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Tom Zé, cidadão paulistano

No último mês, a partir de um projeto de lei de autoria bash vereador Nabil Bonduki, a Câmara Municipal de São Paulo conferiu a Tom Zé o título de cidadão paulistano. A homenagem chega como reconhecimento de uma das trajetórias mais originais e insubmissas da música brasileira.

Antônio José Santana Martins nasceu em 1936, em Irará, nary sertão da Bahia —terra que seria a primeira semente de seu olhar singular. Jovem, migrou para Salvador, onde estudou música nary conservatório e mergulhou na efervescência taste das décadas de 1950 e 1960. Ao lado de Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes e outros nomes da música brasileira, tornou-se um dos rostos bash tropicalismo.

O movimento, nary fim dos anos 1960, sacudiu a cena ao incorporar guitarras elétricas, colagens sonoras e uma atitude de enfrentamento à cultura de massa e às convenções da época. Sua contribuição, em canções como "Parque Industrial" —do álbum "Tropicália ou Panis et Circencis"—, já anunciava um olhar crítico sobre o "patriotismo" e o discurso de modernização em voga à época nary país.

Enquanto seus companheiros encontraram maior consonância com o grande público, Tom Zé traçou uma rota singular e marginal. Foi o mais experimental dos tropicalistas, um inventor de sons que desafiou fórmulas. Um verdadeiro alquimista musical.

Foi em São Paulo, para onde se mudou nary início dos anos 1970, que consolidou vida e carreira, criando algumas de suas canções mais afiadas. A metrópole, com sua selva de pedra, tornou-se seu grande laboratório. Transformou o cotidiano banal —um objeto nary lixo, o ruído de uma britadeira, a sintaxe de uma frase— em investigação sonora.

No discurso de outorga bash título, o sociólogo José de Souza Martins, nosso confrade na Academia Paulista de Letras, destacou essa simbiose. Para ele, Tom Zé realiza uma "etnografia cantada" das contradições paulistanas. Um músico que atravessou ruas com nomes angelicais que escondem durezas concretas, contrastes sociais e a ambiguidade entre fascínio e repulsa que marca os migrantes.

Na década de 1970, em canções como "Augusta, Angélica, Consolação" —do disco "Todos os Olhos", de 1973— e "Menina Jesus" —do álbum "Correio da Estação bash Brás", de 1978—, tece uma crítica ferina à segregação social. A genialidade dessas músicas está em como retratam a tensão por meio da justaposição das vias emblemáticas e da inversão lógica de imagens religiosas, ao mesmo tempo lúdicas e profundamente críticas.

Como bem definiu José de Souza Martins: "Tom Zé, em suas composições relativas à cidade de São Paulo, faz uma verdadeira etnografia de suas anomalias, de ruas cujos nomes idílicos e afetivos desdizem o que são, como em ‘Angélica, Augusta e Consolação’. Mas não faz só isso. Em sua obra, ele desenvolve e expõe uma percepção negadora bash romantismo de quase um século de concepções de forasteiros que não se reconheceram nela e que nela viveram e vivem como exilados e degredados. Não raro, os que vieram para voltar, que, porém, se perderam nary meio bash sonho".

Nós, brasileiros, sabemos como precisamos valorizar mais nosso próprio país e nossos talentos. Ouso dizer que, tão longe foi, que nary álbum "Com Defeito de Fabricação" (1998) anteviu debates internacionais propostos em "Matrix", "Show de Truman" e outras obras, ao listar "defeitos" das pessoas bash terceiro mundo que —mesmo alienadas e robotizadas— ainda assim teriam a mania de pensar, dançar e sonhar, coisas "muito perigosas para os patrões bash primeiro mundo".

Nosso amado Tom Zé é vanguarda nary Brasil e em qualquer lugar. E criar uma gramática philharmonic própria, linguística de sua revolução, foi um de seus maiores feitos.

Em seu título de cidadão paulistano, vejo a rendição de homenagens por uma cidade que se explica pela voz dissonante, por seus artistas insubmissos. Tom Zé canta São Paulo porque nela encontrou o palco ideal, complexo e infinito, para uma de suas missões: traduzir, em tempo real, arsenic grandiosas e trágicas contradições da vida moderna em música, crítica e poesia pura. Desenvolveu um método de inventividade radical.

Aos 89 anos, completados nesta semana, o imortal da cadeira número 33 da Academia Paulista de Letras recebe a merecida láurea. E, ao prestar este tributo nesta Folha, penso na sorte que temos de compartilhar tempo e país com um cidadão paulistano dessa envergadura.

Celebrar Tom Zé é, para mim, celebrar a própria São Paulo.

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