Ednaldo Rodrigues.

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Legenda da foto, Essa é a segunda vez que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afasta Ednaldo Rodrigues. Ação teve início em 2017, muito antes dele chegar à presidência

Há 21 minutos

A decisão do desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), foi motivada "em razão da incapacidade mental e de possível falsificação da assinatura de um dos signatários, Antônio Carlos Nunes de Lima, conhecido como Coronel Nunes", de acordo com o despacho.

Nunes teria sido um dos signatários no Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado entre o Ministério Público do Rio de Janeiro e a CBF para tentar por fim ao processo que levou Ednaldo Rodrigues à presidência da entidade.

Na decisão, o desembargador também nomeou Fernando Sarney, um dos vice-presidentes da entidade, como interventor e o responsável por convocar novas eleições.

No início de maio, a deputada federal Daniela Carneiro (União Brasil-RJ), conhecida como Daniela do Waguinho, e Fernando Sarney, protocolaram um pedido no Supremo Tribunal Federal (STF) para que Ednaldo fosse afastado da presidência, suspendendo o TAC que o mantinha no poder.

O argumento do pedido era centrado em um laudo que questiona a autenticidade da assinatura de Nunes no TAC firmado no início deste ano.

O ministro do STF, Gilmar Mendes, negou o pedido e afirmou que o questionamento era de competência da Justiça do Rio de Janeiro julgar. O ministro também determinou a "apuração imediata e urgente dos fatos narrados nas petições".

Baseado no histórico de saúde de Nunes, o desembargador Zéfiro decidiu então acatar o pedido, anulando o acordo.

"Há muito o Coronel Nunes não tem condições de expressar de forma consciente sua vontade. Seus atos são guiados. Não emanam da sua vontade livre e consciente", escreveu o desembargador em sua decisão.

Como foi firmado o acordo

Ednaldo Rodrigues foi nomeado presidente interino da CBF em agosto de 2021, após o afastamento de Rogério Caboclo, motivado por denúncias de assédio moral e sexual.

Em março de 2022, Ednaldo foi eleito presidente da CBF com mandato até março de 2026. Ele foi o único candidato e recebeu 137 dos 141 votos.

A eleição de Ednaldo ocorreu depois que o Ministério Público do Rio de Janeiro, que havia entrado com uma ação, em 2017, questionando a eleição de Caboclo, firmou um TAC com a CBF.

No entanto, uma nova ação foi movida em seguida, questionando esse TAC. Mas, no início deste ano, um novo acordo, firmado por cinco dirigentes, encerrou esse processo.

Porém, um dos dirigentes seria o Coronel Nunes, cuja assinatura está sendo contestada. Sem a validade dela, o acordo é anulado.

Essa é a segunda vez que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afasta Ednaldo.

A primeira foi em dezembro de 2023, motivada justamente pela ação movida pelo MPRJ em 2017. Mas ele recorreu e o caso foi parar no Supremo. Ednaldo retornou um mês depois por decisão do ministro Gilmar Mendes.

Símbolo da CBF em um campo de futebol

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Legenda da foto, As primeiras Copas sob o comando de Ednaldo foram consideradas, portanto, um fracasso

Durante a gestão de Ednaldo, o técnico Tite deixou o cargo de treinador da Seleção Brasileira. Isso ocorreu depois que a equipe foi eliminada da Copa do Mundo de 2022 nas quartas de final pela Croácia.

Na sequência, Seleção Feminina não passou nem da segunda fase da Copa do Mundo, e a técnica, Pia Sundhage, foi demitida.

As primeiras Copas sob o comando de Ednaldo foram consideradas, portanto, um fracasso.

Já em 2024, o Brasil não conseguiu uma vaga para disputar as Olimpíadas de Paris, ficando de fora da competição. A Seleção Brasileira foi eliminada da Copa América nas quartas de final, mas a Seleção Feminina conquistou a prata olímpica em Paris.

Cronologia do caso

2018: Ednaldo deixa a direção da Federação Baiana de Futebol, onde permaneceu por 18 anos, para assumir a vice-presidência da CBF. O presidente era Rogério Caboclo.

2021: Ednaldo é escolhido pelo Conselho de Administração da CBF para presidir a entidade de forma interina, após o afastamento de Caboclo, acusado de assédio sexual e moral contra uma funcionária.

2022: Ednaldo é eleito, por meio da Assembleia Geral Eleitoral da CBF, para presidente da entidade, com mandato até 2026.

2023: O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro invalida um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), celebrado em 2022 entre o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e a CBF, destituindo, portanto, Ednaldo da presidência.

O TAC alterava as regras para as eleições presidenciais da CBF, que vinham sendo questionadas desde 2017 pelo MPRJ. Ednaldo Rodrigues venceu a eleição, que, nessa ocasião, foi anulada.

2025: Em janeiro, MPRJ aceitou um acordo, assinado por cinco dirigentes, que reconheceu a legitimidade da eleição vencida por Ednaldo Rodrigues, encerrando a manifestação contra a CBF.

2025: Em fevereiro, o STF legitima a eleição de 2022, que conduziu Ednaldo à presidência da CBF, garantindo, portanto, a permanência do dirigente na presidência até o fim do mandato, em 2026.

2025: No mês seguinte, Ednaldo Rodrigues antecipa as eleições e acaba reeleito presidente da CBF. Candidato único no pleito, ele recebe 137 dos 141 votos.

2025: Mas, em abril, a deputada Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), protocolou no STF um pedido de "afastamento imediato" de Ednaldo da presidência da confederação.

A parlamentar contestou a autenticidade da assinatura de Antonio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, ex-presidente da entidade e vice de Ednaldo no último mandato.

Nunes foi diagnosticado com câncer no cérebro em 2018 e, segundo a deputada, em 2023 já existia laudo médico apontando que Coronel Nunes "não tinha as condições físicas e cognitivas para expor seu aceite a qualquer condição que lhe fosse apresentada".

2025: No último dia 7, o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, rejeitou o pedido para afastar Ednaldo da presidência da CBF, atribuindo ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro a competência para julgar o caso.

Nesta quinta-feira (15/5), o desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, do TJ-RJ, destituiu Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF.