Com o emprego em alta e a desocupação no piso da série desde 2012, a conversa precisa avançar para a qualidade das ocupações. Há duas semanas tratei da informalidade; hoje discuto como se disputam as melhores vagas, as que de fato mudam renda e trajetória. O acesso passa por redes de contato, que funcionam não só como vitrine, mas como filtro —de quem fica sabendo e quando —e esse filtro reage à percepção de competição entre pares.
Michael França mostrou na coluna "Não é sobre competência. É que você é preto" que, para pessoas pretas, a disputa começa antes do currículo, porque informação e indicações circulam de forma desigual. As redes nascem onde a vida acontece, em turmas de escola e faculdade, no bairro e na igreja, em estágios, na internet e em grupos de afinidade; quando esses ambientes são pouco mistos, os avisos e convites também se concentram. Mesmo para quem já está bem conectado, a rivalidade dentro do grupo pode bloquear o aviso justamente para quem teria mais chances de competir.
Aqui entra um experimento recente que esclarece o mecanismo. Vaga não rival é aquela em que compartilhar a oportunidade não reduz a chance de quem avisa, porque há espaço para mais de um contratado ou a posição do informante está garantida. Já a vaga rival é o oposto: ao repassar o anúncio, o informante cria um concorrente direto para uma posição valiosa e limitada.
No estudo, os autores Gaurav Chiplunkar, Erin M. Kelley e Gregory Lane, em parceria com faculdades, criaram vagas curtas e padronizadas, repetidas semanalmente, variando aleatoriamente salário e a presença de rivalidade. Atribuíram códigos de indicação para seguir a informação do primeiro aviso até a contratação e a execução do trabalho, medindo quem ouviu, quem se candidatou e como entregou. O desenho permite isolar a competição dentro da rede e separar o efeito do salário do efeito de circulação.
Quando a vaga foi apresentada como não rival, o anúncio circulou mais, a habilidade média de quem se inscreveu subiu e os contratados executaram melhor as tarefas. Quando a vaga foi percebida como rival, o compartilhamento diminuiu, sobretudo em direção aos contatos mais fortes, e a qualidade do funil caiu, inclusive na avaliação final. Aumentar o salário em contexto de rivalidade melhorou um pouco o pool, mas menos do que quando a mesma remuneração apareceu com difusão não rival. Em termos práticos, pagar mais não compensa a perda de alcance informacional provocada pela rivalidade.
Há claros limites de validade externa, porque o ambiente é universitário, o horizonte é curto e a tarefa é padronizada. Mas não muda o essencial: o silêncio estratégico dentro das redes empobrece a seleção, e o salário não substitui arquitetura de informação. Em suma, quando a vaga depende de rede e a rede internaliza rivalidade, a circulação encolhe entre os pares que elevariam a qualidade do funil.
Empresas e instituições que confiam apenas em contatos e em pacotes salariais podem estar limitando alcance e diversidade sem perceber. Para além do diagnóstico de Michael França sobre o acesso desigual aos contatos, há um desafio adicional: não basta estar na rede se, diante da disputa, a própria rede não compartilha a informação. Canais impessoais de divulgação, critérios legíveis com exemplos objetivos e incentivos de indicação que permitem a ampliação do funil tendem a produzir contratações melhores.

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