Anas al-Sharif usando colete à prova de balas azul com a palavra "PRESS", imprensa, na frente. Ele está parado em frente a destroços em chamas

Crédito, Al Jazeera

Legenda da foto, Anas al-Sharif havia feito uma ampla cobertura jornalística do norte de Gaza, informou a Al Jazeera
    • Author, Amy Walker e Tiffany Wertheimer
    • Role, BBC News
  • Há 15 minutos

Cinco jornalistas da Al Jazeera, incluindo o renomado repórter Anas al-Sharif, foram mortos em um ataque israelense no domingo (10/08) perto do Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, informou a emissora.

Al-Sharif e outro correspondente, Mohammed Qreiqeh, estavam com os cinegrafistas Ibrahim Zaher, Mohammed Noufal e Moamen Aliwa em uma tenda para a imprensa no portão principal do hospital quando esta foi atingida, noticiou a Al Jazeera.

O "assassinato seletivo" foi "mais um ataque flagrante e premeditado à liberdade de imprensa", afirmou a emissora em comunicado.

As Forças de Defesa de Israel (FDI, na sigla em inglês) confirmaram que tinham como alvo Anas al-Sharif, alegando que ele "atuava como líder de uma célula terrorista do Hamas".

Também afirmaram que ele havia "lançado ataques com foguetes contra civis israelenses e tropas das FDI".

O Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ) disse estar estarrecido com o ataque, e que Israel não havia apresentado evidências para respaldar suas alegações contra al-Sharif.

"Este é um padrão que temos visto por parte de Israel — não apenas na guerra atual, mas nas décadas anteriores —, em que normalmente um jornalista é morto pelas forças israelenses e, depois, Israel afirma que ele era um terrorista, mas fornece muito poucas evidências para respaldar essas acusações", afirmou Jodie Ginsberg, CEO do CPJ, à BBC.

O editor-chefe da Al Jazeera, Mohamed Moawad, disse à BBC que al-Sharif era um jornalista credenciado que era "a única voz" para o mundo saber o que estava acontecendo na Faixa de Gaza.

Durante toda a guerra, Israel não permitiu que jornalistas internacionais entrassem em Gaza para cobrir o conflito livremente. Por isso, muitos veículos de comunicação dependem de repórteres locais dentro do território para a cobertura.

"Eles foram atingidos em sua tenda, não estavam fazendo cobertura a partir da linha de frente de combate", observou Moawad sobre o ataque israelense.

"O fato é que o governo israelense quer silenciar a cobertura de qualquer canal de notícias de dentro de Gaza", disse ele ao programa The Newsroom.

"Isso é algo que nunca vi antes na história moderna."

Al-Sharif, de 28 anos, estava aparentemente postando no X (antigo Twitter) momentos antes da sua morte, alertando sobre um intenso bombardeio israelense na Cidade de Gaza. Uma postagem publicada após a notícia do seu falecimento parece ter sido pré-redigida e publicada por um amigo.

Em dois vídeos com imagens fortes gravados na sequência do ataque, confirmados pela BBC Verify, a equipe de checagem da BBC, é possível ver homens carregando os corpos das vítimas.

Alguns gritam o nome de Qreiqeh, e um homem com colete de imprensa diz que um dos corpos é de al-Sharif.

No total, sete pessoas morreram no ataque, segundo a Al Jazeera. A emissora disse inicialmente que quatro de seus funcionários haviam sido mortos, mas atualizou a informação para cinco algumas horas depois.

No mês passado, a Al Jazeera Media Network emitiu uma declaração — assim como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o CPJ, separadamente — alertando que a vida de al-Sharif estava em perigo e pedindo sua proteção.

O porta-voz das FDI, Avichai Adraee, postou um vídeo de al-Sharif no X em julho, e o acusou de ser membro da ala militar do Hamas.

Irene Khan, relatora especial da ONU para a liberdade de expressão, classificou isso como "uma alegação infundada" e um "ataque flagrante a jornalistas".

Na época, ela disse que havia "evidências cada vez maiores de que jornalistas em Gaza estavam sendo alvos e mortos pelo Exército israelense com base em alegações infundadas de que eram terroristas do Hamas".

Alguns homens no que restou da tenda, em meio aos escombros

Crédito, Ebrahim Hajjaj/ Reuters

Legenda da foto, A equipe estava na tenda da Al Jazeera do lado de fora do Hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, no momento do ataque aéreo

Em sua última declaração, as FDI acusaram al-Sharif de se passar por jornalista, e afirmaram ter "divulgado informações de inteligência" anteriormente que confirmavam sua afiliação militar, incluindo "listas de cursos de treinamento terrorista".

Esta não é a primeira vez que as FDI atacam e matam jornalistas da Al Jazeera em Gaza, que alegam estar afiliados ao Hamas.

Em agosto do ano passado, Ismael Al-Ghoul foi atingido por um ataque aéreo enquanto estava sentado em seu carro — um vídeo terrível compartilhado nas redes sociais mostrou seu corpo decapitado. O cinegrafista Rami al-Rifi e um menino que passava de bicicleta também foram mortos.

No caso de al-Ghoul, as FDI afirmaram que ele participou dos ataques do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, uma alegação que a Al Jazeera rejeitou veementemente.

De acordo com o CPJ, 186 jornalistas foram confirmados como mortos desde o início da ofensiva militar de Israel em Gaza, em outubro de 2023.

Para os jornalistas que ainda estão em Gaza, a situação é terrível. Além dos ataques aéreos, há a ameaça da fome.

No mês passado, a BBC e três agências de notícias — Reuters, AP e AFP — emitiram uma declaração conjunta manifestando uma "preocupação desesperadora" com os jornalistas na Faixa de Gaza, que, segundo afirmaram, estão cada vez mais incapazes de alimentar a si mesmos e suas famílias.

Três jornalistas freelancers dos quais a BBC depende para sua cobertura disseram que muitas vezes passam dias sem comer, e um deles desmaiou durante as filmagens.

Mais de 100 organizações internacionais de ajuda humanitária e grupos de direitos humanos alertaram para a fome em massa em Gaza. Israel, no entanto, que controla a entrada de suprimentos de ajuda humanitária em Gaza, acusou as instituições beneficentes de "servir à propaganda do Hamas".

Israel lançou sua ofensiva em resposta ao ataque liderado pelo Hamas ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram levadas como reféns.

Mais de 61 mil pessoas foram mortas em Gaza desde o início da operação militar israelense, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.

Reportagem adicional de Shayan Sardarizadeh e BBC Verify.