a conteúdo educacional.
Voices 2025 — Foto: Victor Bastos/TechTudo Representatividade e toxicidade nos games
A apresentadora e criadora de conteúdo, Rafaela Martins, conhecida também como Rawrafaela nas redes sociais, trouxe para o debate sua experiência como mulher negra no universo dos games, uma das comunidades que mais cresce no ambiente digital. "O universo é elitista, porque tudo é caro. Na comunidade, existe preconceito com quem joga no celular. Tudo isso por ser uma opção mais barata ", afirmou. Comentando sobre a educação digital, a gamer relatou ter sofrido diversos ataques durante sua carreira. "É um ambiente racista e machista. Existe um padrão e quando você foge dele você sofre ataques. Durante lives já sofri diversas ofensas", contou.
Apesar dos desafios, Rafaela encontra motivação no impacto de sua representatividade. "Sempre soube que era um ambiente tóxico. O que me motivava era ouvir pessoas me contando estar representando elas, tendo cabelos iguais a elas e mostrando que temos espaço. Penso sempre no lado positivo, foco em quem está feliz em me ver como similar", disse. Contudo, a criadora também cobrou responsabilidade das plataformas online.
"Precisam levar mais a sério as denúncias. Elas (plataformas de streaming e redes sociais) acabam ignorando e dizendo que está tudo bem. Uma pessoa foi racista e eu denuncio e essa denúncia não é levada a sério. Precisam realmente punir"
— Rafaela Martins, gamer, apresentadora e criadora de conteúdo
Em meio ao tema, advogada Patricia Peck destacou que o ECA digital agora exige que contas infantis tenham vínculo com responsáveis e que as plataformas são obrigadas a remover comentários denunciados. Dessa forma, os pais e responsáveis podem passar a observar o que acontece na vida digital de crianças e adolescentes.
IA: potencial e responsabilidade
Encerrando a mesa, todas as palestrantes concordaram sobre o potencial da inteligência artificial, mas enfatizaram a necessidade de um olhar antropológico para a tecnologia. "A IA precisa ser bem treinada. Coisas que talvez o programador não pense, do seu lugar de hegemonia branca e homem", alertou Patricia. A advogada defendeu que o desenvolvimento responsável, com olhar social, deveria receber um selo de diversidade.
Ao mesmo tempo, para ela, a tecnologia também pode ser solução: "Todo problema criado por tecnologia pode ser resolvido por tecnologia. Podemos ter IA dando celeridade às denúncias e aos processos jurídicos. Podemos usar IA para patrulhar a internet". Ao fim, debate deixou claro que transformar tecnologia em ferramenta de inclusão exige não somente acesso, mas também diversidade na criação, educação digital e responsabilização de plataformas e desenvolvedores.
O VOICES é um evento gratuito que acontece no dia 10 de dezembro no Museu de Arte Moderna (MAR), e conta com a presença de diversos especialistas brasileiros e internacionais. Neste encontro são abordados diversos temas, como inteligência artificial (IA), comportamento digital, inovação e empreendedorismo. O TechTudo terá uma trilha de mesas onde criadores de conteúdos, advogados, professores, pesquisadores e colunistas irão debater assuntos como tendências para dispositivos tech, golpes online e segurança digital, além de conteúdos sobre inteligência artificial.
*O Voices é uma iniciativa da Editora Globo e do Sistema Globo de Rádio, com patrocínio da Prefeitura do Rio e Secretaria Municipal de Educação, apoio da Zapt, patrocínio das trilhas por Claro Empresas e Insper e parceria da Play9.
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