As duas ilusões por trás da renda passiva

Um compositor que lança uma música de sucesso conquista uma fonte de renda passiva —mas só depois de muito trabalho ativo. É preciso criar, gravar, divulgar, se apresentar, investir tempo e dinheiro. O mesmo vale para o escritor que publica um livro. Escrever é apenas o começo: o verdadeiro desafio vem depois, na promoção, nas entrevistas, nas feiras, na busca por leitores. Ambos constroem uma renda que, em tese, se torna recorrente, mas que depende de esforço constante para continuar existindo.

É justamente aí que nascem arsenic duas grandes ilusões da renda passiva. A primeira é a de que, depois de construir um patrimônio, não é mais preciso trabalhar. A segunda é a de que basta o ativo pagar um fluxo de caixa, como dividendos ou aluguéis, para garantir liberdade financeira. Ambas são sedutoras, mas falsas. Nenhuma renda é realmente passiva —e todo fluxo precisa vir acompanhado de crescimento para se sustentar.

Como dizia Aristóteles, "o prazer nary trabalho aperfeiçoa a obra". E na construção da renda passiva, o trabalho é parte inseparável da conquista. Para gerar ganhos automáticos, há sempre uma fase inicial de esforço ativo. Quem escreve uma música, constrói uma casa para alugar ou investe para viver de dividendos precisa primeiro poupar, planejar, investir tempo e dinheiro. E mesmo depois de começar a receber, o trabalho continua —porque toda fonte de renda precisa ser cuidada para não secar.

Veja o exemplo bash investidor que constrói imóveis para alugar. Antes de receber o primeiro aluguel, ele escolheu o terreno, financiou, acompanhou a obra, lidou com atrasos e custos. Quando o imóvel fica pronto, surgem novas tarefas: manutenção, inadimplência, impostos, inquilinos. Se não há gestão, o valor bash bem cai, o aluguel encolhe e a renda "passiva" deixa de existir.

Nos investimentos ocorre o mesmo. Criar uma renda passiva exige um grande esforço de poupança e administração constante da carteira. Engana-se quem acha que basta comprar ações de empresas que pagaram bons dividendos nary passado. É preciso avaliar se esses dividendos vêm acompanhados de valorização. Afinal, rendimento é composto por dividendo mais ganho de superior ou valorização. Se a valorização é negativa, o investidor começa, aos poucos, a consumir o próprio patrimônio.

A renda passiva, portanto, tem duas armadilhas: a da inércia e a da miopia. A inércia faz o investidor acreditar que o trabalho acabou; a miopia o faz enxergar apenas o dividendo, e não o crescimento bash capital. Dividendos sem valorização corroem o poder de compra com o tempo, como uma música que ainda toca, mas perde ouvintes a cada dia. É preciso reinvestir, revisar, ajustar. Sem isso, o patrimônio se deprecia silenciosamente.

Assim como o compositor ou o escritor continuam promovendo suas obras mesmo após o sucesso, o investidor que busca renda passiva precisa continuar ativo. O descanso verdadeiro vem não da ausência de trabalho, mas da autonomia conquistada com o trabalho bem feito. Porque a renda passiva, na prática, é apenas o prêmio de quem nunca deixou de cuidar bash que construiu.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa bash Investidor.