Crédito, Javier Hirschfeld/BBC
- Author, Caryn James e Hugh Montgomery
- Role, BBC Culture
Há 31 minutos
De um envolvente policial da Netflix até a nova temporada de Ruptura, passando por uma poderosa minissérie sobre morte e sexo, os críticos da BBC Caryn James (CJ) e Hugh Montgomery (HM) selecionam as melhores séries do streaming em 2025, até o momento.
Os números da lista não representam ordem de classificação. Eles foram incluídos apenas para separar as séries com maior clareza.
Crédito, Justin Downing/Netflix
1. Dept. Q
A história de um detetive brilhante e excêntrico traumatizado por um caso anterior pode soar como um clichê. Mas Matthew Goode traz tanta profundidade e uma inteligência tão mordaz ao seu personagem Carl Morck (agora relegado a casos pequenos e um escritório no porão) que oferece uma nova vida a este conceito.
Os criadores da série, Scott Frank (de O Gambito da Rainha e da subvalorizada Monsieur Spade) e Chandni Lakhani, sabem que os personagens são mais importantes que os casos antigos que Morck tenta desvendar em Edimburgo, na Escócia. Por isso, eles o rodearam de colegas inteligentemente selecionados, que são muito mais do que simples desajustados.
O destaque — e sinal da ousadia da série — é o enigmático Akram Salim (Alexej Manvelov). Ele ingressa no departamento de Morck como especialista em TI e revela suas próprias e excepcionais habilidades como detetive, sem falar no seu misterioso passado na Síria.
Morck pergunta se ele estava no lado bom ou ruim no seu país de origem, o que é uma ótima questão, considerando as violentas técnicas de Salim.
A série é um tanto assustadora, já que podemos ver uma mulher capturada que a equipe de Morck ainda não descobriu. Mas é sempre inteligente e fascinante. (CJ)
Dept. Q está disponível no Brasil na Netflix.
Crédito, Sarah Shatz/FX
2. Morrendo por Sexo
Baseada no podcast do mesmo nome, esta minissérie em oito capítulos conta uma história real extraordinária.
Molly Kochan (1973-2019) recebeu diagnóstico de câncer de mama em estágio 4 e decidiu abandonar seu marido para embarcar em uma odisseia sexual. Sua intenção era conhecer a satisfação física antes que fosse tarde demais.
O brilho da adaptação reside exatamente na sua discrição.
Você pode imaginar esta história sendo contada de forma moralista e conscientemente provocadora. Mas seus criadores, Liz Meriwether e Kim Rosenstock, ao lado da excelente estrela Michelle Williams, oferecem à jornada de Molly uma objetividade que acaba fazendo com que a série seja mais autêntica e perturbadora.
Na sua jornada final, Molly não tem uma grande epifania, mas simplesmente uma apreciação mais detalhada da variedade das conexões humanas, que realmente pode enriquecer a nossa existência.
Estes laços incluem sua leal amizade com a caótica Nikki (maravilhosamente interpretada por Jenny Slate) até seus pervertidos encontros com um vizinho (Rob Delaney), que gosta de ser chutado nos genitais.
Em um ponto onde ela sente que está apenas começando sua nova jornada de vida, o fim chega subitamente, oferecendo um dos retratos mais íntimos da morte já oferecidos na tela.
Sim, podem sobrevir lágrimas e elas são muito merecidas. (HM)
Morrendo por Sexo está disponível no Brasil no Disney+.
3. Mr. Loverman
Poucas séries são baseadas em um personagem tão inspirador, complexo e marcante quanto este drama, que traz Lennie James sempre bem vestido como Barrington Loverman.
Agora na casa dos 70 anos de idade, Barry é marido, pai e avô. Ele mantém em segredo um relacionamento com Morris (Ariyon Bakare), desde que os dois homens eram adolescentes.
Na sua rica interpretação vencedora do prêmio Bafta, James incorpora completamente seu personagem. Ele revela o amor profundo de Barry por Morris, como suas decisões foram difíceis e como ele foi moldado pelo que a sua geração considerava respeitável.
Sharon D. Clarke é igualmente tocante e compreensiva como a esposa de Barry, Carmel. Ela descobre o segredo do marido e fica furiosa com a desonestidade que marcou seu casamento de 50 anos.
Não há vilões nesta série, baseada no romance da escritora britânica Bernardine Evaristo.
Quando Barry chega a um momento decisivo na sua vida, a série mostra uma perspectiva clara sobre as concessões existentes nos relacionamentos longos e é profundamente humana na sua recusa a demonizar qualquer pessoa. (CJ)
A reportagem não encontrou serviços de streaming que estejam exibindo a série no Brasil.
Crédito, Netflix
4. Too Much
Há quase uma década, terminava a série Girls (2012-2017), a mistura de drama e comédia da roteirista Lena Dunham que marcou época.
Desde então, ela se ocupou de uma série de projetos, que incluíram dois filmes e a direção do piloto da série Industry, que estreou em 2020. Mas eles passaram relativamente despercebidos.
Por tudo isso, é ótimo ter Dunham de volta, com esta bem montada comédia romântica, livremente inspirada na sua própria mudança para o Reino Unido.
Megan Stalter (mais conhecida pela série Hacks, que estreou em 2021) interpreta Jessica, uma executiva de publicidade que sofreu burnout e decide cruzar o Atlântico após um desagradável rompimento amoroso. Mas ela começa errando, ao acreditar que seus primeiros passos no seu novo território serão em uma propriedade rural, não em um bloco de apartamentos urbano.
Felizmente, esta óbvia brincadeira, na verdade, não é o foco principal da série, mas sim os detalhes do seu florescente relacionamento com um músico em dificuldades, interpretado pelo astro Will Sharpe, de The White Lotus.
O melhor ponto sobre seu romance, escrito com sutileza e compaixão por Dunham, é que perdemos pouco tempo para saber se eles irão ou não se relacionar. Os dois formam basicamente um casal já no fim do segundo episódio.
Em vez disso, a série se dedica a mostrar se eles podem realmente fazer seu relacionamento funcionar a longo prazo, considerando as cicatrizes emocionais de ambos.
Em relação aos papéis principais, Stalter inicialmente é ampla demais e seu estilo é de sitcom, mas ela acaba se firmando no papel. Paralelamente, Sharpe é primorosamente natural e charmoso desde o princípio.
Os diversos astros convidados agregam um brilho cômico aos episódios, como Richard E. Grant, Naomi Watts e Andrew Scott.
A série certamente traz imperfeições, com alguns episódios mais fracos que outros. Mas sua história comprova que existe beleza na imperfeição. (HM)
Too Much está disponível no Brasil na Netflix.
Crédito, ITV
5. Code of Silence
Este drama relembra que não se deve menosprezar uma jovem inteligente que, por acaso, sofre de deficiência auditiva. Mas a produção mescla suavemente esta estimulante mensagem com cenas de crime e ação, ao lado de uma heroína cativante.
Rose Ayling-Ellis traz uma energia sutil, mas intensa, para sua personagem Alison Brooks. Ela trabalha na cafeteria de uma delegacia de polícia e é recrutada para ajudar os detetives, lendo os lábios no vídeo de uma gangue criminosa que está sob investigação.
Enquanto ela assiste às imagens, o texto aparece parcialmente na tela da TV, oferecendo uma sensação visual dos desafios da vida de Brooks, sem contar com a capacidade auditiva.
A deficiência da personagem é fundamental para a série, mas, em vez de mostrar um tema pesado, seu roteiro inteligentemente executado mostra Brooks trabalhando infiltrada.
Ela se coloca em situações mais perigosas que o esperado pelos próprios detetives (que contam com a forte interpretação de Andrew Buchan e Charlotte Ritchie) e acaba atraída por um dos homens que eles estão investigando.
Ao longo da série, Ayling-Ellis nos mostra que Alison Brooks está determinada a fazer parte da investigação, para provar sua capacidade. (CJ)
A reportagem não encontrou serviços de streaming que estejam exibindo a série no Brasil.
Crédito, HBO
6. O Ensaio
Na primeira temporada desta série, em 2022, o inteligente humorista Nathan Fielder ajudou as pessoas a "ensaiar" futuras situações da vida, com equipes de atores e cada vez mais intrusão na realidade.
A produção foi uma conquista notável, realmente diferente de tudo o mais que existe na TV. Mas, em relação a uma segunda temporada, a questão sempre foi: depois de criar algo tão singular, como fazer para revigorar a criatividade?
Bem, Fielder conseguiu esta façanha.
Ele aplicou suas técnicas de simulação igualmente absurdas e inspiradoras a um problema específico: as eventuais falhas de comunicação entre os pilotos na cabine de comando dos aviões. Para Fielder, elas são uma causa fundamental de muitos acidentes na aviação comercial.
Para analisar esta teoria, Fielder rompe novamente com as fronteiras da forma em seu estilo espetacular. Ele cria uma réplica de um terminal do aeroporto de Houston, no Estado americano do Texas, e idealiza, entre outras coisas, um concurso de canto especial chamado Asas da Voz.
Inúmeros desvios de rota marcam os seis episódios, incluindo uma revelação profundamente desconfortável sobre a suposta censura do seu antigo programa Nathan for You (2013-2017), exibido pela Paramount+. Estes desvios formam mais um estudo surreal e perturbador do comportamento humano.
O ponto alto da série é o voo do próprio Fielder, uma verdadeira reviravolta, inesperada e comovente. (HM)
O Ensaio está disponível no Brasil na HBO Max e na Amazon Prime Vídeo.
Crédito, Amazon MGM Studios
7. Étoile: A Dança das Estrelas
Esta não é a primeira série sobre balé de Amy Sherman-Palladino a ser cancelada de forma insensata após uma só temporada. Bunheads (2012) teve o mesmo destino, mas se tornou um fenômeno cult posteriormente.
Étoile: A Dança das Estrelas também merece uma longa vida de sucesso. Ela nos faz mergulhar no brilhante glamour e na rivalidade nos bastidores das companhias de balé de Nova York, nos Estados Unidos, e Paris, na França, em um intercâmbio dos seus melhores dançarinos por uma temporada.
É uma obra encantadora, que combina a irrealidade elevada dos espirituosos diálogos de Sherman-Palladino com fragmentos de apresentações de dançarinos profissionais. E os atores do elenco são tão virtuosos quanto os dançarinos.
Mergulhando nos seus arquétipos, Charlotte Gainsbourg é a essência da sofisticação parisiense, como chefe da companhia francesa, enquanto Luke Kirby é a líder ativa e neurótica do grupo de Nova York. Lou de Laâge interpreta uma famosa e atabalhoada dançarina que viaja para Nova York e Simon Callow é o patrono artístico rico e manipulador.
Filmada em Nova York e Paris e capturando as duas cidades em seu maior brilho, a série é um escapismo delicioso. (CJ)
Étoile: A Dança das Estrelas está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo.
8. Such Brave Girls
Poucas séries são tão corajosas quanto esta sitcom britânica brutalmente honesta, que mostra duas irmãs adultas e sua mãe. Elas moram juntas e se enfrentam, cada uma com suas inúmeras neuroses, próximas da miséria.
Se fôssemos analisar seu DNA, poderíamos dizer que ela mistura a constrangedora farsa de Peep Show (2003-2015), com Jesse Armstrong e Sam Bain, e a crueldade teatral com farpas de ódio da comediante britânica Julia Davis em Nighty Night (2004-2005).
A roteirista e estrela da série Kat Sadler, que interpreta a irmã mais velha, Josie, enfrenta temas como a saúde mental e o aborto de forma franca e aberta.
Esta segunda temporada é ainda melhor do que a primeira. Ela começa com um clássico episódio de casamento caótico.
A mãe de Josie, Deb, força a filha a se casar com Seb, seu namorado chato de galocha, embora ela seja lésbica.
Paralelamente, a irmã mais jovem, Billie, desesperada em busca de aprovação masculina, embarca em um relacionamento infame com um homem casado muito mais velho. "Ele é tão agradecido por estar comigo, parece que venceu uma competição", pensa ela.
Deb espera desesperadamente que Dev, sua cara-metade excessivamente banal, a peça em casamento, para que ela possa finalmente se estabelecer e viver uma vida suburbana.
No geral, a série é um retrato brutal e estonteante de transtornos herdados, lindamente interpretado pelo seu trio central, que, ao lado de Sadler, inclui sua irmã na vida real, Lizzie Davidson e a estrela de Sherlock (2010-2017), Louise Brealey. (HM)
A reportagem não encontrou serviços de streaming que estejam exibindo a série no Brasil.
Crédito, Apple TV+
9. O Estúdio
Hollywood é um alvo fácil para sátiras, mas esta produção é tão afiada, astuta e por vezes absurda que talvez seja a comédia mais engraçada do ano.
Cocriador da série, Seth Rogen interpreta Matt Remick, o recém-nomeado diretor dos Continental Studios, um amante do cinema autoral encarregado de produzir grandes sucessos comerciais a partir de marcas conhecidas, como Kool-Aid.
Um desfile de atores e diretores — entre eles Ron Howard, Olivia Wilde e Zoe Kravitz — faz participações especiais, zombando alegremente da própria imagem. Nenhuma aparição é mais engraçada que a de Martin Scorsese no hilariante episódio inicial.
O elenco fixo também é afiado: Ike Barinholtz vive Sal Saperstein, o braço-direito de Matt; Catherine O'Hara é a ex-diretora do estúdio; e Kathryn Hahn interpreta a escandalosa e extravagante chefe de publicidade.
A série nos leva dos bastidores do Globo de Ouro até reuniões de marketing, sugerindo que todos apenas seguem o fluxo em uma indústria em crise. O futuro do cinema pode ser incerto, mas esta comédia sobre os bastidores do showbiz é um prazer à parte. (CJ)
O Estúdio está disponível no Brasil na Apple TV+ e na Amazon Prime Vídeo.
Crédito, Fabio Lovino/HBO
10. The White Lotus
Se a sátira de Mike White sobre turistas ricos e os problemas do primeiro mundo já era cultuada nas duas primeiras temporadas, a terceira consolidou seu status de fenômeno cultural, após uma explosão de audiência.
Desta vez, os grupos disfuncionais — um financista corrupto e sua família, três amigas em conflito, um homem vingativo e sua jovem namorada — são levados a um retiro de bem-estar na Tailândia, provocando debates acalorados na internet a cada novo episódio.
Alguns criticaram o ritmo lento e a falta de uma trama envolvente, enquanto outros lembraram — com razão — que a série nunca foi pensada para oferecer reviravoltas ao estilo Game of Thrones, mas sim um retrato centrado em personagens.
Pessoalmente? Achei a temporada mais sombria e reflexiva até agora, e mais uma vez sustentada por um elenco brilhante. Parker Posey, Carrie Coon, Aimee Lou Wood e Patrick Schwarzenegger se destacaram, mas ninguém destoou. (HM)
The White Lotus está disponível na HBO Max e na Amazon Prime Vídeo.
Crédito, Ben Blackall/Netflix
11. Adolescência
Não é surpresa que esta série britânica intensa sobre um garoto de 13 anos acusado de assassinar uma colega tenha se tornado um marco cultural. Elogiada até pelo primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a produção foi recomendada para exibição em escolas e alimentou debates sobre juventude e redes sociais.
A discussão social é ancorada em um drama altamente personalizado, com atuações potentes.
Stephen Graham, que criou a série com Jack Thorne, interpreta o pai do garoto e transmite a dor de um homem confrontado com a possibilidade de que seu filho seja um assassino.
Owen Cooper brilha no papel do jovem acusado, que parece inocente até que explode em um acesso de raiva.
Ashley Walters, como o detetive que também tenta compreender o próprio filho adolescente, amplia o escopo para além da família central.
Cada episódio é filmado em tempo real, em plano-sequência — uma escolha que poderia parecer artifício, mas que o diretor Philip Barantini conduz com fluidez, elevando a intensidade de um drama devastador que não oferece respostas fáceis. (CJ)
Adolescência está disponível no Brasil na Netflix.
Crédito, Apple TV+
12. Ruptura
Com justiça ou não, a Apple TV+ ganhou fama de despejar fortunas (estima-se mais de US$ 20 bilhões, cerca de R$ 109 bilhões) em séries estreladas que pouca gente assiste.
Mas a segunda temporada deste drama distópico no ambiente corporativo provou ser um verdadeiro sucesso.
Surpreende, sobretudo, por sua estranheza: a premissa instigante — funcionários da enigmática Lumon têm suas consciências divididas entre o "eu do trabalho" (innie) e o "eu de casa" (outie) — se desdobra em tramas cada vez mais surreais, com "refinamento de macrodados" e até um rebanho de cabras.
Na segunda metade da temporada, a história se tornou excessivamente dispersa, e o clímax não superou o da estreia. Ainda assim, é uma obra requintada em todos os aspectos — das atuações em dupla identidade (com destaque para a brilhante Britt Lower) à estética visual precisa.
Resta aguardar a terceira temporada — e, com sorte, respostas mais claras sobre o que realmente acontece na Lumon. (HM)
Ruptura está disponível no Brasil na Apple TV+ e na Amazon Prime Vídeo.
Crédito, Warrick Page/Max
13. The Pitt
Pode parecer mais um drama médico, mas esta série sobre um centro de traumas em Pittsburgh, no Estado americano da Pensilvânia, renova o gênero ao focar no estresse psicológico dos profissionais de saúde.
Noah Wyle entrega uma atuação poderosa como o chefe do departamento, Dr. Robbie — dedicado, exausto e emocionalmente em ruínas após não conseguir salvar seu mentor durante a pandemia de covid-19.
O elenco ao redor é igualmente complexo: Supriya Ganesh interpreta uma prodígio da medicina, Isa Briones é uma residente agressiva e Taylor Dearden vive a Dra. Mel, cuja neurodivergência a torna especialmente empática com os pacientes.
Diferente de outras séries médicas, The Pitt nunca deixa que o drama pessoal sobrepuje o foco no trabalho. Cada episódio — envolvente e acelerado — se passa em tempo real durante um plantão de 15 horas, entre perdas devastadoras e vitórias salvadoras.
Poderia ser deprimente, mas é eletrizante ao mostrar o cotidiano de pessoas para quem vida e morte são parte da rotina. (CJ)
The Pitt está disponível no Brasil na HBO Max e na Amazon Prime Vídeo.
Crédito, Brian Roedel/Disney
14. Paradise
É difícil falar sobre o impacto dessa série sem revelar a reviravolta essencial do final do primeiro episódio.
Mas o fato é que ela transforma por completo o que começa como um suspense político relativamente convencional.
Sterling K. Brown interpreta o chefe da equipe de segurança do presidente dos EUA, que se vê acusado de matar seu próprio chefe. Mas, para além do crime, algo parece fora de lugar no mundo.
Criada por Dan Fogelman, o mesmo de This is Us (2016-2022) — outra série televisiva de forte carga melodramática —, Paradise oferece entretenimento sólido no melhor sentido da palavra, com uma trama engenhosa e atuações memoráveis, desde o herói atormentado de Brown até Julianne Nicholson no papel de uma bilionária da tecnologia com ares sombrios.
Mais adiante, um episódio em especial aborda questões de proporções verdadeiramente monumentais — e é simplesmente arrebatador.
Mas, novamente, é o máximo que se pode dizer sem estragar a experiência de quem ainda não assistiu. A boa notícia para quem já viu é que uma nova temporada está prevista para 2026. (HM)
Paradise está disponível no Brasil no Disney+.
Crédito, BBC/Playground Entertainment
15. Wolf Hall: O Espelho e a Luz
A conclusão suntuosa da trilogia Wolf Hall, de Hilary Mantel (1952-2022), combina uma imersão visualmente deslumbrante no passado luxuoso da corte de Henrique 8º (1491-1547) com uma reflexão atemporal sobre o preço pessoal cobrado pela busca por poder e influência.
Mark Rylance está magistral como Thomas Cromwell (1485-1540), o conselheiro do rei, que passa a questionar suas próprias decisões à medida que o imprevisível Henrique começa a desconfiar dele.
Na pele de Henrique, Damian Lewis entrega uma interpretação fascinante, com voz e gestos assustadoramente contidos, mesmo quando ordena as ações mais cruéis.
As esposas do rei vêm e vão, mas é o colapso da relação entre esses dois homens — a dúvida e o declínio de Cromwell, e a vontade férrea de Henrique, disposto a eliminar quem estiver em seu caminho — que molda a história.
Escrito por Peter Straughan, vencedor recente do Oscar pelo roteiro de Conclave (2024), O Espelho e a Luz ressoa ainda mais hoje do que quando o livro foi publicado, em 2020. É uma obra que dialoga diretamente com o mundo contemporâneo, em que o avanço do autoritarismo se tornou uma preocupação global. (CJ)
A reportagem não encontrou serviços de streaming que estejam exibindo Wolf Hall: O Espelho e a Luz no Brasil.
Crédito, Ingvar Kenne/Curio/Sony Pictures Television
16. O Caminho Estreito para os Confins do Norte
Desde que ganhou destaque no drama adolescente Euphoria, da HBO (que estreou em 2019), Jacob Elordi tem feito escolhas certeiras, mas talvez nenhuma tão potente quanto retornar à sua terra natal, a Austrália, para protagonizar este drama de guerra devastador.
Baseada no romance vencedor do Booker Prize de Richard Flanagan, a série acompanha a vida de Dorrigo Evans, cirurgião do exército na Segunda Guerra Mundial, em três fases: o período de treinamento militar em Adelaide, na Austrália, suas experiências infernais como prisioneiro de guerra na selva tailandesa e, depois, sua existência como um veterano bem sucedido, mas profundamente atormentado (vivido na maturidade por Ciarán Hinds), ainda incapaz de processar os horrores do passado.
Com direção visualmente impactante de Justin Kurzel — conhecido por retratos viscerais da violência masculina como Os Crimes de Snowtown (2011) e A Ordem (2024) —, a série é uma das representações mais poderosas dos horrores da guerra já levadas à tela.
Ao mesmo tempo, ela trata com igual sensibilidade o desejo e a violência. A química entre o jovem Dorrigo (Elordi) e Amy (Odessa Young, magnífica), esposa de seu tio, é incendiária.
Com algumas cenas de brutalidade extrema, trata-se de uma série difícil de assistir — como deve ser —, mas cujo poder artístico oferece uma forma de transcendência. (HM)
O Caminho Estreito para os Confins do Norte está disponível no Brasil na Amazon Prime Vídeo.
Crédito, Apple TV+
17. Seus Amigos e Vizinhos
Jon Hamm nunca esteve melhor, equilibrando com maestria o drama e a comédia nesta série sobre Coop, um gestor de fundos que perde o emprego.
Tentando manter as aparências em sua comunidade de alta renda, ele acaba descobrindo uma nova identidade.
A série tem um forte elemento cômico: Coop passa a cometer furtos secretos, roubando artigos de luxo dos próprios vizinhos para aliviar sua crise financeira.
Mas o que realmente destaca a série é seu retrato afiado daquilo que Coop define, em uma de suas impagáveis narrações em off, como "o desespero silencioso dos homens ricos de meia-idade", além do mergulho nas complexas relações do personagem.
Ele ainda nutre sentimentos pela ex-esposa (Amanda Peet), que o trocou por uma amiga, e tem dificuldade para se conectar com os dois filhos adolescentes.
Por outro lado, ele mantém uma relação comovente com a irmã emocionalmente frágil (Lena Hall, em uma atuação de destaque).
Hamm não tinha um papel tão rico desde Don Draper, em Mad Men: Inventando Verdades (2007-2015) — outro sedutor carismático e falho que toma decisões terríveis. É difícil imaginar outro ator à altura no centro desta série elegante e, ao mesmo tempo, profundamente crítica. (CJ)
Seus Amigos e Vizinhos está disponível no Brasil na Apple TV+ e na Amazon Prime Vídeo.
Crédito, Channel 4
18. Big Boys
Pode não ter causado tanto burburinho quanto Adolescência, mas aqui está outra série britânica sobre masculinidade que realmente merece ser vista.
A série semiautobiográfica de Jack Rooke, sobre dois universitários que desenvolvem uma amizade inesperada — Jack, um nerd gay, e Dan, um hétero — tem sido, desde sua estreia em 2022, uma mistura incrivelmente habilidosa de humor de fazer chorar de rir, recheado de deliciosas referências à cultura pop, com um drama sensível que aborda desde o despertar sexual e depressão até demência e outros temas.
Mas foi nesta terceira e última temporada que Big Boys teve, sem dúvida, seu maior impacto.
Ela começa com um episódio hilariante com os personagens em férias na Grécia e vai ficando mais séria com o passar do tempo, apresentando o agravamento dos problemas de saúde mental de Danny com especial habilidade.
Rooke realmente sabe partir o coração do público. O episódio final é uma aula de emoção e inclui uma significativa participação especial dele próprio.
Vamos esperar que Big Boys lance seu talentoso criador em direção ao sucesso. (HM)
A reportagem não encontrou serviços de streaming que estejam exibindo a série no Brasil.
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