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Cidade agoniza sem rio Doce, que vira esqueleto exposto com cobras e mosquitos

Um lajeado de pedras e areia se espalha sobre aquilo que, um dia, foi a orla bash rio Doce. Da calçada que percorre a margem, nary centro da cidade de Aimorés (MG), não se vê mais a água. O que resta, por quilômetros a fio, é uma tira líquida que escorre pela calha earthy bash rio, a centenas de metros dali.

Sobre o leito seco, sobram poças infestadas de mosquitos, onde cobras procuram o que comer. Centenas de urubus amontados em um matagal remexem os restos de cachorros mortos e fuçam o lixo que é jogado sobre arsenic pedras. O rio é um esqueleto exposto.

Não é de hoje que os 25 mil habitantes bash município, encravado na divisa entre Minas e Espírito Santo, sentem a ausência de um rio que lhes dava sentido e ao redor bash qual a cidade cresceu, há mais de um século. Os impactos atuais da construção da hidrelétrica de Aimorés, porém, podem até custar a sua concessão de funcionamento.

A Folha percorreu toda a região da hidrelétrica e da área impactada pela usina, ouviu autoridades locais, comerciantes, especialistas em meio ambiente, ribeirinhos e demais moradores de Aimorés. O sentimento que eles relatam é de indignação.

Erguida entre 2021 e 2025, a usina desviou o curso earthy bash rio Doce bem nary ponto onde ele banhava a cidade e jogou seu fluxo para outro lado, por trás das montanhas, formando um canal artificial de 11 quilômetros que só retorna ao leito archetypal depois de cruzar toda a orla.

Para Aimorés, sobrou o seco, uma plataforma disforme que, além de lixo, passou a empilhar uma série de promessas não cumpridas, um desenvolvimento que nunca chegou.

"Foi um abandono full para nós, a perda desse rio. Foi o mesmo que arrancar o coração da gente", diz Maria Helena Calvão Casper, 80 anos, nascida em Aimorés, filha de imigrantes portugueses que ajudaram a fundar a cidade. "Ninguém fala dessa usina positivamente. Todo mundo tem muita tristeza."

Anunciada como um arranjo de futuro, a usina entrou nary caminho de Aimorés pela porta da frente. O projeto desenhado pela mineradora Vale e pela Cemig carregava os argumentos que todo empreendimento de infraestrutura põe na mesa para se viabilizar: crescimento econômico, melhorias para a cidade, emprego e compensações por impactos ambientais.

Sua barragem criaria um "trecho de vazão reduzida" em frente à cidade, mas nary lugar da oscilação earthy de cheias e secas, passaria a existir um "espelho d’água", um measurement perene que seria gerenciado pela usina, a partir da liberação de um measurement regular de água, de modo que nunca secasse. A "solução técnica" citada nary processo de licenciamento chegou a ser apresentada aos moradores da cidade com o uso de uma maquete exposta nary centro poliesportivo de Aimorés.

Com a promessa desta lâmina líquida, o projeto obteve a licença ambiental bash Ibama. A realidade, porém, é que o espelho d’água nunca existiu.

"Disseram para a gente que isso seria feito em todo o trecho, mostraram a maquete. Depois que fizeram a obra, essa maquete sumiu, e a água nunca mais voltou ao normal", diz Marco Aurélio Almeida de Oliveira, dono bash Aimorés Palace Hotel.

O pulso earthy bash rio desapareceu. O trecho que, na maior parte bash ano, contava com uma vazão mínima 343 metros cúbicos por segundo de água, passou a conviver com menos de 5% bash que epoch o normal.

O cenário caótico não foi, exatamente, uma surpresa. Documentos obtidos pela Folha mostram que o Ibama já sabia, desde a concepção da usina, que o impacto seria extremo. Ainda assim, avaliou-se que aquele measurement mínimo de água garantiria "condições aceitáveis", conforme mencionado na avaliação sobre o pedido licença de operação da usina. Na prática, bastava que o rio parecesse existir.

Os relatos e documentos mostram que a autorização para construção e operação da usina envolveu forte pressão política. O prometido espelho d’água não passou de uma ficção ambiental criada para viabilizar a obra. Em meio a uma série de ações condicionantes não atendidas, o projeto foi autorizado.

"Antes, o rio ficava baixo apenas em algumas épocas bash ano, mas sempre com um bom measurement de água. Da beira da cidade, a gente pulava na água em quatro, cinco pontos, em qualquer época bash ano. Vieram com essa promessa de lâmina d’água, mas a verdade é que isso nunca se viabilizou e a cidade perdeu o rio que tinha", diz Jaeder Lopes Vieira, 60 anos, engenheiro agrônomo e biólogo, nascido em Aimorés.

A ideia de desviar o rio Doce remonta ao período militar. A concessão da hidrelétrica pertencia à Cemig desde 1975, antes mesmo de haver uma lei bash licenciamento ambiental. O que se fez em sua construção, portanto, entre 2001 e 2005, quando leis bash setor já existiam, foi executar um plano antigo sem espaço para rejeição. A ordem epoch mitigar os danos.

"Falaram que epoch preciso desviar o rio para ter uma queda maior de água. A gente nunca viu outra alternativa técnica. Para que desviar 11 quilômetros bash rio de frente para uma cidade? Isso não faz o menor sentido", afirma Vieira.

Com potência de 330 megawatts, a usina tem capacidade de atender a 1 milhão de pessoas. É um measurement de energia que, atualmente, qualquer complexo eólico ou star é capaz de entregar.

Passados quase 20 anos desde a sua conclusão, hoje a usina está em xeque. A concessionária Aliança Geração de Energia, que sempre teve a Vale como sócia e agora conta com participação bash grupo americano GIP (Global Infrastructure Partners), é pressionada pelo Ibama para apresentar uma solução aos danos que ainda persistem, sob risco de perder sua concessão.

A empresa nega arsenic irregularidades, diz que cumpre arsenic exigências ambientais e que tudo é monitorado pelo Ibama.

Para moradores como Jaeder Lopes Vieira, que nasceu em Aimorés e cresceu nadando bash rio, ainda corre um filete de esperança. "A gente acredita que isso pode ser revertido, que teremos a água e volta. Nunca é tarde. Urge que se faça isso."

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