
Crédito, Getty Images
- Author, Cecilia Barría
- Role, BBC News Mundo
Há 22 minutos
Quando estava prestes a terminar o ensino médio, o avô de Christian Lovell lhe disse, enquanto estavam sentados em um caminhão, que pensasse no futuro.
Como a vida no campo é dura, aconselhou-o a cursar uma universidade e construir uma carreira para ter uma vida mais estável e garantir o futuro financeiro. Ele seguiu o conselho e, anos depois, Lovell voltou ao rancho da família, em Illinois, nos Estados Unidos.
"É uma paixão, um estilo de vida", disse à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC. "Ser pecuarista não é um trabalho como qualquer outro, é algo que levamos no sangue."
Com essa mesma paixão, Lovell defende os pecuaristas americanos diante do plano do governo do presidente americano, Donald Trump, de permitir a entrada de uma quantidade maior de carne bovina argentina para reduzir os preços do produto nos EUA.
Assim como muitos outros criadores do país, Lovell está decepcionado e furioso com o anúncio presidencial. A proposta, afirma, "é uma traição aos pecuaristas americanos".
"Sentimos que ele nos vendeu a um concorrente estrangeiro, que nos deixou para trás."
Tudo começou quando o presidente americano anunciou, em meados de outubro, que seu governo havia chegado a um acordo para reduzir o preço da carne bovina ao consumidor.
"Estamos trabalhando na questão da carne bovina e acredito que temos um acordo que vai reduzir o preço", declarou Trump, sem dar mais detalhes.
Dias depois, voltou a mencionar o tema no avião presidencial.
"Compraríamos carne da Argentina", disse. "Se fizermos isso, os preços da carne vão cair."
As declarações geraram uma onda de reações entre os pecuaristas americanos, um grupo que tradicionalmente vota no Partido Republicano e conta com fervorosos admiradores do presidente.
Segundo a imprensa americana, citando fontes da Casa Branca, o que está em discussão é a possibilidade de quadruplicar a cota tarifária de importação de carne bovina argentina, passando de 20 mil toneladas para 80 mil toneladas.

Crédito, The Washington Post vía Getty Images
Em meio à controvérsia, a secretária de Agricultura dos EUA, Brooke Rollins, afirmou em uma entrevista que o presidente "está em negociações com a Argentina", mas alertou que o aumento das importações do país sul-americano "não será significativo".
Após duras críticas das associações de pecuaristas, a Casa Branca anunciou na semana passada um pacote de medidas de apoio ao setor, o que acalmou parcialmente a indignação dos produtores locais.
O swap cambial é um instrumento financeiro que envolve a possibilidade de troca futura de duas moedas — no caso, de dólares por peso argentino.
Os críticos argumentam que o governo Trump deveria estar ajudando os agricultores e pecuaristas americanos em vez de fornecer assistência financeira ao país sul-americano. O slogan deveria ser "América Primeiro", alegam, mas, na prática, a entrada de concorrentes estrangeiros contradiz essa aspiração.
"É uma contradição", declarou um decepcionado Bill Bullard, presidente da organização de pecuaristas R-CALF, que esperava que as políticas do governo desestimulassem as importações de carne.
Os preços baixariam se mais carne bovina argentina fosse importada?
Economistas especializados no setor pecuário dos EUA afirmam que a carne bovina argentina representa uma parcela muito pequena do total das importações de carne bovina: apenas 2,1%.
Até agora neste ano, "importamos mais carne bovina do Uruguai do que da Argentina", disse David Anderson, economista da Universidade Texas A&M, em entrevista à BBC News Mundo.

Crédito, Getty Images
A carne bovina importada pelos Estados Unidos vem principalmente do Brasil, da Austrália, do Canadá, da Nova Zelândia e do México.
O Brasil é o maior exportador de carne do mundo e responde por 23% das importações americanas do produto, segundo cálculo da Genial Investimentos. Os EUA são o segundo maior mercado para o produto brasileiro, atrás apenas da China.
Se o anúncio de Trump se concretizar, "é improvável que tenha um efeito significativo nos preços", diz Anderson.
Como economista, ele afirma que este é um caso em que "é preciso deixar o mercado agir por conta própria, permitindo que a oferta e a demanda definam o que acontecerá com os preços".
Se os preços subirem, explica, isso será um sinal para que os pecuaristas locais aumentem a produção e um incentivo para que os consumidores comprem menos. "Isso fará com que os preços caiam" de forma natural.
Mas isso não pode acontecer da noite para o dia, pois são necessários pelo menos dois anos para produzir gado adulto.
Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da consultoria StoneX, argumenta que, nesse sentido, a Argentina "não é uma grande ameaça".
"Eu não me preocuparia muito com isso", afirma.
No entanto, acrescenta, o país que realmente tem um superávit de carne bovina para exportar é o Brasil, e se Trump reduzisse as tarifas de 50% sobre as importações brasileiras, "isso seria uma história completamente diferente".
Há, porém, outro fator importante nesse quebra-cabeça, alerta o pecuarista Christian Lovell.
"Nós, pecuaristas americanos, não controlamos o preço da carne bovina neste país", afirma. "São as grandes processadoras de carne que definem o preço", já que apenas quatro empresas concentram cerca de 80% do mercado.
"Não há concorrência no setor de processamento de carne. E agora Trump, em vez de nos apoiar, está favorecendo um concorrente estrangeiro", critica Lovell.
Mesmo que o aumento das importações argentinas não tenha um impacto significativo nos preços, a simples possibilidade já causa insegurança entre os pecuaristas.
Por que o preço da carne bovina subiu tanto?
Nos EUA, a queda na oferta de carne bovina é histórica.
Atualmente, o país tem o menor número de cabeças de gado em 74 anos, depois que os pecuaristas reduziram a produção após vários anos de seca e preços baixos.

Crédito, Getty Images
Paralelamente, a demanda dos consumidores se manteve firme, fazendo com que os preços nos supermercados aumentassem.
As restrições impostas ao México devido à praga do verme perfurador e as tarifas americanas sobre a carne brasileira também não ajudaram a aumentar a oferta de carne no mercado local.
Em agosto deste ano, os EUA aplicaram uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros exportados para o país, incluindo carne.
Mas não foi apenas nos EUA que o preço da carne bovina subiu.
Em outros países, a combinação entre a escassez de carne para exportação e uma demanda global sustentada também teve um impacto, explicou há algumas semanas Monika Tothova, economista sênior da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), em entrevista à BBC News Mundo.
A isso se somam a seca e outros fenômenos meteorológicos extremos; fatores como surtos de doenças animais; tensões e incertezas persistentes sobre o rumo das políticas comerciais; e um alto custo da alimentação para o gado ou altas taxas de juros para financiar a produção em alguns países.
O preço também aumentou porque, em muitos países, o mercado tem se concentrado em alguns grandes processadores de carne, que têm um poder importante, "limitando a concorrência e fortalecendo as possibilidades de fixar preços", conclui Tothova.

Crédito, Getty Images

German (DE)
English (US)
Spanish (ES)
French (FR)
Hindi (IN)
Italian (IT)
Portuguese (BR)
Russian (RU)
13 horas atrás
1





:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/l/g/UvNZinRh2puy1SCdeg8w/cb1b14f2-970b-4f5c-a175-75a6c34ef729.jpg)










Comentários
Aproveite ao máximo as notícias fazendo login
Entrar Registro