Casal conversa em um sofá. O homem está de olhos fechados e mão na cabeça.

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Legenda da foto, O 'vampiro emocional' não se alimenta do seu sangue. Ele drena toda a sua energia
    • Author, Redação*
    • Role, BBC News Mundo
  • Há 10 minutos

Será que você tem um "vampiro emocional" na sua vida?

Não estamos falando de vampiros como o Drácula, que dormem em caixões e se alimentam de sangue.

A expressão "vampiro emocional" refere-se às pessoas à sua volta que, de alguma forma, conseguem drenar toda a sua energia, sempre que você está com elas. São as amizades que só sabem reclamar, que exigem que você sinta sempre o mesmo que elas e escute os problemas delas, sem nunca perguntar pela sua vida.

Um vampiro emocional manifesta diversas características específicas, segundo a psicóloga e escritora Suzy Reading, ao programa Woman's Hour ("A Hora da Mulher", em tradução livre), da BBC Rádio 4.

"Eles têm uma necessidade excessiva de chamar a atenção, de validação, de reconfirmação", explicou ela. "Mas também um sentido de que nada do que ocorreu na vida é culpa deles."

Enquanto estão concentradas no eu, no ego, elas também estão conscientes dos seus padrões de comportamento e dos impactos que causam às outras pessoas, segundo a psicóloga. Mas têm pouca compaixão pelos demais, sem que tenham consciência da falta de empatia.

Além de esgotadoras, estas relações podem debilitar pouco a pouco a sua autoestima e fazer você duvidar se não é você que tem o problema.

Mulher abraça outra, que está chorando

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Legenda da foto, Os vampiros emocionais necessitam de atenção e validação constante das pessoas à sua volta

A jornalista Radhika Sanghani passou por uma experiência parecida. O programa Woman's Hour também a convidou para que contasse como enfrentou o problema.

"Quando eu era adolescente e depois que completei 20 anos, acredito que não conseguia identificar [os vampiros emocionais]", relembra ela.

"Eu me perguntava se era minha culpa: 'Por que esta conversa não está funcionando? Talvez seja eu?'"

Com o passar do tempo, ela conseguiu perceber que seu esgotamento emocional se devia a essas pessoas e era preciso estabelecer limites.

Aqui estão cinco conselhos de Reading e Sanghani para saber como lidar com os vampiros emocionais na vida.

1. Fale diretamente sobre o comportamento

Reading destaca que, quando confrontamos uma pessoa para comunicar nossa opinião sobre seu comportamento, "precisamos ter habilidade para expressar nossa crítica, sendo diretos e dizendo: 'Quando você faz tal coisa, eu me sinto desta maneira.'"

Caso contrário, a pessoa poderá passar o resto da vida observando suas amizades desaparecerem, sem ter ideia por quê.

"É uma oportunidade de crescimento", afirma a psicóloga.

"Existem muitos exemplos de pessoas que recebem comentários críticos e ficam perplexas. Elas não tinham ideia do impacto do seu comportamento sobre os demais."

Por isso, é preciso dizer a elas o que pensamos, mas com habilidade. E, se não houver mudanças, será preciso pensar nas nossas necessidades em primeiro lugar.

2. Informe como você se sente

"O que tento fazer, e sinto que me empodera muito, é encontrar coragem para dar minha opinião", afirma Sanghani.

"Não estou dizendo: 'Acho que você é um vampiro emocional.' Estou dizendo: "Veja, sinto que, ultimamente, quando nos reunimos, realmente não há muito espaço para mim. Sinto que você não me ouve. Você realmente não me faz nenhuma pergunta.'"

O importante é que qualquer coisa que seja comunicada à pessoa seja dita em voz alta, recomenda Sanghani.

"Para mim, uma amizade verdadeira, que merece ser mantida, investindo-se nela, é aquela em que a pessoa pode me ouvir e ter uma conversa a respeito."

"Se ela se negar ou se puser imediatamente na defensiva, isso me demonstra que não é uma pessoa que desejo na minha vida."

Três amigos caminhando e conversando na natureza

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Legenda da foto, 'Em vez de se sentarem para tomar café, enfrentando esse muro de ruído, por que não sair para caminhar?', sugere Suzy Reading

3. Estabeleça limites

Reading sugere que, quando o "vampiro emocional" não tem vontade, nem o desejo, de fazer mudanças, devemos nos proteger, comunicando claramente o que necessitamos, para saber que o relacionamento com ele é seguro e saudável.

"É questão de tomar um tempo para identificar esses sinais de alerta e observar: onde estamos? Quais são os níveis de energia? É preciso nos permitirmos levar tudo com calma."

Por outro lado, você poderá expressar diretamente: "Sinto muito, mas preciso pôr fim a este relacionamento."

Mas, no caso de uma relação da qual nenhuma das duas partes possa se liberar, a solução seria estabelecer limites na forma de comunicação. Coisas simples como "não vamos enviar uma sequência infinita de mensagens um ao outro" ou "não vamos falar de nossas vidas emocionais".

"A natureza desta comunicação também deve ser muito bem orientada, deixando claro o que está bem e o que não está", orienta Reading.

4. Avalie o quanto você se expõe

Na medida do possível, reduza o tempo que você passa exposto a estas relações e tome a liberdade de decidir com quem você quer passar seu tempo.

Você também pode optar pelo lugar de reunião, a atividade que irão fazer, por quanto tempo e com qual frequência, indica Reading.

Se você tiver identificado alguém na sua vida que drena toda a sua energia emocional, mas com quem deseja manter a amizade, pense em outras atividades que vocês possam fazer.

"Em vez de se sentar para tomar café e enfrentar esse muro de ruído, por que vocês não saem para caminhar?", sugere a psicóloga.

"Por que não fazem exercício juntos para satisfazer suas necessidades mútuas? Isso reduz a tendência de que a outra pessoa domine tudo. Melhor ainda: vão jogar tênis!"

Duas mulheres sentadas a uma mesa. Uma delas levanta as mãos para deter a conversa da outra

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Legenda da foto, É preciso ter habilidade e convicção para dizer 'chega'

5. Examine o que você está obtendo da relação

Sanghani e seus amigos criaram um sistema que se mostrou útil para abordar estas situações. Eles o chamam de +2, -2 e zero.

"Se você tiver um encontro social, pense: foi +2, você saiu eufórico? Foi um zero, você se sente neutro? Ou foi -2, como depois de estar com um 'vampiro emocional' que está desgastando você?"

A jornalista garante que faz este cálculo com familiares, amigos e colegas, o que ajuda na sua rotina.

"Como vou planejar minha semana? Terei muitos zeros ali? Será que vou poder colocar alguns +2? Se tiver um -2, poderei compensar com um +2?", exemplifica ela.

O importante é levar em conta que o que talvez seja esgotador para você não é igual para outras pessoas. Mas, se a situação for irreparável, você não deve ter medo de pôr fim ao relacionamento, afirma Sanghani.

"Em algumas situações, se for fácil, simplesmente me afasto, especialmente se for alguém que acabei de conhecer", explica ela. "Se for um primeiro encontro, não vou sair de novo com um 'vampiro emocional'."

"Obviamente, é muito mais complicado se for alguém com quem você mantém um relacionamento mais estreito."

* Esta reportagem foi adaptada de uma conversa entre a psicóloga e escritora Suzy Reading e a jornalista Radhika Sanghani com Anita Rani, apresentadora do programa Woman's Hour, da BBC Rádio 4.