Tremembé: entenda final explicado da série do Prime Video

A produção acompanha o dia a dia na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, popularmente conhecida como Penitenciária II de Tremembé, localizada no município homônimo do estado de São Paulo. A narrativa começa a partir da transferência de Suzane von Richthofen (Barbosa) do Carandiru, onde corria risco de vida, para o presídio de Tremembé, onde seu ex-namorado Daniel Cravinhos cumpre pena.

As alas feminina e masculina do "presídio dos famosos", como é conhecido Tremembé, abrigam também Elize Matsunaga (Garcia), condenada pelo assassinato do marido e empresário Marcos Kitano; o casal Anna Carolina Jatobá (Comparato) e Alexandre Nardoni, envolvidos no assassinato de Isabella Nardoni; o ex-médico Roger Abdelmassih, preso por cometer estupros em série; Sandra Regina Ruiz, a Sandrão, sequestradora que ficou famosa por ter tido um caso com Elize e Suzane; além de Christian e Daniel Cravinhos, irmãos que assassinaram os pais de Suzanne.

Os presos mais famosos da série são interpretados por Marina Ruy Barbosa, Carol Garcia, Bianca Comparato, Letícia Rodrigues (Enterre seus Mortos) no papel de Sandrão, Felipe Simas e Kelner Macêdo (Corpo Elétrico) interpretando os irmãos Daniel e Christian Cravinhos, Lucas Oradovschi (Vai na Fé) sendo Alexandre Nardoni e Anselmo Vasconcelos (Zorra Total) na pele de Roger Abdelmassih.

Outros atores que ganham destaque no seriado são Marcos de Andrade (Vale dos Esquecidos) interpretando o político Acir Filló, Vinícius de Oliveira (Central do Brasil) como Rogério, Paulo Vilhena (Biônicos) dando vida à Gugu Liberato, João Pedro Mariano (Baby) sendo Luka e Alexandre Ogata (Maníaco do Parque) interpretando o empresário Marcos Kitano.

O quinto e último capítulo da série é focado na mudança de vida de alguns personagens da série após a saída deles do presídio devido a alteração da pena. Os irmãos Cravinhos saem da penitenciária, com Cristian reencontrando sua nova parceira na saída do presídio; para desagrado de Luka, que viveu um romance com o assassino. Porém, Cristian volta a ser preso depois que ele tenta subornar dois policiais após uma briga de bar motivada por sua esposa.

Elize Matsunaga está destinada a reencontrar sua filha, que passou a viver com uma tia, e recontar sua história em um documentário (Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime, que foi gravado para a Netflix). Após se separar de Sandrão, Suzane vive um novo relacionamento; desta vez com Rogério Olberg, membro de uma igreja evangélica onde a ex-detenta realiza sua conversão. Porém, nos momentos finais do show, Suzane leva um golpe na cabeça e fica desacordada, deixando em dúvida sobre seu estado de saúde. De todos os criminosos de destaque na série, Roger não conseguiu cumprir pena em regime aberto ou domiciliar. Ele vai parar na ala psiquiátrica de um hospital.

Quer saber mais sobre Tremembé?

Assim como na vida real, Suzane von Richthofen não morre no final da série. A suspeita sobre uma morte ficcional da detenta surgiu nos momentos finais da série, quando ela é perseguida por Dadá, que quase a matou no motim do primeiro episódio. Apesar da herdeira da família Richthofen ter sido hostilizada antes e depois de entrar no presídio devido o seu crime, ela conseguiu escapar ilesa e viver uma outra realidade. Atualmente, Suzane von Richthofen cumpre pena em regime aberto desde 2023 e trabalha com a venda de produtos artesanais.

1. Relacionamento entre Sandrão, Elize e Suzane

Presa em 2003 por sequestro seguido de assassinato, Sandra Regina Ruiz, a Sandrão, se torna a pivô de um triângulo amoroso entre Elize Matsunaga e Suzane von Richthofen. Na vida real, a sequestradora realmente namorou as duas criminosas e, de fato, detinha uma enorme influência dentro da ala feminina do presídio de Tremembé. Vale ressaltar que foi com Suzane que Sandrão teve um relacionamento mais longo, chegando a obter uma união estável em 2014 e se separando em 2016. De acordo com matéria do jornal O Globo, a relação entre Sandrão e Elize durou apenas três dias.

2. Suzane corria risco de vida antes de chegar em Tremembé

Logo no começo da série, vemos que Suzane chegou a ser alvo de uma rebelião violenta em seu antigo presídio. Por pouco, a herdeira não foi assassinada por outras detentas. De fato, Suzane quase foi morta em um motim organizado por detentas na Penitenciária Feminina da Capital, em São Paulo, em agosto de 2004. Ela chegou a se esconder na enfermaria do presídio e foi encontrada em estado de choque. No entanto, ela não era o único alvo principal.

De acordo com notícias da época, a briga teve como motivação a tentativa de assassinato da detenta Aurinete Félix da Silva, a "Netinha", na época mulher de Cesar Augusto Roris da Silva, o "Cesinha", ex-líder da facção PCC (Primeiro Comando da Capital). Outro ponto a ser ressaltado é que Suzane não foi transferida diretamente para Tremembé após o caso. Sua chegada ocorreu apenas em 2007.

3. Relação entre Christian e Luka

Uma das maiores polêmicas da série Tremembé é a relação homoafetiva entre Christian Cravinhos, um dos assassinos do casal Manfred e Marísia von, e Luka, jovem homossexual preso por assalto à mão armada. O ápice da polêmica envolve uma cena em que Christian usa uma calcinha trazida por Luka. Tal momento foi negado por Cristian em suas redes sociais.

Porém, Ullisses Campbell, autor do livro "Suzane: Assassina e Manipuladora" e um dos roteiristas da série, não só reafirmou a veracidade da história como também mostrou uma carta escrita por Cristian para o ex-namorado, além da calcinha preta supostamente usada por ele.

4. A entrevista de Suzane com Gugu

O apresentador dominical Gugu Liberato, morto em 2019, é mencionado em Tremembé por meio da interpretação de Paulo Vilhena. O momento corresponde a uma entrevista dada por Suzane em março de 2015 para o Programa do Gugu, atração que o apresentador comandava na TV Record. Durante a entrevista, Suzane e Sandrão (que assumiram publicamente o relacionamento na entrevista) ganharam de Gugu três máquinas de costura de presente, como forma de recomeçar a vida dentro do presídio.

A entrevista real foi recriada com fidelidade na série e ajudou a revelar momentos obscuros dos bastidores. Segundo a investigação de Ullisses Campbell para o livro Suzane – Assassina e Manipuladora, Gugu Liberato, que já tinha conseguido permissão judicial para conseguir entrar em Tremembé, teria pago R$ 120 mil diretamente à Suzane e Sandrão para gravar a entrevista – sendo R$ 100 mil para Suzane e o restante para sua companheira, que negociou a entrevista com o apresentador. O dinheiro e as máquinas de costura viraram centro de um conflito entre o casal posteriormente, que se separou em 2016.

5. O primeiro contato (e treta) entre Suzane e Elize

Diferente do que é retratado na série, a relação entre Suzane e Elize não começou com tons de rivalidade pelo amor de Sandrão. Essa retratação se deu apenas para fins narrativos, como forma de acrescentar ficção ao conteúdo da série. A relação entre as duas aconteceu de forma gradual, devido ao convívio diário dentro da penitenciária, e não há provas sobre um possível ciúme nutrido por Elize.

6. Nomes e ordem cronológica alterados

Apesar de retratar crimes e pessoas reais, a série usou de nomes ficcionais para preservar a identidade de detentos que não eram os personagens principais da atração. É o caso de Luka, namorado de Cristian Cravinhos, que na vida real se chama Ricardo de Freitas Nascimento. O próprio veio a público para esclarecer seu romance com o assassino do casal Richthofen.

Outro recurso fictício usado na série são as ordens cronológicas alteradas, para proporcionar um andamento mais rápido à história, e falas ficcionais, baseados nos depoimentos colhidos pelo Ministério Público e pelas investigações de Ullisses.

Outro criminoso que, apesar do pouco destaque em tela, cometeu um crime de grande repercussão na vida real, é Lindemberg Alves, assassino da ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, morta em outubro de 2008 aos 15 anos. Ele ainda cumpre a pena de 39 anos de prisão em Tremembé, tendo recebido uma redução de pena de 109 dias.

Dos criminosos retratados no seriado, apenas dois continuam em Tremembé. Um deles é o ex-médico Roger Abdelmassih, que foi condenado a 181 anos de prisão pelo estupro de dezenas de pacientes femininas entre os anos 1990 e 2000. Abdelmassih tentou por diversas vezes conseguir prisão domiciliar. No entanto, seu pedido só poderá ser previsto no ano de 2047, quando este completar 104 anos.

O true crime se tornou um gênero em crescimento em todo o mundo e Tremembé representa o que de melhor o audiovisual brasileiro pode fazer em retratar o que há de pior no universo criminal do país. Apesar da produção eventualmente se apoiar em falas, personagens e acontecimentos ficcionais, o show do Prime Video realiza a proeza de transformar um presídio em um ambiente de novela, onde vemos diferentes núcleos de personagens vivenciando momentos de romance, ação, drama e pontuais momentos de humor involuntário (para não dizer mórbido).

O show, por alguns momentos, peca no quesito atuação, na minha opinião. Algumas encenações soam caricatas ou não conseguem capturar de fato a personalidade cinzenta de alguns criminosos. É o caso da protagonista Marina Ruy Barbosa, que na tentativa de mostrar a personalidade manipuladora de Suzane, por vezes soa plástica e sem versatilidade, se saindo melhor em momentos mais extremos de tensão. Por outro lado, o veterano Anselmo Vasconcelos conseguiu reproduzir de forma bastante fiel não só o aspecto físico, mas também os maneirismos linguísticos de Roger Abdelmassih.

A série obteve nota 6,7 no IMDb, a partir da interação de 874 usuários. Até o momento, o show não apareceu no Metacritic e Rotten Tomatoes, plataformas que agregam as resenhas da crítica especializada. Mesmo com a grande repercussão do show entre o público e imprensa nacional, o Amazon Prime Video não se manifestou sobre uma segunda temporada.

Uma série que combina espiritualmente com Tremembé, e que também tem realização brasileira, é O Jogo Que Mudou A História (2024), produção do Globoplay que narra, de forma semificcional, o surgimento do narcotráfico no Rio de Janeiro durante a ditadura militar. Ainda na mesma plataforma há o show Carcereiros (2017), que acompanha a rotina de um agente penitenciário interpretado por Rodrigo Lombardi (Salve Jorge), e A Divisão (2019), que acompanha a onda de sequestros ocorridos no Rio na década de 1990.

Em outras plataformas, é possível assistir Impuros (2018 - presente), produção exclusiva do Disney+; Irmandade (2019), criação original da Netflix; e Dom (2021 - 2024), produção do Prime Video que acompanha a vida do traficante e assaltante de residências Pedro Dom. Todos os títulos são produções nacionais baseados em crimes reais que fizeram história.

Com informações de Amazon Prime Video, O Globo (1, 2)