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Carne do RS não foi poupada por Trump

A publicação do decreto de tarifas pelo presidente Trump, bem como a lista de exceções de produtos, pegou de surpresa a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). A ordem executiva não poupou a carne, produto exportado pelo Estado.

Para o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, embora a exportação não seja tão significativa, o mercado interno poderá ser impactado. Para o mercado externo, o produto tem um peso de entre U$40 milhões e U$ 50 milhões. “Ainda que a exportação seja pequena, o mercado externo é um só. O mercado externo é preponderante porque mantém o patamar de preços. Para nós é extremamente importante.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) chegou a estimar que a venda de carnes bovinas aos EUA deve ter uma queda estimada de 47%, enquanto o café pode ter uma redução de 25%. As tarifas já haviam derrubado a venda de carne bovina brasileira para os americanos, mesmo antes de entrar em vigor a sobretaxa de 50%.

Em abril, mês em que Trump passou a impor a taxação adicional de 10%, as exportações brasileiras de carne para os EUA chegaram a 47,8 mil toneladas. Em menos de três meses, o volume despencou: foram registradas vendas de 27,4 mil toneladas em maio. Em junho, houve uma nova redução, para 18,2 mil toneladas. Neste mês, mais um tombo, e o volume das compras americanas chega a 9,7 mil toneladas neste momento, uma redução de 80% sobre as exportações de abril.

Já o preço da carne brasileira subiu para o mercado americano. Se em abril o valor médio pago pelo importador era de US$ 5.200 por tonelada de carne, esse preço passou para US$ 5.400 em maio e chegou a US$ 5.600 em junho. Nesta semana, o valor médio praticado está em US$ 5.850, uma alta de 12%.

Algumas remessas de carne já fechadas e que tinham os EUA como destino chegaram a trocar o destino portuário em território americano, para evitar que a embarcação chegasse após o dia 1º.

A FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) declarou que a nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras.

"Diante desse cenário, a FPA defende uma resposta firme e estratégica: é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações. A FPA reitera a importância de fortalecer as tratativas bilaterais, sem isolar o Brasil perante as negociações. A diplomacia é o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas", declarou.

A Marfrig, uma das maiores companhias de carne do mundo, decidiu paralisar a produção de seu complexo de Várzea Grande, em Mato Grosso, destinada aos Estados Unidos. O retorno, que ainda não tem data prevista para ocorrer, deverá ser informado aos órgãos de fiscalização com 72 horas de antecedência.

Setores do agronegócio como as indústrias de carnes, café e pescados, também reagiram. "Nós dependemos do governo, de diplomacia. Há um interesse dos órgãos americanos do setor de café de buscar uma solução", diz Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). "O problema é que os dois governos, de ambos os países, estão demorando em negociar."

Heron diz que os dados comprovam que não haverá substituição do café brasileiro dos EUA no curto prazo, dado o volume das vendas ao consumidor americano.

Eduardo Lobo, presidente da Abipesca (Associação Brasileira da Indústria da Pesca), disse que a situação é de alerta máximo no setor e que, se não houver linha de crédito subsidiado e emergencial, haverá demissão em massa. A Abipesca entrou com um pedido formal ao governo brasileiro para liberação de uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões, há mais de uma semana, mas não teve retorno. "O governo está sendo passivo neste momento, precisa dar a mão para gente. Fiz o pedido dos R$ 900 milhões e até agora, nada. Se o governo não socorrer o setor de pescados nos próximos oito dias, o setor vai começar a diminuir 1 mil pessoas, a cada 15 dias", disse.

A Abipesca tem previsão de participar de um encontro com o Mdci (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) nesta quinta-feira (31). "A negociação, agora, é dentro do Brasil. Com os Estados Unidos, o cenário está dado. O que a gente quer é linha de crédito", comentou Lobo.

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