O X, antigo Twitter, desapareceu das campanhas publicitárias do governo federal após o dono da rede, Elon Musk, intensificar ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e ao presidente Lula (PT).
A rede social tinha sido a quinta empresa a receber mais verba para divulgar ações da gestão petista na internet em 2023, com cerca de R$ 8 milhões pagos em anúncios. O ranking soma campanhas da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência e dos ministérios.
No ano passado, a maior parte da verba repassada ao X (R$ 5 milhões) foi para campanhas da Secom, como a de combate às notícias falsas. A empresa também recebeu cerca de R$ 1,3 milhão em anúncios do Ministério da Saúde, incluindo campanhas da vacinação contra a Covid e dengue e a retomada do Mais Médicos.
Os mesmos dados colocam a plataforma como 24ª maior beneficiada em 2024, com cerca de R$ 325 mil repassados por meio de campanhas publicitárias. As últimas inserções do governo na rede de Musk foram feitas em abril.
O governo Lula abriu nova frente de atrito com o bilionário no último sábado (16), quando a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, disse não ter medo dele e utilizou uma expressão em inglês para atacá-lo. "Fuck you, Elon Musk", disse durante painel do G20 Social, com termos equivalentes a "vá se foder".
Horas depois, no X, Musk respondeu a uma publicação com o vídeo da fala da primeira-dama legendado para o inglês. "Eles vão perder a próxima eleição", escreveu, com emojis de risada.
Os valores de publicidade extraídos de portal administrado pela Secom em 7 de novembro não incluem pagamentos feitos por estatais, como a Petrobras, e bancos públicos. A atualização do site ainda é irregular e depende de fatores como a confirmação da veiculação dos anúncios.
Os dados disponíveis apontam que Meta, com R$ 5,5 milhões, lidera os repasses da Secom e dos ministérios para publicidade na internet em 2024. Em seguida, vêm Google (R$ 2,7 milhões), Kwai (R$ 2,7 milhões) e Tik Tok (R$ 980 mil).
Procurados, Secom e X não se manifestaram sobre o corte de anúncios do governo na rede social.
Em abril, integrantes do governo Lula afirmaram, reservadamente, que o X não receberia mais verba em meio ao agravamento da crise do dono da rede com autoridades brasileiras.
No mesmo mês, Moraes incluiu o empresário no rol de investigados no inquérito que apura a existência de milícias digitais antidemocráticas e seu financiamento. O ministro do STF ainda determinou a abertura de investigação sobre possíveis crimes de obstrução à Justiça.
A briga de Musk e Moraes mobilizou grupos de direita no Brasil e Jair Bolsonaro (PL) em novos protestos contra o STF.
Em agosto, o ministro determinou a derrubada "imediata, completa e integral" do X no Brasil sob a justificativa de descumprimento de decisões judiciais.
Um dia após a decisão, o empresário disse que o ministro havia se torando um ditador e tinha Lula "em uma coleira". Semanas mais tarde, declarou que o petista era um "cão de colo" de Moraes.
O X voltou a funcionar no Brasil em outubro. O ministro do STF liberou a operação depois de a empresa pagar multa de R$ 28,6 milhões e se comprometer a cumprir decisões judiciais.
Integrantes do governo apontam que a suspensão dos anúncios se baseia em uma norma publicada em fevereiro pela Secom para evitar a veiculação de anúncios do governo em canais que promovem fake news.
A regra fala em "coibir a monetização" em ações publicitárias do governo "de sites, aplicativos e produtores de conteúdo na internet que ensejem risco de danos à imagem das instituições do Poder Executivo federal por infração à legislação nacional ou por inadequação a políticas e padrões de segurança e de adequação à marca do governo federal".
Musk também é um alvo frequente de críticas de Lula. "Olha, a única coisa que queremos é que esse empresário trate os países com respeito e não utilize fake news para informar o povo, seja o povo americano, seja o povo brasileiro", disse o presidente à CNN Internacional.
Em discurso divulgado na véspera do feriado de 7 de Setembro, o petista disse, sem citá-lo diretamente, que o Brasil sempre será "intolerante" a "qualquer pessoa, tenha a fortuna que tiver, que desafie a legislação brasileira. Nossa soberania não está à venda".
"Democracia é o diálogo, é a convivência civilizada entre opostos. Não é direito de mentir, espalhar o ódio e atentar contra a vontade do povo", afirmou.
Após o insulto de Janja no fim de semana, no entanto, ele disse que não se deve "ofender ninguém", sem menção explícita ao episódio.
Apoiador de Donald Trump, Musk foi indicado pelo presidente eleito dos Estados Unidos para integrar sua gestão, no cargo de chefe do novo Departamento de Eficiência Governamental.
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