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O empreendimento significará – 20 anos depois da instalação da fábrica de cigarros que, entre duas etapas de investimentos, aportou R$ 700 milhões em Cachoeirinha – um novo ciclo econômico para o município, com um investimento anunciado de cerca de R$ 1 bilhão em uma indústria moderna, ligada ao setor de tecnologia e inovação. A perspectiva é de que, em 2029, a produção de encapsulamento e testes de semicondutores seja iniciada.
Coincidentemente, a fabricação se dará na antiga sede da Fundação de Ciência e Tecnologia (Cientec), que encerrou as suas atividades em Cachoeirinha em 2016, mesmo ano em que a Souza Cruz encerrou a produção de cigarros na cidade. Desde então, o município estima a perda anual de 25% da sua receita com ICMS.
Ainda não há uma projeção concreta de quanto Cachoeirinha arrecadará com o novo empreendimento da Tellescom Semicondutores, mas a Secretaria Municipal do Planejamento projeta que a receita do município pode dobrar em 10 anos. Somente em ICMS, o retorno estimado para o ano é de R$ 136 milhões.
"Estamos muito mais preparados para fazer com que este investimento fomente um ecossistema inteiro de inovação e garantam um futuro para Cachoeirinha inclusa no novo modelo da indústria e da economia, de maneira mais segura em relação àquele ciclo de 20 anos atrás", garante a secretária municipal de Desenvolvimento Econômico, Sueme Pompeo de Mattos, que completa: "teremos um impacto direto na renda da cidade, na formação de talentos. Temos que ter consciência plena de que somos privilegiados por este investimento estar aqui, e isso servirá, sem dúvida, como atração a novas indústrias, startups e tudo o que o setor da inovação mobiliza. A Tellescom, por si só, será muito importante para a nossa economia, e representa uma virada de chave, mas estamos projetando todo o futuro ecossistema de inovação em Cachoeirinha. Podemos dizer que Cachoeirinha estará no mapa nacional da indústria de alta tecnologia".
Sueme representou o município em São Paulo, no novo escritório do Invest RS, onde o protocolo de intenções entre a empresa, a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict), a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) e a Invest RS foi firmado na última segunda, após um termo de engajamento garantido em fevereiro durante uma missão da Invest RS à Malásia. Virá de lá a tecnologia aplicada pela Tellescom, por meio de uma joint venture.
Mas este processo de negociação começou bem antes daquela missão. De acordo com o prefeito de Cachoeirinha, Cristian Wasem (MDB), o assunto era tratado sigilosamente há mais de dois anos, com o interesse da empresa, que já tem duas plantas industriais no Amazonas, pela área estadual, da Cientec, em Cachoeirinha. Na reta final deste processo, porém, surgiram concorrências de pelo menos três municípios: Gravataí, Canoas e Glorinha. Os executivos visitaram esses locais, o que causou certa apreensão em quem acompanhava as tratativas desde o início.
"Todas as reuniões técnicas e tratativas aconteceram na nossa sede. O Centro das Indústrias de Cachoeirinha (CIC) foi estratégico e sempre fomos parceiros nesta negociação que, quando deixou de ser tão sigilosa, parecia estar arriscada. A presença de uma indústria de semicondutores na nossa casa, no nosso Distrito Industrial, representa uma transformação econômica e social. Não tenho dúvidas de que vai mudar a história de Cachoeirinha", diz a presidente do CIC, Neiva Bilhar.
Conforme a dirigente, já há inclusive outras empresas do setor de inovação e tecnologia com sondagens ao CIC para futuros investimentos. Além do interesse local. A produção da Tellescom é considerada fundamental para indústrias automotiva, na Internet das Coisas e telecomunicações, e por isso, já desperta a atenção de indústrias atuantes em Cachoeirinha.
"Poderemos ter um fornecedor de peso no nosso Distrito justamente em um momento de transformação tecnológica das nossas indústrias. Já recebemos interessados em afinar este contato com a Tellescom, inclusive", aponta a presidente.
Preparação da cidade inclui financiamento chinês em infraestrutura
Como define a secretária Sueme Pompeo de Mattos, "agora é a hora de arregaçar as mangas". Ela refere-se à preparação estrutural para a futura instalação do novo complexo, que poderá chegar a quatro plantas industriais dentro do mesmo projeto nos próximos anos. Por parte do Estado, o processo agora envolverá a negociação de parte da área do Cientec, atualmente cedida à Uergs, que projetava a criação de um polo tecnológico neste campus, e com o funcionamento de uma unidade de Bombeiros.
Com um total de 117 mil hectares, a estimativa é de que o projeto da Tellescom ocupe menos de 10% da área, em torno de 10 mil hectares. Esta deve ser a área incluída na negociação do terreno, por parte do Governo do Estado, com os empreendedores, seguindo as regras do Programa Estadual de Desenvolvimento Industrial (Proedi), que prevê descontos na venda do terreno por ser um projeto estratégico à economia gaúcha.
Já no município, há o compromisso de adaptação no Plano Diretor. Isso porque, mesmo vizinho ao Distrito Industrial, o terreno, próximo da divisa com Canoas, na Avenida das Indústrias, é considerado Área de Interesse Especial no atual Plano. Segundo a secretária, no processo de revisão, o terreno, que já passa por análise, será considerado Área Industrial.
Oficialmente, para a escolha por Cachoeirinha, a Tellescom teria pesado o posicionamento estratégico do município na Região Metropolitana, com as proximidades ao Aeroporto Salgado Filho, à Base Aérea de Canoas e a todas as principais rodovias que cruzam a Região Metropolitana. Na estratégia de atração do investimento bilionário, porém, Cachoeirinha apostou em um avanço de infraestrutura histórico previsto para os próximos anos, com o plano chamado Cachoeirinha 2050.
Por isso, enquanto a escolha da cidade era confirmada em São Paulo, o prefeito Cristian Wasem estava na China. É onde, nesta quinta, ele apresenta-se durante a plenária do Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura (AIIB). De lá virá o maior financiamento da história da cidade, chegando a pelo menos R$ 450 milhões, em um contrato que deve ter a assinatura oficial durante a COP30, em Belém, em novembro.
Entre os projetos a serem executados neste pacote está a construção, pelo menos, da parte de Cachoeirinha da futura ERS-010, apelidada Eletrovia, e que ligará justamente, sem o movimento urbano, a cidade à BR-290, ERS-118 e BR-116, tendo como ponto-chave a atual área da Cientec, com custo estimado de R$ 100 milhões.
Qualificação de estudantes estaria no pacote de investimentos
Em entrevista ao JC, o CEO da Tellescom, Ronaldo Aloise Júnior, destacou que a escolha pelo Rio Grande do Sul teve como um dos seus argumentos o destaque gaúcho - inclusive pelo histórico da Cientec - no desenvolvimento de microeletrônicos - e a qualidade da formação dos especialistas por aqui. Nas negociações diretas com o município, a empresa foi além. Há perspectiva de criação, dentro da planta industrial, de programas de treinamento e qualificação para estudantes locais.
"Nos pareceu uma proposta bastante arrojada e, certamente, resultará em ganhos não somente econômicos, mas principalmente sociais para Cachoeirinha. Por isso, estamos nos preparando para um ciclo de investimentos e de desenvolvimento bem diferente do que já vimos até hoje", aponta a presidente do CIC, Neiva Bilhar.
Isso porque estão previstas também parcerias da empresa com escolas locais para o desenvolvimento dessa mão de obra qualificada na área de semicondutores, tecnologias e inovação, tão valorizada pelo setor industrial. Somente neste projeto, são previstos até mil novos empregos.
"Vamos fabricar componentes eletrônicos. Vamos importar os 'wafers', que são as lâminas de silício onde os circuitos estão impressos, e vamos individualizá-los, transformá-los nos seus diversos componentes. Tu podes fabricar processadores, microcontroladores. Vamos focar muito nos mercados de automotivo e de telecomunicações, que demandam muito chip, demandam muito componente. A indústria brasileira já é muito bem atendida. O Brasil tem cinco empresas que encapsulam componentes, mas todas atuam muito na área de memórias de computador, telefone etc. Então, a gente vai ir para um outro segmento", detalhou Aloise Júnior em entrevista ao JC na segunda-feira.
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