As brasileiras Lays Mendes, que vive na Irlanda, Yara Freitas, de Portugal, e Sabrina Vitali, da Alemanha, são algumas delas – e conversam com o g1. As três postaram vídeos com o flagrante do que passaram e relataram como foram os ataques.
"Quando a gente está num país que não é o nosso de origem, a gente sempre vai ser imigrante. Eles sempre vão olhar a gente com outros olhos. Não vou dizer que não é chato... Agora, depois de nove anos, a gente entende. Mas, no início, afetava muito. A gente ficava triste, chorando. Querendo ou não, afeta o psicológico", diz Sabrina, que mora com o marido e os dois filhos em uma pequena cidade no sul da Alemanha.
"Toda vez que ela passa aqui, faz a mesma coisa: xinga, surta, atravessa a rua, entra na igreja para agradecer a Deus e segue a vida dela. Fui até a polícia, mas eles falaram que não têm o que fazer. Não tem lei que nos proteja aqui. Se alguém passar e me ofender verbalmente, é só um aviso: 'Olha, você não pode fazer isso'. Mas a pessoa pode continuar sendo homofóbica, xenofóbica, racista", lamenta Lays, que nasceu no estado de São Paulo e já ouviu ouvindo frases como: "Vocês são africanos, pertencem à África".
Vivendo na Irlanda com o marido e os filhos há 8 anos, ela fala que vem sentindo o preconceito contra os imigrantes crescer. Acredita, porém, que a maior parte da população do país não pensa dessa forma. Disse ter recebido muito carinho de irlandeses, que foram acolhê-la, depois de a imprensa local registrar o caso. Mas se emociona ao relembrar o que passou:
"O que me deixou apreensiva com ela naquele dia foi o jeito dela olhar, um olhar muito agressivo. Fiquei muito mal. Às vezes, lembro e choro. É como se eu estivesse na época da escravidão, e ela fosse a dona, sabe? Que mandava dar chicotada, que mandava matar. Era um olhar muito frio. Eu senti que, se ela tivesse uma arma, tinha me matado. Isso que é doloroso".
Yara, Sabrina e Lays postaram sobre o que passaram nas redes sociais — Foto: Arquivo Pessoal
Yara, de 23 anos, mora desde 2024 no Porto, ao norte de Portugal. No vídeo que postou, aparece no caixa da loja em que trabalhava na época em que o ataque ocorreu, em junho. A cliente reclamou que brasileira não estava falando português "corretamente". Ao ser acusada de xenofobia, a mulher disparou: "Volte para seu país".
A jovem tem visto de trabalho e, há poucas semanas, se submeteu à entrevista do governo local para solicitar sua residência permanente. Ela chegou a ir à polícia para denunciar a portuguesa, mas acabou desistindo de seguir o processo.
"Só recebi um retorno esses dias, quatro meses depois. Uma carta dizendo que eu teria que pagar pelo processo, entre 102 euros e 1.020 euros. Eu não esperava por isso. Quando vi, pensei: 'ok, não vou passar daqui'. Desisti de seguir em frente", lembrou.
Sabrina é a única das três que não registrou o exato momento do que sofreu. Dona de um comércio e moradora da Alemanha há 9 anos, ela fez um relato do que passou em seu perfil: um idoso a agrediu verbalmente apenas porque a ouviu falando português.
A comerciante também foi à polícia, mas, assim como nos outros casos, houve somente uma advertência. O homem, que já tinha ficha criminal, não cessou os ataques depois de a polícia ir à casa dele.
"Eu não estava fazendo absolutamente nada. Estava sentada na rua, explicando uma situação para uma funcionária, que também é brasileira, e ele começou a reclamar: 'Eu não quero que você fale a sua língua aqui. Você está na Alemanha e tem que aprender alemão'. Aí, confrontei em alemão. Comigo, isso não acontece tanto, mas, com o meu marido, que tem um tom de pele um pouco mais escuro, os olhares são mais tortos. Eles muitas vezes não falam, mas você percebe os olhares", afirma Sabrina.
Crescimento dos casos de xenofobia
Jornalista brasileira Amanda Lima, retratada como macaca, em montagem feita por ativista de extrema direita de Portugal — Foto: X / Reprodução
Bruno Silva, de 30 anos, foi denunciado à polícia e ao Ministério Público por Stefani Costa, correspondente do canal de notícias Opera Mundi, que ressaltou a importância da decisão judicial inédita no combate a esse tipo de situação.
"Essa questão do Chega realmente é algo que tem estado muito presente. Tem banners dele em todo canto aqui, em cada cidade que você vai. Eu acho, sim, que isso pode ter dado uma coragem para os portugueses expressarem esses pensamentos que eles têm sobre os brasileiros e os imigrantes em geral. Isso existe, não é raro de encontrar, mas a maioria não é assim. Seria injusto falar isso", defende Yara, que não se arrepende de ter decidido mudar de país apesar do que passou.
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