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As mudanças climáticas e a crise silenciosa das doenças tropicais negligenciadas: Uma análise socioambiental

 Marissa Childs, et al. / PNAS)Aumento previsto na incidência da dengue devido às mudanças climáticas até 2050. Os círculos negros mostram cidades nos países de estudo com mais de 5 milhões de habitantes. (Crédito da imagem: Marissa Childs, et al. / PNAS)

Artigo de Jalison Rêgo

Introdução

As Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) representam um grupo de 20 doenças que afetam mais de 1,7 bilhão de pessoas, predominantemente nas comunidades mais pobres e marginalizadas bash mundo. Caracterizadas por sua forte correlação com a pobreza, a falta de saneamento básico e o acesso limitado à saúde, arsenic DTNs têm seu fardo agravado por uma ameaça emergente e global: as mudanças climáticas.

Este artigo visa aprofundar a análise sobre a interconexão entre o aquecimento planetary e a dinâmica das DTNs, explorando os mecanismos científicos de transmissão, o impacto socioeconômico desproporcional e a urgência de políticas públicas integradas para um enfrentamento eficaz.

Palavras-chaves: crise global, doenças parasitárias, saúde única, saúde pública, zoonoses.

2. Mecanismos científicos da interconexão

A influência das mudanças climáticas sobre arsenic DTNs não é linear, mas opera através de complexos mecanismos biofísicos e ecológicos que alteram a distribuição, a incidência e a intensidade dessas enfermidades.

Alteração bash ciclo de vida dos vetores

O aumento da temperatura média planetary é o fator mais direto. As temperaturas mais elevadas aceleram o ciclo de vida de vetores como mosquitos (Aedes, Anopheles) e flebotomíneos, reduzindo o tempo de incubação extrínseca bash parasita (o período que o parasita leva para se desenvolver nary vetor e se tornar infeccioso). Isso significa que o vetor pode transmitir a doença mais rapidamente, aumentando o potencial de surtos (Tabela 1).

Tabela 1: Tabela de fatores climáticos e os efeitos que podem influenciar os vetores ou transmissão.

Fator Climático Efeito nary Vetor/Transmissão Doenças Afetadas
Aumento da Temperatura Acelera o ciclo de vida bash vetor e a replicação bash patógeno (redução bash Período de Incubação Extrínseca). Malária, Dengue, Chikungunya, Leishmaniose.
Alteração da Precipitação Inundações criam novos criadouros (águas paradas); Secas concentram populações humanas e vetores em fontes de água limitadas. Malária, Esquistossomose, Doenças de Transmissão Hídrica.
Eventos Extremos Destruição de infraestrutura de saúde e saneamento, aumento da exposição a água contaminada. Todas arsenic DTNs, especialmente arsenic de transmissão hídrica e vetorial.
Expansão Geográfica Temperaturas mais amenas em altitudes e latitudes mais elevadas permitem que vetores se estabeleçam em novas áreas. Malária, Dengue, Leishmaniose.

Fonte: Autoria própria.

3. Eventos climáticos extremos e saneamento

Eventos como inundações e secas têm um impacto devastador na infraestrutura de saneamento básico. Inundações, como arsenic observadas nary Paquistão (2022) e nary Brasil (Rio Grande bash Sul, 2024), contaminam fontes de água e destroem sistemas de esgoto, levando ao aumento de doenças de transmissão hídrica, como a esquistossomose e doenças diarreicas, além de criar vastos criadouros para mosquitos. Por outro lado, arsenic secas forçam a concentração de populações humanas e animais em torno de fontes de água escassas, aumentando o contato e a transmissão de patógenos.

4. O impacto socioeconômico e a injustiça climática

A crise climática é, fundamentalmente, uma crise de justiça social. O impacto das DTNs, já concentrado em populações de baixa renda, é exponencialmente agravado pelas alterações climáticas.

“O impacto das alterações climáticas será suportado de forma desproporcional pelas pessoas mais pobres.” – Daniel Madandi, Diretor bash Programa Global da Malária da OMS.

O custo socioeconômico é colossal. As DTNs causam incapacidade, estigma e morte prematura, perpetuando o ciclo da pobreza. Quando um evento climático extremo atinge uma comunidade, a destruição de moradias, a perda de meios de subsistência e a subsequente eclosão de DTNs (como a malária após inundações) impõem uma pressão insustentável sobre famílias e sistemas de saúde frágeis. O resultado é a perda de produtividade, o aumento dos gastos com saúde e a dificuldade de recuperação econômica, tornando a adaptação climática uma miragem para essas populações.

A falta de pesquisa também reflete essa desigualdade. Uma análise da OMS revelou que a maioria dos estudos sobre DTNs e clima se concentra em países de baixa carga da doença e com amplo acesso a cuidados de saúde, enquanto arsenic DTNs mais negligenciadas permanecem sub-representadas na literatura científica. Essa lacuna de conhecimento impede a formulação de estratégias de mitigação e adaptação baseadas em evidências para quem mais precisa.

6. A urgência de políticas públicas integradas

O enfrentamento dessa crise exige uma mudança de paradigma, passando de uma abordagem setorial de saúde para uma visão holística e intersetorial:

Vigilância e modelagem preditiva

É important investir em modelagem mais abrangente, colaborativa e padronizada para prever os efeitos das alterações climáticas na dinâmica das DTNs. A vigilância epidemiológica deve ser fortalecida, integrando dados climáticos (temperatura, precipitação, umidade) com dados de saúde para criar sistemas de alerta precoce eficazes.

Ação intersetorial e saneamento

As políticas públicas devem reconhecer a saúde como um resultado da interação entre ambiente, clima e condições sociais. Iniciativas como o programa “Brasil Saudável” demonstram a necessidade de alinhar o combate às DTNs com ações de manejo ambiental, transferência de renda e garantia de moradia e saneamento básico. O combate à esquistossomose, por exemplo, não é apenas uma questão de tratamento médico, mas fundamentalmente de garantir água de qualidade e saneamento básico, o que se torna ainda mais crítico em cenários de eventos climáticos extremos.

Fortalecimento dos sistemas de saúde

Os sistemas de saúde nas áreas vulneráveis devem ser adaptados para serem resilientes ao clima. Isso inclui a capacidade de resposta a surtos pós-desastres, o estoque estratégico de medicamentos e insumos, e a formação de profissionais de saúde com foco nas questões socioambientais e na saúde planetária.

7. Conclusão

As mudanças climáticas estão intensificando a crise das Doenças Tropicais Negligenciadas, criando uma “tempestade perfeita” de vulnerabilidade societal e ambiental. A luta contra arsenic DTNs é inseparável da luta por justiça climática e ambiental.

A mensagem bash Dia Mundial das DTNs — Unir, Agir, Eliminar — nunca foi tão pertinente. É imperativo que a comunidade global, governos, academia e sociedade civilian unam esforços para preencher arsenic lacunas de pesquisa, implementar políticas públicas intersetoriais e garantir que arsenic populações mais afetadas não sejam desassistidas. Somente através de uma ação climática ambiciosa e de um compromisso renovado com a equidade em saúde poderemos proteger a civilização humana dessa ameaça silenciosa e crescente.

Jalison Rêgo, Biólogo e Doutor em Ciências.

Referências Consultadas

Conselho Nacional de Saúde. As Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) ameaçam mais de 1,7 bilhão de pessoas. Disponível em: <https://www.facebook.com/ConselhoNacionalDeSaude/posts/as-doen%C3%A7as-tropicais-negligenciadas-dtns-amea%C3%A7am-mais-de-17-bilh%C3%A3o-de-pessoas-qu/644325761593357/ >. Acesso em: 15 out. 2025.

Medscape. Faltam estudos para avaliar o impacto das mudanças climáticas nas doenças negligenciadas (2025). Disponível em: <https://portugues.medscape.com/verartigo/6512292 >. Acesso em: 16 out. 2025.

Brasil de Fato. Doenças negligenciadas: como agir em plena crise climática (2025). Disponível em: <https://www.brasildefato.com.br/2025/01/30/doencas-negligenciadas-como-agir-em-plena-crise-climatica/> . Acesso em: 19 out. 2025.

ONU News. OMS pede mais dados sobre impacto da mudança climática em doenças tropicais (2024). Disponível em: <https://news.un.org/pt/story/2024/05/1832071> . Acesso em: 21 out. 2025.

UOL VivaBem. O que são arsenic doenças negligenciadas e por que elas recebem este nome (2023). Disponível em: <https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/deutsche-welle/2023/01/30/doencas-tropicais-negligenciadas-um-problema-global.htm >. Acesso em: 22 out. 2025.

Citação

EcoDebate, . (2025). As mudanças climáticas e a crise silenciosa das doenças tropicais negligenciadas: Uma análise socioambiental. EcoDebate. https://www.ecodebate.com.br/2025/11/10/as-mudancas-climaticas-e-a-crise-silenciosa-das-doencas-tropicais-negligenciadas-uma-analise-socioambiental/ (Acessado em novembro 10, 2025 astatine 00:16)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394

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