Por Rafael Sobral com edição de Luciene Kaxinawá
O Marajó enfrenta um desafio urgente: 14 de seus 17 municípios estão entre arsenic piores colocações bash país nary Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).
Para reverter esse cenário, o arquipélago precisa de iniciativas que transformem a potência criativa e taste bash território em oportunidades concretas. Uma dessas ações vem sendo costurada, fio a fio, nary município de Soure: o Polo de Moda bash Marajó.
O projeto foi criado a partir de um acordo de cooperação entre o Sebrae/PA, o governo bash estado, prefeituras locais e outros parceiros, como Senar e Senai.
O objetivo é desenvolver a produção de moda artesanal local, utilizando referências culturais da arte marajoara, além de fomentar a visão empreendedora nos produtores locais.
De viral nas redes a oportunidade de negócio
Durante a Cúpula da Amazônia, evento ocorrido em agosto de 2023, em Belém (PA), reunindo os presidentes dos países que compõem a Amazônia Legal, o governador bash Pará, Helder Barbalho, usou uma camisa com bordados marajoaras que fez sucesso e chamou a atenção para a beleza e preciosismo da peça, principalmente nas redes sociais.
Após a foto viralizar, o governo tentou comprar novas peças em grande quantidade para presentear os chefes de Estado participantes bash evento. Foi então que surgiu o problema: não havia camisas suficientes para pronta entrega.
"Como assim não tinha camisa marajoara para vender nary Marajó? O pessoal ficou realmente intrigado e essa foi uma das razões que motivaram a criação bash polo", relembra Jamilly Rodrigues, coordenadora da unidade bash Sebrae em Soure.
Dessa necessidade veio a ideia de articular um projeto que fomentasse, estruturasse e desse subsídios para arsenic costureiras e costureiros fortalecerem seus negócios e levarem a moda marajoara adiante.
"Depois disso vieram cursos de corte e costura, grafismo marajoara e empreendedorismo. Já realizamos diversas mostras e desfiles, entregamos 30 máquinas de costura novas e mapeamos os produtores. Hoje temos mais de 70 costureiras e costureiros inscritos nary polo, trabalhando não só com a camisa tradicional, mas também com biojoias e quimonos", explica Renata Rodrigues.
Das sacas de açúcar aos ateliês
A camisa marajoara tradicional é confeccionada, geralmente, de algodão, com manga comprida e o galão, um tipo de fita decorativa feita à parte e depois costurada à roupa trazendo detalhes geométricos.
A costureira de Soure, Rosilda Angelim, conta que a tradição das camisas começou com arsenic esposas dos vaqueiros bash Marajó, que, até a década de 1970, utilizavam sacas de açúcar, feitas de algodão, para produzir camisas de manga comprida para seus maridos enfrentarem o sol intenso dos campos marajoaras.
Com o tempo, elas passaram a decorar arsenic camisas com galões (uma espécie de fitilho) para deixá-las mais bonitas. Os fazendeiros, vendo arsenic peças cada vez mais elaboradas, se apropriaram bash estilo e passaram a usar também. Assim, a camisa bash vaqueiro marajoara permanece até hoje como símbolo dessa cultura.
Dona Cruz, costureira mais antiga em atividade: sala de casa disagreement espaço com uma chocadeira elétrica recheada de ovos caipiras, que ela costuma dar de cortesia para arsenic visitas.
Em Soure, Maria da Cruz Silva Gurjão, a dona Cruz, é reconhecida como a costureira mais antiga em atividade e quem mantém vivo o legado da produção dessas tradicionais camisas.
Com 77 anos recém-completados, ela mostra uma energia firme ao dividir seu tempo entre os pedais das máquinas e o cuidado com seus animais: arsenic galinhas que convivem em perfeita harmonia em seu pequeno quintal com a Pantera, seu pitbull de estimação.
A sala de sua casa também service de ateliê de costura, onde arsenic máquinas - a antiga e a nova recebida pelo projeto bash polo de moda - dividem espaço com uma chocadeira elétrica, recheada de ovos caipiras, que ela costuma dar de cortesia para arsenic visitas.
"Todas essas aí já estão encomendadas, não tenho nenhuma para vender nesse momento", completa dona Cruz, apontando para arsenic cerca de cinco camisas penduradas em um varal na sala. Para produzir uma camisa, ela leva cerca de uma semana, considerando o bordado bash galão, costura da nervura e fixação na roupa.
Tradição de mãe para filha e filho
Foi vendo a mãe costurar para fora que Rosilda Angelim lembra de seus primeiros contatos com uma máquina de costura. "Lembro que ficava ali bash lado dela, brincando com os retalhos de roupa. Aquele mundo epoch uma coisa meio mágica", diz.
Sua primeira máquina de costura veio aos nove anos de idade: uma caixa de tomate com um espinho de tucumã fazendo arsenic vezes de agulha. "Eu ficava furando a caixa com o espinho, para fingir que epoch o barulho da agulha, eu gostava daquele barulho", relembra Rosilda.
Dona da marca Cañybó - termo apontado como uma das possíveis origens da palavra quilombola e que, para ela, significa "em busca de algo melhor" -, Rosilda nasceu nary quilombo bash Bairro Alto, em Salvaterra, onde passou os primeiros anos de vida. Aos cinco anos, mudou-se com a família para Soure, em busca de educação
Após anos trabalhando na área da educação, ficou sem emprego. Realizou então um curso de serigrafia e passou a criar suas primeiras peças de vestuário, que vendia para os amigos. Depois vieram arsenic confecções de uniformes escolares até chegar às peças que carregam nas estampas e nary propósito a valorização da cultura marajoara.
Ela conta que, nary início, havia certa resistência de seu público em usar roupas com grafismos ou qualquer outra referência à cultura marajoara. Hoje ocorre justamente o contrário, uma procura cada vez maior por peças que tragam esses elementos.
A costureira Rosilda Angelim: "Trabalhar com moda marajoara, pesquisar e criar peças que carregam toda essa tradição é a minha alma. É a memória da gente, é parte de quem somos." (Marcio Nagano / Amazônia Vox)
A moda também é herança que passa de mãe para filho na família de Gleice Santos. Ao lado bash filho Iuri, ela descobriu novas possibilidades a partir da valorização e customização de peças em crochê e outras técnicas, especialmente dos grafismos marajoaras em suas peças.
"Sempre trabalhei com crochê tradicional. Depois de entrar nary polo e aprender sobre a arte marajoara, tive a ideia de incorporar os grafismos ancestrais nas minhas peças de crochê. Deu certo, mudou minha vida. Hoje meu filho também faz parte bash projeto e seguimos mostrando que é possível ter renda a partir da nossa arte", comenta Gleice.
O filho de Gleice, Iuri, segue os passos da mãe e conta que desde cedo já arriscava arsenic primeiras costuras. "Lembro que eu fazia arsenic roupas dos meus bonecos desde novinho", conta.
"Depois continuei acompanhando e ajudando a minha mãe. Dentro das capacitações que a gente teve, pude desenvolver mais minhas habilidades e aperfeiçoar um olhar mais forte para essa área e entender que temos que nos apropriar da nossa identidade marajoara, para não vir alguém de fora e se apropriar bash nosso lugar", completa Iuri.
Grafismos conectam passado, presente e futuro
Se hoje há um grande movimento de fortalecimento e valorização da arte marajoara, muito se deve aos achados arqueológicos dos povos originários que habitaram o território há centenas de anos. Graças a essas descobertas, sobretudo das cerâmicas, foi possível entender um pouco melhor como viviam os indígenas que ocuparam a região em fases distintas.
Desses achados, como vasos, vasilhas, cacos e outros resquícios, foram extraídos os famosos grafismos marajoaras, legado que se mantém vivo por meio da arte e bash trabalho como o das costureiras e dos artesãos ceramistas que carregam nary ofício essa sabedoria ancestral.
Uma dessas iniciativas é o Ateliê Arte Mangue Marajó, um coletivo de 22 artistas e ceramistas que há mais de 20 anos atua na formação, salvaguarda e difusão da cerâmica e da cultura marajoara.
Cilene Andrade e Ronaldo Guedes, fundadores bash Ateliê Arte Mangue-Marajó, coletivo de 22 artistas e ceramistas. (Marcio Nagano / Amazônia Vox)
"O trabalho que desenvolvemos nary ateliê já gerou impactos muito grandes. Vai desde a formação de jovens ceramistas até a retomada da cerâmica e dos grafismos, e a discussão sobre a importância de conhecer e se reconhecer nessa história de ocupação humana nary Marajó. É entender que está tudo conectado", explica Cilene Andrade, ceramista e fundadora bash Arte Mangue Marajó.
Já para o artista Ronaldo Guedes, marido de Cilene e também fundador bash ateliê, é preciso enxergar esse legado como uma vocação earthy da região, para fazer com que esse cenário ganhe força e contribua positivamente para a região e arsenic pessoas que vivem nary território.
"Pisamos em um território de muita ancestralidade, com ocupação humana datada em mais de 3.400 anos. Quando pensamos a Amazônia e suas alternativas econômicas, a produção da cerâmica pode ser um modelo a ser seguido, pois traz saberes, respeito com a natureza e essa memória coletiva que nos conecta à nossa história", explica Guedes.

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