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Com recorde de expositores, Agricultura Familiar reafirma força na Expointer

Quem atravessa os corredores sempre cheios do Pavilhão da Agricultura Familiar logo percebe que é ali que pulsa o coração da Expointer. O espaço, há mais de duas décadas consolidado como um dos mais queridos do parque, é um mosaico de aromas, sabores e sotaques que remetem ao interior gaúcho. Cada estande revela histórias de famílias que preservam tradições ao mesmo tempo em que apresentam novidades, atraindo tanto consumidores fiéis quanto curiosos em busca de descobertas. O resultado desse encontro é mais do que simbólico: movimenta a economia do Estado de forma expressiva.

Neste ano, o pavilhão bateu recorde no Parque Assis Brasil, em Esteio: são 456 agroindústrias e empreendimentos parceiros, contra 413 em 2024. A ampliação foi possível graças à reorganização da estrutura, que transferiu as câmaras frias e depósitos para fora, liberando mais espaço para os estandes. O foco era abrigar todos os expositores num momento ainda de recuperação pós-enchente.

Entre as novidades, há 70 estreantes, 68 jovens de até 30 anos e 146 negócios liderados por mulheres. Os números ajudam a traduzir a relevância do setor: mesmo na última edição, que teve público abaixo, a Agricultura Familiar atraiu 662 mil visitantes e movimentou quase R$ 11 milhões em vendas. Agora, a tendência é superar todos os patamares - só no primeiro fim de semana deste ano já foram movimentados R$ 3,04 milhões.

força desse protagonismo se revela em histórias como a de uma agroindústria de embutidos de Fagundes Varela, que participa desde meados de 2005 da feira. “Vendemos salame e copa italiano. O público já conhece a marca, procura direto por ela”, conta Jair Bergamaschi, da Agroindústria que carrega seu sobrenome. Para ele, a Expointer de 2025 já entrou para a lista das maiores da história. “O movimento é impressionante, um dos maiores que já vi. Estava muito, muito cheio", disse enquanto oferecia novas amostras aos visitantes que circulavam pelo estande na manhã desta segunda-feira (1º).

Jair Bergamaschi, de Fagundes Varela, comercializa embutidos na feira desde 20025 | DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC

Jair Bergamaschi, de Fagundes Varela, comercializa embutidos na feira desde 20025 DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC

Nem sempre, porém, público lotado significa vendas proporcionais. Natyara Evaldt, produtora de erva-mate orgânica, cultivada em sistema agroflorestal e colhida pela própria família, avalia que o consumo poderia ter sido maior diante da multidão que tomou conta do parque. “No domingo estava um absurdo de gente, mas isso não significou sacolas cheias. Ainda assim, é sempre positivo, porque a feira abre portas e valoriza nosso trabalho”, disse a representante da Erva Mate Gerações, de Ipê. Ela divide a lida com o namorado, a cunhada e o sogro, mantendo viva uma tradição iniciada pelo avô. Para eles, participar da Expointer não é apenas uma oportunidade de comercialização, mas também uma vitrine que projeta a marca para além do evento.

E a vitrine é justamente o que move a cooperativa Coopernatural, de Picada Café, presente na feira desde 2006. Ao longo de quase duas décadas, a marca construiu uma relação de confiança com os consumidores, conquistando inclusive prêmios por seus sucos orgânicos - em 2023, foi considerado o melhor do Pavilhão. “O mais bacana é que o cliente volta. Quem comprou no ano passado vem de novo, procura pelo produto. A Agricultura Familiar virou um xodó da feira. E isso consolida histórias de quem produz em pequena escala, mas com qualidade reconhecida", celebra Solnara Gehrke.

Se tradição garante fidelidade, a inovação também tem espaço cativo na Expointer. O sucesso mais comentado deste ano é o “Chopp Morango do Amor”, inspirado em uma tendência que viralizou na internet. O sabor leve e adocicado rapidamente caiu no gosto dos visitantes. “Foi disparado o produto mais vendido, seguido do chopp de bergamota. O Trensurb funcionando integralmente fez diferença, trouxe mais gente que consome aqui dentro”, explicou Cleverton Ferigollo, expositor proprietário da Vinícola Ferigollo e da Topa Beer.

Segundo ele, a expectativa é dobrar as vendas em relação a 2024, um reflexo direto da conexão entre criatividade e sintonia com o público. Ao mesmo tempo, no entanto, Ferigollo faz questão de frisar que uma queda de luz no Pavilhão entre o final da manhã e o início da tarde de sábado prejudicou muitas vendas.

Os resultados iniciais confirmam a empolgação dos expositores. Apenas no primeiro fim de semana, o pavilhão movimentou R$ 3,04 milhões, crescimento de 35,43% em relação ao mesmo período do ano passado. No sábado, foram R$ 1,49 milhão; no domingo, R$ 1,55 milhão. As agroindústrias lideraram a arrecadação, seguidas por artesanato, plantas e flores e pelo setor de cozinhas, que também registraram movimento intenso. O desempenho reforça uma tendência de recuperação do setor após a cheia histórica do ano passado.

Para o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos da Silva, a agricultura familiar se tornou o símbolo de aproximação entre cidade e campo dentro da Expointer. “É o espaço mais querido pelo público, o principal atrativo da feira. Este ano o movimento está bem melhor e a expectativa é a melhor possível. É um momento de aproximação em que muitas parcerias surgem e negócios se consolidam mesmo depois que os portões se fecham”, avaliou.

Ele destacou ainda o caráter resiliente dos expositores, que enfrentaram dificuldades após as enchentes de maio. “Muitos tiveram prejuízos, mas foi feito de tudo para garantir a participação de todos os inscritos. A presença aqui é um marco para consolidar a recuperação”, afirmou. Na avaliação do dirigente, a agricultura familiar gaúcha tem um papel cada vez mais estratégico, tanto no abastecimento interno de alimentos quanto na manutenção da vida no campo, especialmente com a entrada de jovens e mulheres no setor.

Esse protagonismo fica evidente ao observar os corredores do pavilhão. Entre bancas de salames, cucas, queijos e licores, cada produto traz uma história de dedicação familiar, de transmissão de saberes de uma geração para outra e de resistência diante das adversidades. A Expointer, nesse sentido, funciona como vitrine e ponto de encontro: consumidores urbanos se conectam a tradições rurais, enquanto pequenos empreendedores encontram oportunidades de expandir seus negócios.

Mais do que os números, é essa ligação simbólica que explica por que o Pavilhão da Agricultura Familiar cresce a cada edição. Em meio ao gigantismo das máquinas agrícolas que dominam a feira, o espaço lembra que a produção em pequena escala também é - e sempre será - vital para a economia e para a cultura gaúcha. 

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