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Bradesco processa diretor da Ambipar; entenda a situação da empresa

Procurada, a Ambipar não respondeu imediatamente a um pedido de comentários. O espaço permanece aberto à manifestação da empresa e dos seus executivos.

Intenção do banco é responsabilizar pessoalmente o diretor e outros administradores da Ambipar. Os advogados observam que a responsabilização dos administradores está prevista no Código Civil mediante a instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica - quando a estrutura da empresa é utilizada de maneira desonesta ou irregular pelos sócios ou administradores para prejudicar terceiros.

Ambipar deve R$ 390 milhões ao Bradesco. O valor é um dos argumentos usados pelo banco para abrir o processo.

O presente protesto está fundado, de um lado, na existência do crédito de mais de R$ 390 milhões em favor do Bradesco, e, de outro, na iminente possibilidade de, no futuro, o Bradesco e demais credores da Ambipar virem a acionar seus administradores — notadamente os membros da Diretoria — para que, diante das graves irregularidades praticadas na companhia, estes venham a responder, com seu patrimônio pessoal, pelos danos causados.

Escritório Warde Advogados, em ação do Bradesco contra ex-diretor da Ambipar

Números não fecham. Na ação, o Bradesco destaca que o pedido de recuperação judicial ocorreu por conta de uma dívida de R$ 60 milhões com o Deutsche Bank. Porém, em julho deste ano a empresa declarou caixa de R$ 4,7 bilhões. "Muito embora essa obrigação com o banco alemão fosse inexpressiva ante o caixa declarado nas suas demonstrações financeiras de dois meses antes — menos de 2% dele, para ser mais preciso! —, a Ambipar dizia, naquela acintosa inicial, simplesmente não ter como honrar essa obrigação", observa o Bradesco por meio dos seus advogados.

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Há suspeitas de que caixa foi esvaziado ou fraudado, segundo advogados. De acordo com o documento, a Ambipar teria alocado quase metade dos cerca de R$ 4,7 bilhões contabilizados como recursos em "caixa" em um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), chamado Fênix. Porém, esse ativo é "altamente volátil e de baixíssima liquidez", segundo os advogados.

Ação observa ainda que o Fundo Fênix tem apenas dois cotistas — a Ambipar Incorporações e a fintech Ambipar Bank. E que nos últimos dias o fundo "passou por movimentações assaz suspeitas", que "que sugerem que ele pode ter sido usado pelo Grupo Ambipar tanto para fabricar uma liquidez artificial no caixa da companhia, quanto para ocultar recursos do próprio grupo nesse obscuro fundo".

A Ambipar aloca recursos no Fundo Fênix a partir da compra de créditos originados por empresas que pertencem à própria Ambipar, e contabiliza os recursos alocados no Fundo Fênix como "caixa" em seu balanço, o que, naturalmente, encerra uma grave ilegalidade, já que esses recursos — na verdade, expectativas de recursos futuros — deveriam ser registrados, se muito, como "contas a receber", e não como caixa, dado se tratar de um recurso que depende do pagamento dos devedores dos recebíveis. Warde Advogados, em ação do Bradesco contra ex-diretor da Ambipar

Na ação, advogados do Bradesco afirmam que os acionistas e administradores estavam cientes de fraude nas contas da Ambipar. "[Dado que] não tomaram providência, e/ou que com ela foram negligentes e/ou coniventes, deverão ser responsabilizados pelos prejuízos que a repentina insolvência da companhia causou ao Bradesco".

Entenda a situação da Ambipar

Na última segunda-feira (20), grupo Ambipar pediu recuperação judicial em caráter de urgência. Em fato relevante, a empresa justifica que a decisão é motivada pela sequência de eventos deflagrada após a descoberta de indícios de irregularidades na contratação de operações de swap com o Deutsche Bank. O episódio resultou no pedido de demissão do então diretor financeiro João Arruda.

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Ambipar afirma que "renúncia abrupta" abalou a confiança da empresa no mercado. Diante da substituição de Arruda por Ricardo Garcia, a companhia destaca que recebeu pedidos de antecipação de vencimento de dívidas por parte de alguns credores, "criando risco concreto de vencimento cruzado de outras obrigações".

Inquérito criminal para apurar as condutas do ex-diretor. A Ambipar afirma ainda que contratou a FTI Consulting para realizar uma investigação contra Arruda e seus associados, e pediu também as devidas penas e reparações civis pelos prejuízos causados.

Pedido de recuperação judicial busca garantir a preservação das atividades empresariais. Segundo o Grupo Ambipar, o esforço tem o objetivo de dar continuidade às operações e a manutenção dos empregos, contratos e serviços prestados. "A medida também busca assegurar tratamento equitativo aos credores e promover uma reorganização ordenada e transparente", destaca o fato relevante.

O Grupo Ambipar mantém suas operações normalmente e segue oferecendo serviços de excelência, com segurança, eficiência e confiabilidade, em todos os seus segmentos. Sua força de trabalho permanece plenamente mobilizada sustentando milhares de empregos diretos e indiretos, gerando impacto social e estimulando a atividade econômica.
Grupo Ambipar, em fato relevante

Pedido de recuperação se estende aos Estados Unidos. Também em fato relevante, a Ambipar anunciou o ajuizamento pela subsidiária Ambipar Emergency Response do processo da falência em um tribunal americano, nos termos do texto legal conhecido como Capítulo 11. A companhia destaca que a ação envolve apenas a Ambipar Emergency Response, sem incluir nenhuma outra sociedade do Grupo Ambipar.

Ambipar chegou à beira da insolvência depois de um movimento financeiro que drenou caixa da companhia. A crise financeira começou depois que um aditivo de um contrato de swap cambial de R$ 3 bilhões disparou obrigações de pagamentos relacionados a empréstimos tomados em títulos internacionais (bonds).

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Ações viraram pó na Bolsa. Após o problema relacionado a essa operação financeira, as ações da Ambipar desabaram de R$ 13,60 em 1º de agosto, para R$ 0,39 no fechamento da sessão de ontem.

Controlador na Ambipar perde mais de 8% da empresa. Tércio Borlenghi Junior deixou de ter direta ou indiretamente 67,68% do controle da empresa e passou a ter 59,54%, segundo fato relevante. Em carta para Ambipar anexada ao fato relevante, Borlenghi disse que redução de participação ocorreu de forma "indevida" porque a Plural Investimentos e o Opportunity seguem "excutindo" (executando judicialmente um bem dado como garantia) as ações dele alocadas no fundo Everest. Borlenghi afirmou que a sua participação na Ambipar nos últimos dias foi reduzida em mais de 136 milhões de ações ordinárias.

O que faz a Ambipar

Fundada em 1995, a multinacional brasileira é líder em gestão ambiental. A Ambipar afirma atuar com a promoção de soluções ambientais sob os princípios da economia circular e reincorporação de resíduos nos processos produtivos. A iniciativa busca reduzir a utilização de recursos naturais e custos financeiros.

Empresa anunciou receita líquida de R$ 1,77 bilhão no segundo trimestre. O valor foi 25% superior ao do mesmo período de 2024. Mesmo assim, a Ambipar registrou prejuízo líquido de R$ 134,1 milhões entre abril e junho, ampliando perdas que haviam sido de 84,6 milhões no segundo trimestre do ano passado.

Empresa opera em diferentes ramos. Entre as atividades desenvolvidas aparecem a gestão e valorização de resíduos, a coleta e transporte de resíduos, o coprocessamento, a logística e manufatura reversa e as atividades relacionadas ao crédito de carbono.

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Ambipar é especializada no gerenciamento de crises e atendimento a emergências ambientais, químicas e biológicas. As atividades visam evitar impactos à saúde das pessoas, ao patrimônio e ao meio ambiente com a prevenção de acidentes, treinamentos, respostas a emergências, desinfecção de ambientes, serviços industriais e o desenvolvimento de equipamentos de combate a incêndios.

(*) Com informações da Agência Estado

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